A ESTAÇÃO MAIS QUENTE
Nada fácil chegar à fala com este Legível, disse para com os seus botões Macário B. após a septuagésima tentativa de ligação ao número que constava no cartão de visita que o seu amigo de longa data lhe tinha dado, depois de uma curta e apressada troca de palavras de circunstância, à porta de um dos ministérios no Terreiro do Paço e passados cerca de vinte anos sem terem notícias um do outro. O pequeno rectângulo de cartolina branca que voltou entre os dedos apenas lhe revelava o nome que reconhecia desde os primeiros tempos de escola (o outro era o "Banqueiro", porque o amigo desde cedo afirmava que quando fosse grande havia de ser rico) e logo abaixo, em Verdana e a negrito sub-secretário do estado. Macário B., pouco dado às coisas da política nunca lhe tinha passado pela cabeça que Legível tinha atingido tal patamar nos destinos da nação e surpreendendo-se uma vez mais com os insondáveis mistérios do destino interrogou-se: o amigo teria posto de lado o objectivo de ser rico e "apenas" pretenderia chegar a conselheiro do estado ou ambas as metas estariam agora nos seus próximos horizontes? De elucubração em elucubração, veio-lhe à memória que, na confusão da despedida rápida, Legível prevenindo-o dos seus muitos afazeres, foi avisando que se quisesse telefonar, o mais certo era ouvir a voz do seu empregado italiano. Bivalve, se a memória não o atraiçoava... E mais: que dali a poucos dias partia em viagem ministerial para a Capadócia.
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Se Legível pode ir para a Capadócia, que impedimento pode haver para que Alberto Oliveira não possa ir para um destino de férias tão bom ou melhor ainda? ou nem pouco mais ou menos? ou assim-assim? São coisas que nem se perguntam. Valem pela certeza que este espaço está encerrado durante uns tempos e nem vale a pena Macário B. insistir...
2009. Texto e vídeo de Alberto Oliveira.