Thursday, November 03, 2005

AS CHAVES do SUCESSO



















Após entrar e fechar a porta, num gesto mecânico voltou a colocar a chave na ranhura da fechadura. Ficou a observar o breve balancear das outras duas chaves -a da porta da rua e a do cacifo da correspondência. Depois, viajando com o olhar mais ao pormenor pensou que tinha de arranjar um pouco de tinta para pintar a caixa do fecho que estava uma vergonha. Se alguém, que convidasse para lá ir a casa reparasse naquilo, haveria de pensar boas coisas de si. Mas na verdade, quem entrasse pela primeira vez na casa, não teria tempo de notar fosse o que fosse no fecho da porta, pois como mandam as regras da boa educação, teria o cuidado de indicar ao seu convidado o caminho da sala e ser ele próprio a fechar a porta. À saida sim; o convidado repararia forçosamente nas manchas escuras do metal à vista, na caixa do fecho, uma vez que ficaria de frente para a porta. Embora sendo um todo, a porta da casa também era composta por uma caixa da fechadura; os olhos do convidado não conseguiriam esquecer-se dessa componente mesmo que quisesse. E qual é o convidado que entra pela primeira vez numa casa que não procura o incomum, a diferença ?!
Para grandes males, grandes remédios. A conversa que manteria com o seu convidado seria de molde a fazê-lo esquecer tudo. Ele era brilhante e dominava qualquer área com uma facilidade espantosa. A cultura acima da média era a sua maior arma. Argumentava de pronto com fundamentação à prova de bala e de agilidade mental à velocidade da luz. O seu interlocutor quando se retirasse, jamais se recordaria que tinha saido por uma ... porta; tal o impacto das suas palavras. De resto, era essa a chave do seu sucesso. Na sala, ligou a televisão e ouviu um comentador afirmar que os «os portugueses de sucesso, encontravam-se todos fora do país...». Tinha mesmo de ir comprar a tinta...
Foto de: Alberto Oliveira.

35 Comments:

Blogger Maria Papoila said...

Não será porque os portugueses, para serem considerados "bem sucedidos" pelos seus compatriotas têm de ser primeiro reconhecidos "lá fora"?
Somos o país que só homenageia os seus grandes artistas depois de mortos...

2/11/05 16:46  
Blogger Leonor C.. said...

Gostei do seu blog. Fez-me rir à gargalhada!

Continue com ese humor!

2/11/05 19:05  
Blogger I said...

de Espinoza a António Damásio...............nem sei como ainda estou cá...(tentei fazer humor, não é para ser levado à letra)

2/11/05 23:10  
Blogger I said...

Em resposta à pergunta que deixaste no teu comentário, no Dunas: Porque nós deixamos!!!!

2/11/05 23:12  
Blogger JPD said...

E de repente descobre-se que os talentos lusos estão lá fora. Também eu fico perplexo...muito subtilmente, também esta ironia à chave e ao extrior levanta essa perplexidade...Temos problemas de reconhecimento de valor, temos as chaves...haveremos de ter soluções, não é? -- Claro! Nunca desanimar!
Um abração

3/11/05 00:31  
Blogger SalsolaKali said...

Quanto aos portugueses lá fora, acho que eles são um pouco como a caixa da fechadura, destacam-se da porta porque são uma pequena caixa que salta fora na planimetria da porta, porque estão lá fora e tem sucesso e parece que nós temos de estar sempre a ser lembrados que também podemos ser inteligentes. Afinal, só podemos. Estamos lá fora.
Mas a verdade é que nós cá dentro poderíamos ser melhores, se, lá está, passássemos a seleccionar ou a condicionar os lugares nas nossas universidades a uma avaliação relativa ao trabalho e resultados de investigação de cada um, ou se tivéssemos melhores laboratórios e equipamentos.
Eu até acho que nós somos muito bons (alguns). Alguns conseguem fazer milagres com o pouco que tem e não é mentira que somos conhecidos lá fora como uns “MacGiver’s”…

3/11/05 08:57  
Blogger mdm said...

