Thursday, February 15, 2007

O EQUÍDEO ESTRAMBÓTICO

















O seu primeiro dono baptizou-o de Ésquilo convicto que estava fadado para grandes voos nos hipódromos internacionais mas cometeu um erro crasso: contratou um jockey de reconhecidos méritos desportivos mas de conhecimentos culturais abaixo da média. Tantas vezes incitou Ésquilo a dar o seu melhor gritando-lhe junto à orelha «Força Esquilo! Vamos Esquilo!» que um belo dia o cavalo -ferido na honra de animal de grande porte, se fartou de ser tratado como o pequeno mamífero roedor e não foi de modas. Depois de dez velozes voltas a um circuito de treinamento, esperou que Jonas Jones (o jockey) desmontasse e com a pata esquerda traseira desferiu-lhe um valente coice na perna direita. Diz o Regulamento Ético Hípico que "jockey com osso partido, deve ser abatido". E assim foi: Jones foi abatido ao efectivo dos montadores de cavalos de corrida mas Ésquilo -por comportamento anti-desportivo, nunca chegou a participar numa prova oficial.
Encontrei-o ontem, num estábulo de uma quinta ali para os lados da Escola Politécnica, vivendo paredes meias com toda a sorte de quinquilharias, dum antiquário que já deve ter conhecido melhores dias. Das pernas, nem pele nem osso; apenas uns tubos metálicos semelhantes aos bastões de esquiar. Um cabo, ligava-o do dorso à corrente eléctrica. Em cima de uma pequena mesa -que não é visível na imagem, um livro: "Prometeu Agrilhoado"...
Lisboa, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
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Breve pausa com regresso previsto para a última semana de Fevereiro. Beijos, abraços, lembranças & recomendações.

41 Comments:

Anonymous Anonymous said...

primeiríssima candidata ao passeio equestre. fique vocemessê (é assim que se escreve?) sabendo que sou uma amazona de nível. quem vier a seguir, é favor fazer fila ;) boa noite, legível. e obrigada pela tua visita. beijinho muito grande.

15/2/07 23:31  
Blogger Rui said...

Bartolomeu andava na volta das sextas-feiras: colar nas portas alheias, autocolantes da empresa de desentupimentos de Custódio, seu cunhado. Às segundas e quartas, distribuía folhetos de hipermercado e às terças e quintas, folhetos de viagens da conceituada agência de viagens Mister Charly (aquela que oferece duas fatias finas de broa com azeitonas para o lanche; vá, e uma malga de caldo verde, o que, por 5€, até nem está mal, tendo em conta que o baile está incluído). Aos fins de semana, vendia cavacas das caldas à porta dos fofos de Belas - "quem leva um doce regional, leva dois", era o seu lema.
Andava ele a prometer canos desobstruídos para o lado da Procuradoria Geral da República, quando a viu. Ficou embasbacado, nunca tinha posto os olhos em tal.
É linda... como se chamará? que linhas, que formas... será tristeza que lhe adivinho no olhar? que serenidade... aposto que gostava do campo, de andar por entre as searas, correndo em liberdade, sentindo o vento no rosto... que caminhos a terão trazido aqui? o destino... sim, talvez seja isso...
Bartolomeu tinha-se apaixonado pela menina do quadro. Depois passou-lhe e foi afixar autocolantes que prometiam canos desobstruídos...

Ésquilo, que tinha topado a cena pelo canto do olho, relinchou para o seu amigo Prometeu: - Tu viste a cena?
- Ya meu, ele há cada bronco.
- Mas ias a contar-me como é que fanaste a caixa de fósforos ao Zeus...
- Ouve, foi altamente. Estava eu sem nada pra fazer e pensei, "vou melgar o Zeus" e vai daí dei corda aos calcantes e...

(o resto é mitologia)

16/2/07 00:00  
Blogger Fortunata Godinho said...

