Tuesday, November 29, 2005

O CRIME não COMPENSA



















O meu Lé pediu-me (ele que nunca me costuma pedir nada...), um grande favor. Se eu não me importava de escrever o poste de hoje porque não se sentia muito famoso. Isto deve mesmo andar a dar-lhe volta à cabeça, pois se hoje não se sente famoso nos outros dias ele é famoso?!. Para o descansar disse-lhe que sim, que não se preocupasse que eu faria os possíveis por dar o meu melhor, apesar de não saber exactamente onde e quando se situa o meu melhor e para mais nestas coisas da escrita... coisa a que nunca me devotei, tirando as cartas comerciais por obrigação laboral e que já têm a papinha toda feita, que quem escreve uma escreve todas. Já na escola, escrever era a minha matação. Mas agora reparo: isto aqui até é fixe! Uma pessoa não tem ninguém à perna nem a espreitar por cima do ombro como o é o caso do gerente do banco onde trabalho. Pára de mansinho, ele e o odor à distância do cerruti image e confere o que se passa no ecran do meu monitor, o desconfiadão! E quase sem dar por isso, já escrevi qualquer coisa mas agora tenho um problema: não sei o que hei-de escrever mais...
... talvez (sem saber se isso interessa muito a quem por aqui anda), confidenciar-lhes que ando muito, muito entusiasmada a ler um livro sobre... serial killers! Nem mais; do Jack Estripador, passando pelo Albert Fish, Jeffrey Dahmer até ao Charles Mason. Os crimes horrorosos cometidos por essa gente, estão tão bem narrados que chego a ter pesadelos à noite. E no sábado aconteceu-me um episódio que também tem a ver com o assunto, de tão embrenhada me sinto com a obra. Fui ao mercado como é costume e na banca do peixe, pedi à Odete «Dê-me aquele pedaço de anca da mulher que foi assassinada e esquartejada hoje de madrugada em Alcântara. Sim mulher, esse pedaço ainda a escorrer sangue quente, que está entre os besugos e as pescadas!» e só então reparei que a Odete, guineense de gema, ia ficando branca...branca...
A Mais-que-tudo do Lé
Foto de : Alberto Oliveira.

Sunday, November 27, 2005

RETRATO com PAISAGEM ao FUNDO



















Hoje voltou a aparecer depois de um longo período sem dele ter notícias . As suas visitas são sempre inesperadas -porque não fala, só por milagre se poderia anunciar préviamente e eu , bem ciente disso, recebo-o com a simpatia costumeira, mandando às urtigas a descortesia forçada. Ainda a manhã era uma jovem, quando ouvi no vidro da janela do quarto, umas bicadas familiares. Afastei o cortinado e lá estava ele; pareceu-me bem de saúde mas de fisionomia mais carregada que o habitual. Pelo imponderavel oral já referido, não me atrevi a questioná-lo sobre a razão de tal semblante; fiz-lhe um sinal com a mão que significava «Espera aí que já venho trazer o que pretendes» e fui à despensa buscar o pacotinho de milho. Abri o vidro da janela (estava um frio dos diabos! e as nuvens carregadas de chuva...) e espalhei no parapeito um punhado de grãos. Para meu espanto, não lhes tocou...
... ao contrário, manteve-se hirto, fitando-me com um olhar inexpressivo e quase me dando a sensação (juro!) que estava a fazer pose, o despodurado do pombo! Não pensei duas vezes; "pois se é isso que queres... ". Corri a munir-me da câmera fotográfica e fui-lhe dando indicações (gestuais, claro...) para se posicionar no melhor ângulo para que o retrato saisse alguma coisa de jeito. Garanto que não foi um espectáculo bonito de se ver; a breve trecho, já não chegavam os gestos, pois berrava com a pobre da ave que saltitava de um lado para o outro, às vozes de «Mais para a direita, que fico sem ver os carros a esmo na rua!», «Baixa a cabeça um pouco, não me tapes as nuvens!». Foi uma sessão e tanto! Cansado, o pombo comeu finalmente o milho, despediu-se com um bater de asas um tudo nada barulhento e eu meti-me novamenta na cama. Mas esta foto está um espanto!, digam lá o que quiserem. O bicho até parece que sai da imagem!
Foto de : Alberto Oliveira.