Bem, por momentos julguei que tinha entrado em mais um blog voyeur!

3/11/05 11:32  
Blogger I said...

Legível isto é comentário ao comentário: aqueles dois eram mesmo dádás!!!!!!!!

3/11/05 13:53  
Blogger segurademim said...

Caro Legivel,

cá para mim andas a dar muito crédito aos "media"... querem ver que telefonas para expulsão algum dos cromos da primeira companhia??

os portugueses de sucesso estão cá todos!! olhó socrates, olhó cavaco, olhá fátima felgueiras, olhó isaltino, olha os que obtiveram de borla, casas, portas e fechaduras melhores que a tua, etc, etc...

um quinto dos licenciados é que vão para fora ... pudera! se cá não têm emprego!!! :)

3/11/05 14:55  
Blogger Pete said...

Quanto à fechadura, se fosse eu um convidado, certamente que repararia nela, mas iria acharia que dá um toque "caseiro" à porta.
Quanto aos portugueses de sucesso, não considero que estejam todos fora do país, eu considero-me um português de sucesso, tenho o que preciso e sei que ainda vou ter mais; pensamento positivo (contrário de fé cega).
Quanto aos licenciados fora do país e falta de emprego [esta é mais para ti, segurademim], acho que tens razão, há falta de emprego, mas não há falta de trabalho. Hoje em dia só está desempregado quem quer ou então quem não presta para nada mesmo. Acho que não preciso de dizer muito mais sobre o assunto trabalho vs. emprego, para bom entendedor, meia palavra basta...

Gostei do Post. :o)

3/11/05 15:22  
Blogger sotavento said...

Pelo sim, pelo não... :)

3/11/05 17:33  
Blogger Proprietária do Clube said...

Ui, os meus convidados têm muito para reparar no incomum lá de casa: ele é a sala verde e o puff azul, ele é o quarto cor de rosa, ele é a cortina vermelha na casa de banho, ele são os peixinhos nas portas dos móveis.
A fechadura, essa é castanha,e, quando fecha, faz track track... :o))

4/11/05 00:01  
Blogger batista filho said...

Dentre as coisas interessantes dos escritos apresentados são as interpretações: a cada releitura, no caso - compartilhadas -, às vezes a idéia original de quem escreveu assoma à soleira da porta - e alguns leitores já estão voltando de Marte ou Saturno!!!
Cá pra nós: isso é maravilhoso, não é mesmo?
:)
Quanto "As chaves do sucesso", sempre resta a opção do dono vender a casa e comprar tinta para pintar a caixinha da fechadura!... que cara é essa, ó Legível? - achou despropositada a minha sugestão?!

4/11/05 09:08  
Blogger musqueteira said...

Viva Legivel,
Nem mais!... Eu, convidaria a dita visita a pintar a porta;)Pois...em matérias de pinceís...aplicá-los só mesmo em "Telas"!
Por isso... uma das muitas telas está neste momento em Espanha... a tentar obter o lugar que aqui jamais poderá alcançar;)

4/11/05 10:39  
Blogger Roberto Iza Valdés said...

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4/11/05 13:21  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para maria papoila:

Se é verdade que esse tipo de ideias préconcebidas têm "feito carreira" em muitos casos, no nosso país, também não é menos verdade que nos últimos anos as coisas melhoraram um pedaço. A batalha da auto-estima (pelo menos nesse campo), está a vencer-se.
Só que o "reconhecimento" e as "homenagens" não chegam para cobrir as ofertas que vêm de fora, expressas em melhores condições de trabalho e... renumerações.

4/11/05 18:55  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para c´est moi (nokinhas):

Ainda bem que gostou.

Vou tentando...

4/11/05 18:56  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para isabel :

Eu sei porquê; por amor à arte culinária!

