A CAÇA às BRUXAS

O meu gosto pelos animais é proverbial e os que não sabiam de tais afectos, a partir deste momento ficam a reter mais um detalhe dos meus gostos privados. Isso não os aquenta nem arrefenta?! óptimo! Prossigamos então. Quando me refiro a animais, estou a falar dos irracionais e daqueles que são também conhecidos por animais de estimação. Desde que me conheço e até aos dias de hoje, os mais diversos animais domésticos, têm-me feito inestimável companhia e deles tenho até retirado ensinamentos. Todos, à excepção de um gato siamês excepcional e sexualmente activo, que se finou debaixo do rodado de um camião-cisterna de leite condensado quando perseguia uma fêmea, morreram de velhice. Ah! e um piriquito azul-marinho que adorava banhar-se; um belo dia apeteceu-lhe refrescar as patas na água da sanita. Eu que passava ocasionalmente por ali, sem óculos, pareceu-me ver qualquer coisa a boiar e... lá foi uma descarga no autoclismo e o pobre do bicho pelo cano abaixo...
Cães, peixes, uma iguana (que troquei por um lagarto XXL e que morreu no início deste ano, de tristeza que desconheço a causa), uma tartaruga -herança de família (já veio pelo menos dos meus avós) e que me olha como que a querer dizer com os olhos «aqui está mais um que vai marchar à minha frente...». Enfim, um cortejo infindável de simpáticos companheiros de rota.
Todos, de uma forma ou de outra, temos acompanhado a evolução da famigerada pandemia ?! da "gripe das aves" . Uma grande parte da comunicação social ao noticiar o assunto com exagerado dramatismo, tem conseguido fomentar em algumas mentes menos estruturadas, acções descontroladas e lesivas dos interesses dos animais com penas em particular e do cidadão comum em geral. Hoje, pela manhã, o meu vizinho Arnaldo bateu-me à porta e perguntou «O vizinho tem alguma ave em casa?». Respondi-lhe com outra questão «E se tiver, qual é o seu interesse nesse meu pertence?!». Replicou que «Sabe que é preciso cuidado; temos crianças e idosos no prédio. São os primeiros a serem ... ». Fechei-lhe a porta nas ventas, fui à sala e disse ao meu galo Demóstenes «Estás desgraçado amigo! A vizinhança já te tem debaixo d´olho. Como é que preferes? Seres cruxificado pela multidão em fúria ou acabares gloriosamente no tacho num arroz de cabidela?»
Imagem de: Alberto Oliveira