Tu és... Fantástico. És o Peter Pan do dia-a-dia. Como é que consegues? Como? E digo eu que tenho "uma imaginação..." Tenho, mas não para estas coisas maravilhosas que és capaz de ver e ecrever. Os teus textos são verdadeiras pérolas - no real sentido da palavra!
ADOREI.

16/2/07 09:45  
Blogger robina said...

Quando os teus inúmeros afazeres assim o permitirem passa lá pelo Bosque para provares a tua máscara :-))

16/2/07 09:46  
Blogger Teresa Durães said...

(ó Rui,o resto não é mitologia!)

... a propósito de se lembrar dos fósforos, Ésquilo desiquilibrou-se de propósito largando uma faísca, o livro ardeu libertando finalmente Prometeu do seu castigo eterno, e em terrível vigança este procurou duas pranchas de snowboard, libertou o esquelético cavalo...

... e numa assentada só procuraram vingança completa, desceram a encosta das montanhas geladas (que tão convenientemente apareceram à porta do estábulo) e desta vez não fanaram os fósforos, mas antes o isqueiro!!!

16/2/07 10:52  
Blogger Cusco said...

Bom-dia. Belo texto, muito bem imaginado sim senhor.
Quanto a mim, e acho que devo ser o único dos teus leitores que desconhece quem foi o “Prometeu Agrilhoado” aproveitei e fui ler o resumo da lenda/história. E outra coisa também: fui ao dicionário ver o significado de Estrambótico. Só por isso obrigado pois já enriqueci mais um pouco a minha pequena biblioteca ambulante.

Até breve
SE DEUS QUISER

16/2/07 12:22  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para cusco

Este diálogo informal que vamos travando, pode ter essa vantagem: de nos remeter para o que desconhecemos. Acontece também comigo. E até na laboração dos posts que edito, quantas vezes não preciso de me documentar.
Não serás decerto o único a não saber. Mas deves ser dos raros a admiti-lo. E isso é muito bom.

Até breve.

16/2/07 12:41  
Blogger poca said...

lembro-me de ter um cavalinho de madeira quando era miúda... adorava...
tal como adoro hoje.. deixar o cavalo solto e... galopar à beira mar..
se houver algum passeio cá por baixo contem comigo!

16/2/07 15:57  
Blogger Licínia Quitério said...

E eu ue inha rometi o a rilhoa -t ao avali ho strop ado e ão onsigo ue a et hoj ai-s a aixo onst nte ent . ue Z us me va ha!

eiji hos.

16/2/07 15:59  
Blogger tb said...

As histórias que tu tiras da cartola, que é como quem diz, inventas do nada e que me divertem tanto.
Obrigada pelo teu poema :)
beijinhos

16/2/07 18:15  
Blogger SMA said...

Diga-se de passagem que também ficaria muito chateada com o nome Esquilo... porque entre um mamífero de pequeno porte e de uma ansiedade elevada, e um mestre da tragédia, seria difícil de optar. É verdade que um mestre é sempre um mestre, principalmente se este é um poeta...
Mas Esquilo (o cavalo) conseguiu fugir à fama do primeiro, mas não ao fatalismo, escrito tantas vezes pelo segundo. Será que estamos assim escritos?

Bonito texto...

Bjo carinhoso

16/2/07 19:22  
Blogger Bernardo Kolbl said...

Complicado. Boa noite e boa semana, um fim dela, apenas.

16/2/07 21:22  
Blogger Luna said...

Cavalinhos como estes, tambem fizeram os sonhos e alegrias de muitas crianças
beijokas

16/2/07 23:04  
Blogger bettips said...

Delícias de ler. Quando editas o "livrinho vermelho"? Só pode, esta ironia ... Achei piada ao cavalo antigo, do Ésquilo tinha uma ideia. Mas ainda assim, o que me remete para um romance de capa e espada, é a menina do quadro atrás do cavalo... Abç

17/2/07 01:30  
Blogger Nia said...