Claro que sim. Quando a intervenção do cidadão na "coisa?! política", se esgota com a colocação do voto na urna, só pode...

...estes comments hoje, estão muito pró sério, já reparou Isabel?!

4/11/05 19:04  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para jpd:

De repente, de repente... é como quem diz.
Vejamos um exemplo prático: porque motivo as SAD´s dos "grandes" do futebol português "deixam" partir para a estranja os jogadores mais promissores? Porque não querem ganhar jogos? porque não se querem "arriscar" a ganhar títulos?
A resposta já todos a sabemos; não têm dinheiro para os "segurar" por cá.
Uma coisa é termos "a chave" do problema. A outra...são as condições económicas que temos de facto.


Abração.

4/11/05 19:19  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para salsolakali:

Claro que a frase (que não é minha...) de que "os melhores estão lá fora" sofre do exagero que são comuns a todas as frases que procuram generalizar.

Em última análise, haverá até, quem decida ficar, apesar de saber que poderia ter melhores condições de vida lá fora. As opções pessoais são respeitáveis.

Mas isso não invalida que se revejam discursos e projectos sociais populistas, a prometerem paraísos impossíveis e de retorno mais que conhecido: o desencanto de quem investe em algo e não "descobre" contrapartidas.

4/11/05 19:51  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para concha:

Não receis. A fenda da fechadura está tapada...com a chave.

4/11/05 19:53  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para i&c:

Se tu o dizes... é porque tens elementos para tal.
Eu não lhes dou confiança; nem aos "dádás" nem aos "tótós". Era o que faltava.

Prontos. Agora o diálogo já está mais animado.

4/11/05 19:57  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para segurademim:

Tomara eu "ter crédito" para mim; dar aos outros (crédito) é quase impossível face ao quadro atrás referido. E não gosto de particularizar. Se te referes -quando falas da "primeira companhia", daquele excelente momento cultural televisivo, não telefono; vomito.
Embora eu não seja uma pessoa muito radical (sou pior!), dou-te razão na lista que elaboraste com tanto "carinho".
É verdade que há quem não necessite de "viajar lá para fora" para procurar o que não encontra aqui. E por vezes, invocando razões de "altos interesses patrióticos"; pois claro!
Mas o mais interessante, é que até alguns desses "dão o cavanço" por troca por outros "altos interesses"...
Conclusão lógica: passamos quase todos por muito pouco inteligentes e... distraidos.

4/11/05 20:15  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para universalista:

Está descansado. Fica aqui registado que tu "és um português de sucesso!" e que "certamente repararias no estado da fechadura".

"Que tens o que precisas e vais ter mais; que és positivista..
Mas também és exímio em frases cabalísticas. Afirmas por exemplo que "há falta de emprego mas não há falta de trabalho"... ou que "só está desempregado quem quer...ou quem não presta para nada"...

Face ao que por aqui foi sendo comentado até ao momento, tu serás "a voz dissonante"; naturalmente é por isso que estamos em democracia...

4/11/05 20:26  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para manuel:

Por acaso?! esta é a da casa de campo. Assim está bem. Quanto menos sinais interiores* de riqueza se mostrarem, melhor.

* Porque "da casa para dentro, mostrada para fora".

Abraços.

4/11/05 22:58  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para sotavento:

Acho que sim. Aceito a tua sugestão: vou pintá-la de amarelo-torrado. A casa.

4/11/05 23:01  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para algodão:

Fazes mesmo os possíveis e os impossíveis para que os teus convidados reparem na tua casa.

Eu também já fui assim. Deixei de o ser, quando um convidado teve um ataque cardíaco por causa da tarântula que passeava livremente pela casa de banho.

4/11/05 23:07  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para batista filho:

Na minha opinião (e porque não, no meu caso) quase que é tão importante como o exercício da escrita. Mas é preciso ter algum tempo e isso nem sempre se consegue por muita vontade que se tenha. E gostei de ler essa sua observação, de navegador atento ao fenómeno da escrita virtual.