Thursday, November 24, 2005

OS DIAS NÃO SÃO TODOS IGUAIS



E ainda bem que não são por causa dessa história a que chamam monotonia. Lembram-se que ainda ontem e ante-ontem e nos dias anteriores choveu a potes e quando não era a potes a água caia muito certinha sem parança que é a pior das chuvas; não faz intervalo para um cidadão dar uma corrida para um abrigo de jeito. E de um momento para o outro, o golpe de asa da mágica natureza: o dia de hoje, fantástico de sol aberto!... pelo menos aqui para as minhas bandas. Mas certo, certo, é que eu até gosto de chuva e não me enervo ou entro em parafuso, se me cairem uns pingos na cabeça ou na indumentária. O que na realidade detesto -e aí sim, vou aos arames, é do estado em que se encontram os passeios da maior parte das ruas da Grande Lisboa de tal modo, que à cautela, se vamos andar a pé em dia de água certa, o mais avisado será levar um mapa com os incidentes de terreno, assinalados em levantamento efectuado antes com bom tempo, não vá o diabo tecê-las.

Isso leva-me ao outro aspecto da questão e de que hoje me propus escrever; o modo como se tecem e entrelaçam as realidades e os imaginários que vamos construindo em nosso redor, segundo-a-segundo e a maioria das vezes sem darmos conta de tais empreendimentos uma vez que os nossos sentidos, de um modo geral, estão mais apostados no imediatismo da imagem e da oralidade que na pausa -por breves minutos que seja, para reflectir.

Hoje, logo pela manhã, a minha-mais-que-tudo (há uns tempos que a não trazia aqui, à colação, eu sei... mas ela nunca gostou de se ver nas bocas do mundo e está-me sempre a repetir «Estou careca de te dizer que não quero que me cites nessa coisa horrorosa do bilogue que ainda para mais é lido por milhares de pessoas e elas a saberem das nossas intimidades! Que coisa!!» ), levantou-se, vestiu o roupão-azul-celeste-argentino, foi à varanda e não tinha passado um segundo quando me gritou «Anda cá Lé! Anda ver uma coisa que aconteceu na rua!!». Estremunhado, mal acordado de um sono que devia ter continuado por mais umas horas, pensei de imediato "mais um gajo que ficou debaixo do combóio, está visto!", que o combóio passa mesmo aqui ao pé da porta e às vezes até dá vontade de o apanhar em andamento, mas não senhor; a estação dista da casa cerca de dois quilómetros!. Levantei-me a contragosto... mas levantei-me e lá fui à varanda.

A minha-mais-que-tudo tinha razão. Para a esquerda, em direcção ao mar, a rua estava dividida em duas partes distintas; numa, lá estavam as casas a carecerem de pintura, os carros estacionados em cima dos passeios (com buracos e pedras soltas), os contentores do lixo bem abertos e os remendos no asfalto irregular. Na outra, só havia o traço e a cor (predominantemente azul) e as malhas que alguém teceu, numa paisagem-contraponto à da realidade urbana. Eu vi. E a foto está aí.

Óleo e fotografia de: Alberto Oliveira.