Prometeu prometeu e cumpriu...cavalito no esquecimento.Mas olha...quando vinha para aqui, encontrei o Zorro que, embora tenha a mania de se esconder atrás daquela horrorosa máscara, hoje me prometeu (outro Prometeu?)desencalhar o tal cavalito de que falaste,(ajudado claro está pela Fada Sininho)e fazer dele um cavalito herói-por-vontade porque, é um facto:nem o mais rastejante dos mortais deve levar uma vida de humilhações sem se revoltar.E foi o que ele fez quando desferiu o tal coice.Foi o que ele fez, estás a ver?

17/2/07 15:11  
Blogger Unknown said...

Neste momento, já estou com o sorriso subtil e teimoso que me acompanha desde que começo a ler os contributos do Legível. Acho que acontece enquanto tento resolver o enigma "como é que ele é capaz?" e vai passando da face para o pensamento à medida que percebo que talvez seja um dom... e os dons não se explicam! Acho que acontece pela enorme admiração que sinto pela qualidade, ironia e poder da sua escrita.

Obrigada!

17/2/07 16:04  
Blogger PintoRibeiro said...

Pois, Prometeu. Bom fim de semana.

17/2/07 18:39  
Blogger Passageiro do Tempo said...

Um delicioso texto.... talvez Ésquilo escreva um dia as suas memórias....

17/2/07 20:32  
Blogger Maite said...

Caro Legível

A sua objectiva apanhou-o com um ar estrambótico, de facto. Resultado de tantas desventuras, só pode. (tão bem contadas pelo Legível)

Tenha um excelente fim de semana

17/2/07 22:35  
Blogger Kalinka said...

A vida é só uma…breve ou longa, é uma incógnita!
Numa de minhas imagens recentes, mostro uma espécie de relógio que significa o «tempo», e ele é muito importante em todas as vidas. Perseguir e alcançar a felicidade é o sonho humano mais desejado, pois todos temos direito a um quinhão de felicidade.
Partilha comigo esta busca, perseguindo também a Felicidade.

Lamento não poder visitar este lindo espaço (blog) durante a semana, mas, a promessa de cá vir ao fim de semana mantenho-a.

Beijokas.

ADORO LER-TE. Parabéns.

BOM CARNAVAL.

18/2/07 11:23  
Blogger passarola said...

pobre ésquilo.. agora que tem o jockey com os conhecimentos culturais certos.. não tem pernas para correr.. A sorte dele é que o jockey não tem só conhecimentos mas tb imaginação qb para o pôr a voar... :) uma boa semana!!

18/2/07 20:14  
Blogger A. said...

...e fica então um beijo.






e o nosso/meu até breve breve Al.
sempre em tons.claros.de azul.

19/2/07 14:38  
Blogger Maria P. said...

Então em pausa...ok, eu espero!


Beijinnhos*

19/2/07 19:32  
Blogger Sea said...

beijos e abraços, até esse semana de Fevereiro. Com eqídeos, de preferência :D
como eu gosto desses animaizinhos :)

19/2/07 20:37  
Blogger Joana said...

Mas agora que juntou uns trocos vai à sô dona Julia Pinheiro e com a "Ajuda do Sô Doutor", vai fazer uma remodelação!
Em breve poderemos encontrá-lo à porta do café da dona Rosário, plastificado e relusente e com banda sonora e tudo!
Ora põe a moedinha de um aéreo e escuta lá: "I hope, I hope, parara-tchim-pum, parara-tchim-pum, I hope, I hope, I hope, I hope!"

19/2/07 22:55  
Blogger augustoM said...

Percebi! O Esquilo é um cavalo de Carnaval.
Um abraço. Augusto

20/2/07 18:50  
Blogger Licínia Quitério said...

Então cá fico à espera. Volta bem que fazes mesmo falta.

Beijinhos.

20/2/07 20:32  
Blogger JPD said...

E, apesar disso, não perdeu a altivez!

Boa pausa.

Um abração

20/2/07 22:26  
Blogger bettips said...

Numa alegre quadra em que podias usar toda a "fantasia"...vais-te! O melhor, no regresso, vão ser os cantos que nos vais mostrar. Ansiosamente, me subscrevo.
Bjinho

20/2/07 23:25  
Blogger esse said...