Embora você não esteja vendo, juro que não estou fazendo cara de espanto! Não tenho a veleidade de ser o único criativo do lugar.

Abraço fraterno.

4/11/05 23:21  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para musqueteira:

Viva!
Nessa área, deves saber bem como é que as coisas se processam cá pelo burgo.
As "capelinhas culturais portuguesas" são uma tradição que não há meio de "irem desta para melhor"!

4/11/05 23:30  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para m.btfly :

Respondo-te a assobiar: neste momento não me dava jeito nenhum porque... a minha satisfação não tem limites. Porquê?! Sei lá! Mas é preciso haver um motivo para se estar satisfeito? É?!

Beijos.

4/11/05 23:37  
Blogger Joana said...

:) Imagem bonita essa, de uma casa que se quer de porta aberta e apresentável para quem a possa encher de forma enriquecedora. Gostei muito. bjinhos e bom fim de semana ;)

5/11/05 15:44  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para mood:

És sempre bem vinda. Tem também um óptimo fim de semana!

Beijinhos.

5/11/05 16:45  
Blogger Pete said...

Talvez seja exímio em "frases cabalísticas", ou não. O facto é que emprego não é a mesma coisa que trabalho, apesar de serem sinónimos na língua corrente. Quando me refiro a haver falta de emprego, mas não haver falta de trablho, refiro-me apenas a isto: Há falta de tachos, poucas cunhas, etc. Mas não há falta de trabalho, na qualidade de qualquer ocupação remunerada pode ser considerada como trabalho. Isto aplica-se a uma parte dos portugueses que querem ser muito bem pagos para entrar às 09h e sair às 17h, ficando o dia inteiro a navegar na net ou a jogar "solitaire" e, se calhar, fazer duas horas de almoço. No entanto se lhes propuserem um emprego/trabalho em que haja, de facto, trabalho para ser feito, já não o aceitam.
Eu por exemplo, sei que não tenho qualquer problema em arranjar trabalho, até pode ser uma coisa que eu não goste de fazer, mas se não houver mais nada faço-o, simplesmente porque tenho de ganhar o meu dinheiro para a minha sobrevivência. Atenção que não digo, com isto, que sou melhor que os outros. Acho que qualquer pessoa consegue arranjar um trabalho quando quiser, basta querer.

6/11/05 13:54  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para universalista:

Os nossos pontos de vista são diversos, pelo menos no que se refere às políticas laborais ou, se se quiser, ao mundo do trabalho, neste país.
Quando se pretende aprofundar sobre as mesmas, generaliza-se, não se individualiza.
É verdade que em Portugal, o tacho ou a cunha funcionam desde que me conheço e não é há tão pouco tempo como isso. Nos últimos anos, ainda mais "aprimorados" com o compadrio dos aparelhos partidários (sem qualquer excepção),da esquerda à direita passando pelo centro. Mas isso (que é naturalmente condenável) é apenas a "ponta de um iceberg", num país económicamente fragilizado e onde de facto o desemprego não é uma brincadeira de mau gosto.
Quem afirma que só não há trabalho para quem não quer deve estar a pretender uma polémica sem pés nem cabeça que não albergo neste espaço.

6/11/05 17:03  
Blogger Pete said...

Não pretendo de forma alguma uma polémica sem pés nem cabeça. Concordo e aceito que há uma taxa de desemprego desmedida. No entanto, vejo há minha volta pessoas que estão sem emprego, simplesmente porque não querem fazer este ou aquele tipo de trabalho. A mim sempre me ensinaram que não podendo ter o emprego de sonho, posso contentar-me com o que houver até conseguir encontrar o que quero.

P.S. - Nunca disse que o desemprego era uma brincadeira de mau gosto.
P.S.2. - Eu limitei-me a dar a minha opinião e deixei-me levar por ela. Peço desculpa por ter deixado a "polémica" chegar a este ponto. :o)

7/11/05 10:54  

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