Monday, November 21, 2005

VIVER nas NÚVENS



















"Fulano anda (ou vive), nas núvens", ouve-se dizer com frequência daqueles que não tomam atenção ao que se lhes diz ou ao que fazem. Felizmente não é dessa desatenção ou desatino que trata o texto de hoje, por um lado porque se refere à minha pessoa (sim, podem dizer abertamente aquilo que pensam; "que este blog é editado por um sujeito que talvez até se chame Narciso"... ), logo, não será suposto autocriticar-me tão aereamente, por outro, porque quando no caso vertente se fala de núvens, não é em sentido figurado.
Vivo de facto acima das núvens e a prova disso é a imagem que aqui se apresenta. Para defesa de interesses pessoais e privados de variada ordem (os de carácter autárquico aparecem logo na primeira linha de preocupações), não incorro na ingenuidade de vos exibir "por inteiro" o andar onde vivo, pois seria rapidamente detectável. No entanto, à direita da foto distingue-se parcial e perfeitamente o "guarda-estendal-de-roupa" da janela de uma das divisões. E sem qualquer manipulação fotográfica, verificam que esse elemento está acima das núvens; que é como quem diz, acima de qualquer suspeita.
Numa primeira abordagem -mais tarde relatarei com mais tempo e detalhe como é viver acima das núvens, garanto-vos que isto por aqui é um paraíso. Não há veículos motorizados (nem dos outros), a pressão de se chegar a horas ao emprego não existe, porque não existem relógios nem... empregos; um pouco à semelhança do que se passa aí mais abaixo e, surpreendentemente, pelo menos desde que cá me instalei, ainda não ouvi falar da gripe das aves, do défice ou das eleições presidenciais. Ah!; vieram comigo as bananas e as maçãs do texto anterior. Mortas mas ainda aceitáveis para uma salada de frutas.
Foto de: Alberto Oliveira.

Friday, November 18, 2005

SEM TÍTULO
























Detesto os títulos "Sem título". Pela omissão descarada, argumentando que a interpretação da obra cabe, em última instância, a quem a aprecia. Por não revelarem um pouco que seja, do produto colocado à frente do nariz do cidadão desprevenido, que começa logo por se interrogar descoroçoado «O que é que o homem quer dizer com isto?!» e quem sabe, sempre que se falar em arte, ligue para o melhor restaurante da cidade a marcar um jantar de arromba! Porque um texto "Sem título" vale o mesmo que um chouriço sem código de barras e revela as múltiplas fragilidades criativas do autor que se utiliza de má-fé deste expediente, para não perder mais tempo com o assunto.
Lamentavelmente, sou por uma vez, forçado a socorrer-me deste nefasto título mas por uma razão que considero válida; não posso com naturezas mortas .
Instalação(?!) e foto de: Alberto Oliveira.

Tuesday, November 15, 2005

A ABERTURA



















Até parece que estou a ouvi-los «Que coisa se lhe meteu na cabeça -com uma paisagem tão boa para descansar a vista, preencher mais de metade da imagem com aquela estrutura de côr baça, metalicamente suja e até com alguns pontos de ferrugem?»
Ó meus caríssimos amigos! Descansem que não chego a ponto de vos argumentar que "a arte não se explica; produz-se e sente-se... ou não". Aí já vos tinha à perna a ripostar inquirindo «E não se discute?!» ; e lá estava eu metido numa alhada das antigas! Não. Não vou por aí, até porque desejo manter a vossa prestimosa colaboração crítica, também ela, um simpático método de melhorar o trabalho que vos vou apresentando regularmente.
Ao contrário da imagem do post anterior, não permiti que alguém se metesse à frente da objectiva. Com algum custo, devo confessá-lo, que andava por ali nas redondezas, um helicóptero a esvoaçar. Só ao fim do terceiro sinal com a mão é que o piloto percebeu que não o queria na fotografia... Não sei se já perceberam as voltas que estou a dar até chegar ao cerne da questão... a ver se os distraio. Mas prontos; vamos lá arrumar o assunto.
Se me limitasse a captar a paisagem?! o que teríamos nós aqui? Uma graciosa, contemplativa e sedutora imagem que arrancaria lágrimas aos mais emotivos, sorrisos ternurentos aos amigos do ambiente e alguma euforia (contida) dos coleccionadores de postais ilustrados. E vocês acham que eu me contentava com isso?! Ná! Esta imagem, é a minha representação, possível no momento, da realidade. Que não é constituida apenas pelo mais simpático aos nossos olhos. O outro lado da questão também cá mora.
Foto de: Alberto Oliveira.

