Tuesday, February 27, 2007

OS ANIMAIS VOLTAM A FALAR!

















«Que fazes aqui leãozinho? na obscuridade, mais parecendo que pretendes que ninguém te observe debruçado à janela de um andar tão alto? devo ter chegado a tempo de te impedir de cometer uma loucura!» Isto inquiriu de um fôlego o Superelefante, ainda esfalfado de um voo directo pelos ares e ventos, após ter libertado uma águia de perecer pelo fogo, expelido da boca de um dragão faminto de carne de ave bem tostada. E para ganhar tempo -que o tempo em questões tão delicadas como esta, é de capital importância, foi narrando à fera(?!) este último acontecimento em que se envolvera com assinalável coragem e que será naturalmente desenvolvido nas páginas de uma das edições da "Marvel Comics" (imaginavam que era na "A Bola" ou no "Record", não?!), mas omitindo os pormenores mais dramáticos para não impressionar o leão, ocasionalmente debilitado física e mentalmente. Este, ouviu com atenção e sem interromper (era um leão filho de boas famílias e de melhores educações) o super-herói e replicou fleumática e cortezmente «Agradeço-te a preocupação ó Supertrombas mas não tenciono acabar espapaçado lá em baixo. Este é o meu lugar de retiro, quando as coisas não me correm bem e a altura e a penumbra ajudam-me a reflectir melhor e pelas minhas contas, nem tudo está perdido e ainda tenho algo para ganhar. Agora se não te importas, vou até Alcochete jantar um ensopado de enguias»
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Thursday, February 15, 2007

O EQUÍDEO ESTRAMBÓTICO

















O seu primeiro dono baptizou-o de Ésquilo convicto que estava fadado para grandes voos nos hipódromos internacionais mas cometeu um erro crasso: contratou um jockey de reconhecidos méritos desportivos mas de conhecimentos culturais abaixo da média. Tantas vezes incitou Ésquilo a dar o seu melhor gritando-lhe junto à orelha «Força Esquilo! Vamos Esquilo!» que um belo dia o cavalo -ferido na honra de animal de grande porte, se fartou de ser tratado como o pequeno mamífero roedor e não foi de modas. Depois de dez velozes voltas a um circuito de treinamento, esperou que Jonas Jones (o jockey) desmontasse e com a pata esquerda traseira desferiu-lhe um valente coice na perna direita. Diz o Regulamento Ético Hípico que "jockey com osso partido, deve ser abatido". E assim foi: Jones foi abatido ao efectivo dos montadores de cavalos de corrida mas Ésquilo -por comportamento anti-desportivo, nunca chegou a participar numa prova oficial.
Encontrei-o ontem, num estábulo de uma quinta ali para os lados da Escola Politécnica, vivendo paredes meias com toda a sorte de quinquilharias, dum antiquário que já deve ter conhecido melhores dias. Das pernas, nem pele nem osso; apenas uns tubos metálicos semelhantes aos bastões de esquiar. Um cabo, ligava-o do dorso à corrente eléctrica. Em cima de uma pequena mesa -que não é visível na imagem, um livro: "Prometeu Agrilhoado"...
Lisboa, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
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Breve pausa com regresso previsto para a última semana de Fevereiro. Beijos, abraços, lembranças & recomendações.

Sunday, February 11, 2007

O GOSTO DE GOSTAR

















Tinha uma saudável paixão pela cidade onde nascera. Saudável, porque nunca o ouvi proferir palavras menos elegantes em relação a outras cidades ou em tom de despropositado despique, possuia uma escala pessoal de avaliação de outros centros urbanos que considerava até muito mais interessantes que o seu (mas não tivera a sorte de neles ter nascido... ) e porque (confessou-me um dia), pensava ter a noção da diferença entre uma cidade e uma mulher. A chama dessa paixão nunca estremeceu, apesar dos desmandos urbanísticos que a sua cidade foi sofrendo ao longo dos últimos anos. Óbviamente que não a culpava a ela mas aos homens que tinham outras paixões(?!) diversas das suas. Quem o queria ver, era a percorrer sem descanso, as avenidas, praças, ruas, becos e travessas, observando enternecido os poucos casos, em como as linhas arquitectónicas da modernidade se podiam ligar de facto e perfeitamente, com a traça urbana de outros tempos e, desalentado por constatar que o casamento contra-natura do pretenciosismo bacoco com a construção a esmo, apadrinhado por interesses pouco claros (uma forma simpática de escrever corrupção), se sobrepunha aos outros.
Entrou na taberna de esquina -uma das últimas casas do género na cidade (por sinal a necessitar de uma boa limpeza geral) e pediu um pastel de bacalhau e um copo de vinho tinto da casa. O homem por detrás do balcão franziu o sobrolho e respondeu: «Pastéis só de esturjão e o vinho pode ser um Touriga da região demarcada do Dão, 2003?»
Lisboa, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Wednesday, February 07, 2007