A emoção era tanta...claro que o libertei imediatamente daquela falsa luz e o ajudei a regressar à claridade do dia...não foi nada fácil, devo confessar...mas quem anda por amor não cansa. O espantoso é que no momento em que lhe retirava aqueles fios eléctricos que o aprisionavam à escuridão, descobri uma porta secreta, do lado esquerdo do seu ventre, que se abriu após uma breve pressão...ali estavam, agrilhoados, todos os procedimentos para a reforma da Educação... ali, priosioneiros há tantos anos! Senti que havia chegado a hora! Telefonei ao Zé a dar-lhe a novidade..."a reforma da Educação Zé, com que todos nós sonhamos, está aqui na minha mão...não, não, só da educação, não, das finanças não, eu vi bem, não havia mais nenhuma...o quê?!! Rasgo a ...não interessa para nada ... e os nossos filhos, Zé, o que fazemos aos nossos...?Rasgo... não, dinheiro não vi... só a da educação... não interessa?Pois... claro ... percebi... mas não achas que poderia ser um bom investimento?Não...agora não...e como será amanhã Zé, como será?"

21/2/07 11:08  
Blogger Maria Liberdade said...

Boa pausa e cuidado par o Pesago não ir muito depressa!

21/2/07 12:05  
Blogger Poetas Almadenses said...

Obrigada pela visita. E parabéns pelo excelente blog.
Ficamos à espera que passes pela próxima sessão de Poesia Vadia: é já no sábado que vem (dia 24).
Saudações poéticas.

22/2/07 00:12  
Blogger APC said...

Prometeus desmotes! :-)

E tu, Hércules, porque não o libertaste? :-P

Ah, como é bom ler-te!!!...
:-)))

Olha, um abraço, bale?

22/2/07 02:07  
Anonymous Anonymous said...

Eu tive um cavalinho destes.
Espero que regresses depressa. Faz-me falta a tua boa disposição.
enfim...

22/2/07 20:51  
Anonymous Anonymous said...

breve pausa? então, mas já passou tanto tempo. favor regressar, sim? beijinho grande e bom fim de semana *

23/2/07 19:35  
Blogger Pepe Luigi said...

Extraordinária narrativa de uma real ficção.
Parabéns pelo teu peculiar modo de escrita.


Obrigado por teres passado pelo meu sinestesia-crepuscular.

Um abraço.

24/2/07 11:50  
Blogger PintoRibeiro said...

Bfsemana, sem sobretudo. Abraço.

24/2/07 19:03  
Blogger segurademim said...

levantou-se devagarinho, ensonado olhou à volta pensando que o dia ia ser longo, havia tanto para fazer...

lavou-se sumariamente, vestiu-se e foi até ao café da esquina, a Cister, olhou em volta à espera de encontrar uma ideia, algo que lhe apontasse o rumo a seguir

-ÓH Zé, chamou, diz me lá quando fizeste as obras aqui do estabelecimento, por onde começaste?
o outro olhou para ele admirado com a pergunta, estaria a brincar? fitou-o nos olhos e retorquiu: - mas afinal onde é que queres chegar?

éh pá, a porta está velha e desengonçada, mas francamente digo-te, sei lá se as paredes e o chão são dignos das preciosidades que guardam

aí é que o Zé o interrompeu - Óh Mário, tu tem mas é cuidado contigo que ainda chamo a emergência médica

atacou a torrada e o galão e ficou calado a manhã inteira

25/2/07 09:31  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Legível

Fiquei encantada com a tua imaginação

Excelente texto

Beijinhos com carinho

25/2/07 21:05  
Blogger isabel mendes ferreira said...

beijo.




como quem "volteia"...

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25/2/07 23:07  
Blogger rach. said...

o meu cavalinho chama-se Pégaso e acaba de entrar em casa. Pendurou as asas e...foi-se deitar

27/2/07 01:16  

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