Saturday, November 12, 2005

O QUE o OLHAR PERMITE



















No momento em que pressionei o obturador da câmara fotográfica, eu não sabia nada sobre a pessoa que aparece na imagem e tenho agora a possibilidade de observar com maior amplitude que antes o visor da da máquina não me permitia. Que ficou na história desta fotografia acidentalmente, porque a ideia original era a de registar apenas a paisagem urbana sem gente lá dentro, mas a pessoa saiu da minha rectaguarda iniciando a subida e só dei por ela "dentro da câmara" . Uma vez que se tinha instalado optei por a deixar ficar, até atingir o topo da escadaria.
É uma mulher, que a configuração física assim o faz supor que seja, entre os sessenta e tais e os setenta e poucos, porque o trajar e a necessidade de se socorrer do corrimão para vencer os últimos degraus, o deixa adivinhar. É uma cidadã anónima -não porque o rosto esteja voltado para o lado de lá da imagem; o facto de levar uma mala de mão, sugere não ter ido às compras mas que vá (ou regresse...), de uma visita a um familiar ou amigo. Provavelmente vive só; talvez tenha enviuvado recentemente. Por regra, as pessoas destas idades gostam de se sentir acompanhadas até por uma questão de segurança; de outras razões não quero especular, uma vez que se sugere as mais das vezes, que o hábito tem mais peso que o amor... ou a amizade.
Termino este texto tal como o comecei. Continuo sem saber nada desta mulher. Apenas fiz suposições sobre a sua pessoa Porque ela, embora tenha deixado aqui impressa a sua figura, o corpo passou-o para o outro lado da imagem. O lado inevitavel da vida; até um dia.
Foto de : Alberto Oliveira
Última hora: Acabei de receber um e-mail dum tal Emanuel Ribeiro, pensionista da Marinha de Guerra Portuguesa. Indignado, informa que a figura fotografada e citada neste post é a dele próprio. Estou siderado e... inconformado. Como é possível o homem reconhecer-se tão bem de costas e... tramar-me a escrita?!

Wednesday, November 09, 2005

HISTÓRIA ANTIGA
























Em tempos, escrevi um texto para a tela cuja imagem acima se edita. Porque era uma história despojada de qualquer sinal de alegria, aliás como o título da obra sugere ( "História triste de uma camisa que nunca saiu à rua"), hoje lembrei-me de a trazer de novo à colação -à camisa, que as histórias nunca as repito, dando-lhe um tom mais vivaz e se possível um sorriso de ponta-à-ponta do colarinho. A ideia é essa, a disposição é a melhor, vejamos como me safo após os parágrafos seguintes.
Esta camisa, comprei-a há uns largos anos atrás, na Rua Augusta e custou-me uma pipa de massa. No momento em que a vi na montra foi como se ela falasse comigo «Anda cá que eu sei que sou linda e se quiseres posso ser tua!» Não resisti à provocação e levei-a comigo. Mas prometi a mim próprio que apenas a havia de vestir quando me casasse. Porque era de facto uma camisa muito especial; dava gosto (e gozo) meter-lhe os botões pelas casas adentro ou afagar-lhe os punhos e o tecido (uma qualidade de seda extraordinária) parecia ter vida própria. Metia-a numa gaveta do guarda-fato e esperei que a minha história de vida andasse mais para a frente.
Passados meia-dúzia de anos casei-me. Um amigo ofereceu-me uma camisa e fez questão que a estreasse no dia do casamento. Claro que não iria explicar ao meu amigo que tinha uma outra camisa guardada para esta ocasião há tanto tempo. No mínimo pensaria que eu antes de casar devia ter passado por uma consulta de psiquiatria. Abri a gaveta, olhei-a nos olhos e expliquei-lhe a situação. Jurei que a apertaria ao meu corpo quando fosse pai pela primeira vez.
Ser pai pela primeira vez foi uma alegria das antigas.
Estive em festa uns três dias seguidos. Ao quarto, lembrei-me da camisa e fui à gaveta com uma desculpa engatilhada. Não foi necessária. Quando abri a porta do guarda-fato percebi logo. Dependurada no varão dos cabides, a partir de uma gravata azul com bolas amarelas, que lhe envolvia o colarinho, balançava ainda quente a camisa a quem eu tanto prometi e nada tinha cumprido. Cansada de promessas e de esperar, suicidara-se.
Óleo e fotografia de: Alberto Oliveira.