O ESTRANHO CASO DO CÃO QUE MIAVA

















Ele há factos tão estranhos, que se relatados por outrém, a primeira frase que de imediato nos salta da boca para fora é o inevitável "pode lá ser!". Embora protestando a enorme confiança que invariavelmente nos merecem os nossos relatores de casos impossíveis, a verdade é que estamos a pôr em causa a sua idoneidade ou, no mínimo, apelidá-los de mentirosos compulsivos. Isto vale, para familiares, amigos e conhecidos, que o que não é comum aos nossos olhos, também não o há-de ser para os olhos dos outros. Ressalvo em tempo, os denominados milagres da fé (de qualquer fé ou crença) e as visitas de seres de outros planetas ao planeta Terra. São duas classes de casos não comuns mas que, dos mesmos fazer prova científica não é tarefa fácil e que resultam -na minha humilde opinião, da enormíssima e justíssima vontade de alguns, em pretenderem a justa distribuição de riqueza para todos (a multiplicação dos pães e dos peixes) e de outros que anseiam (uma vez que o propalado homem novo demora tanto a acontecer), que venham outros -mais ou menos à sua imagem, de outros mundos para dar uma mãozinha neste.
Esta tarde, numa conhecida artéria lisboeta, cruzei-me com um homem que levava um cão pela trela. Se tiverem alguma dificuldade acompanhar o meu relato, vejam a imagem com atenção. Primeiro passou o homem e um metro e meio depois, o cão. Este, ao passar miou. Exactamente como leram: miou. A imagem não mostra o cão a miar, mas demonstra que é verdade haver distância entre o homem e o animal. O exemplo acabado do caso incomum e a oportunidade que têm para me chamarem mentiroso. A uma das mulheres que passaram depois de mim, perguntei se não achavam estranho um gato a ladrar. Respondeu-me com naturalidade que «... surpreendente seria o elefante que levava o papagaio pela trela, ter acabado de ver um filme no cinema King... »
Lisboa, 2007. texto e foto de Alberto Oliveira.

Friday, February 02, 2007

É LÍQUIDO ...

















... e não oferece dúvidas que o Tejo é um rio, um rio tem água, a água dum rio é doce, o doce não amarga, amarga pode ser a amêndoa, amêndoas oferecem-se na Páscoa, a Páscoa ainda vem longe, longe não é nada perto, perto é ao pé de mim, mim Legível tu leitor, leitor da água que consumimos, consumimos até o que não precisamos de consumir e mais alguma coisa, coisas há muitas, muitas são as opções para sair do raio deste texto mas isto mais parece um labirinto, labiríntico pode ser o caminho da verdade, a verdade é muito mais incómoda que a mentira, a mentira é uma indústria próspera, próspera era a minha tia Henriqueta e no testamento esqueceu-se?! do meu nome, nome todos têm, mas alguns de tão horrorosos metem dó, dó, ré, mi,fá, só, só morreu o meu tio Gurmecindo que devido ao nome nenhuma mulher o quis para casar, casar é um acto que merece alguma reflexão, a reflexão exagerada conduz à inactividade, a inactividade é inimiga do trabalho, o trabalho é algo que todos pretendemos, mas quando o conseguimos logo clamamos por férias, férias são espaços de tempo em que perdemos tempo a contar quantos dias faltam para elas acabarem, acabar é o que vou fazer que o barco acaba de chegar a Cacilhas.
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.