Sunday, November 06, 2005

A SELVA



















No início deste ano , meteu-se-me na cabeça que antes de findar o dito teria de visitar o continente africano. Mais precisamente a selva!. Porque o final de dois mil e cinco está aí, não tarda nada , porque não tenho andado com paciência para viagens de longa distância, procurei iludir o desejo relendo os "Bichos" de Torga , "A Selva" de Ferreira de Castro e consumindo diáriamente o canal Odisseia. Se os escritores portugueses eram (são!), exímios retratistas de animais e do seu meio-ambiente e o canal televisivo nos ponha a escassos centímetros de uma onça ou a um braço de um crocodilo, tal é o pormenor, a verdade é que uns e outros não substituem a realidade.
A realidade seria estar , de facto. Trocar os pés e ter de deixar as botas no sítio, por ter pisado inadvertidamente uma enorme planta carnívora, acabar a última lata de atum e ter de me alimentar de cocos e bananas -comprados nos supermercados lá da zona, que eu para subir às árvores não sou grande espingarda, cruzar-me com um leão -a distância prudente, e meter conversa informal, do género «Então aquilo lá pela alvaláxia não vai nada bem, pois não?!» , trocar um pneu do todo-terreno por uma gibóia enroscada, cumprimentar educadamente um gorila, como se tratasse do vizinho do oitavo esquerdo, enfim; o contacto in loco à séria e a cores.
Porque não vai mesmo ser possível, apelei às minhas potencialidades artísticas e tridimensionei o cenário selvático que partilho convosco. Materiais utilizados: cartolina verde-tropa para o solo, quatro dos sete elefantes em pau-rosa?! que um costa-marfinense me impingiu na Praça do Comércio e outra folha de cartolina pintada a acrílico a-fazer-de-conta a paisagem ambiente. Vocês podem não achar piada nenhuma, mas há muito tempo que não me deslocava tão longe!
Foto e instalação(?!) de: Alberto Oliveira.

Thursday, November 03, 2005

AS CHAVES do SUCESSO



















Após entrar e fechar a porta, num gesto mecânico voltou a colocar a chave na ranhura da fechadura. Ficou a observar o breve balancear das outras duas chaves -a da porta da rua e a do cacifo da correspondência. Depois, viajando com o olhar mais ao pormenor pensou que tinha de arranjar um pouco de tinta para pintar a caixa do fecho que estava uma vergonha. Se alguém, que convidasse para lá ir a casa reparasse naquilo, haveria de pensar boas coisas de si. Mas na verdade, quem entrasse pela primeira vez na casa, não teria tempo de notar fosse o que fosse no fecho da porta, pois como mandam as regras da boa educação, teria o cuidado de indicar ao seu convidado o caminho da sala e ser ele próprio a fechar a porta. À saida sim; o convidado repararia forçosamente nas manchas escuras do metal à vista, na caixa do fecho, uma vez que ficaria de frente para a porta. Embora sendo um todo, a porta da casa também era composta por uma caixa da fechadura; os olhos do convidado não conseguiriam esquecer-se dessa componente mesmo que quisesse. E qual é o convidado que entra pela primeira vez numa casa que não procura o incomum, a diferença ?!
Para grandes males, grandes remédios. A conversa que manteria com o seu convidado seria de molde a fazê-lo esquecer tudo. Ele era brilhante e dominava qualquer área com uma facilidade espantosa. A cultura acima da média era a sua maior arma. Argumentava de pronto com fundamentação à prova de bala e de agilidade mental à velocidade da luz. O seu interlocutor quando se retirasse, jamais se recordaria que tinha saido por uma ... porta; tal o impacto das suas palavras. De resto, era essa a chave do seu sucesso. Na sala, ligou a televisão e ouviu um comentador afirmar que os «os portugueses de sucesso, encontravam-se todos fora do país...». Tinha mesmo de ir comprar a tinta...
Foto de: Alberto Oliveira.