Friday, May 22, 2009

SAIR DOS EIXOS















Após um salto no ar, dois piões e um forte cheiro a borracha queimada, o carro imobilizou-se finalmente no triângulo amarelo ao centro da imagem. Ficou imóvel no interior da viatura sem conseguir perceber a razão para aquele estranho despiste. Justamente com ele, que se considerava um condutor defensivo, como fazia questão em esclarecer a quem o quisesse ouvir e, logo naquele dia e àquela hora que ele procurara resguardar de olhos indiscretos. Para a curta viagem de regresso optara por uma estrada que sabia com escasso movimento e aprazível aos sentidos: de um lado a serra de cor ocre e imponente, e do outro, arvoredo a perder de vista. De facto, até àquele momento, o percurso tinha sido agradável e nem se havia cruzado com nenhum outro veículo. Não encontrando explicação para o sucedido e apercebendo-se que não controlava a situação, voltou-se para a mulher sentada ao seu lado «Estava a ser um dia demasiado perfeito, não achas? E que desculpa esfarrapada vou ter de arranjar quando chegar a casa para explicar que o carro pifou num sítio que nada tem a ver com os meus hábitos diár... » Com um olhar depreciativo ela interrompeu-o «Telefona para o autor deste relato. Quem sabe se não te arranja uma justificação consistente... » Depois saiu do carro, do texto e da imagem.

2009. Texto, fotografia e tela de Alberto Oliveira.

25 Comments:

Blogger Rosa dos Ventos said...

Relato deveras interessante!
E o autor conseguiu arranjar a solução ideal?! :-))
Haverá continuação?

Abraço

22/5/09 11:54  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para Rosa dos Ventos:

Quase em directo, o autor já está a pensar no almocinho. Depois, de barriga bem aconchegada,debruçar-se-á sobre o assunto. Primeiro a refeição, depois as coisas mais sérias, não é verdade?

22/5/09 12:09  
Blogger Teresa Durães said...

ora, como se o autor percebesse de mecânica, tráfego e outros problemas que tais. Desconfio que descartou o problema para outro bloguista e deu às de Vila Diogo.

Aposto que no próximo post entra uma bicicleta!

22/5/09 14:22  
Blogger Rui said...

- É viatura para gastar quanto aos cem?
- Depende da tela. Nesta que aqui vê, foi meia bisnaga. Já se sabe que quanto maior for a tela...
- E qual a capacidade dessa bisnaga que ficou a meio?
Juvenal Calafate era uma criatura cheia de dúvidas, para quem não havia detalhes que não fossem importantes. Querendo adquirir um carro novo para uma das paredes da sala, andava de atelier em atelier a pedir orçamentos.
- Quantos segundos dos 0 aos 100? Isso são jantes especiais? Pintura metalizada, certo? Qual a capacidade da bagageira?
Por esta altura, o autor desenhou um buraco negro numa tela e saltou lá para dentro, colocando um ponto final neste comentário.

22/5/09 14:40  
Blogger Paula Crespo said...

:)
Belo remate. Será que há lugar a cenas dos próximos capítulos?...;) De repente, pareceu-me assim uma espécie de "twilight zone", mais soft... ;)

22/5/09 14:56  
Blogger A said...

Uma boa desculpa podia ser a fuga com a amante neozelandesa com 4 milhões de euros dentro do carro :)


Ah, mas aí já não seria uma desculpa, mas um final menos feliz! ehehehe

22/5/09 16:37  
Blogger Li said...

Eu faria mais...pediria ao autor do relato para que não houvesse despiste algum...assim não seria necessário nenhuma desculpa e o relato terminaria em casa tranquilamente...:)

bjitos

22/5/09 16:37  
Blogger Licínia Quitério said...

Não a deixes escapar, Alberto. Ela é decerto co-responsável pelo acidente. E co-autora da história, aposto. Agarra-a e trá-la de volta numa outra curva da estrada.

Abraços e risos.

22/5/09 18:13  
Anonymous Anonymous said...

pois não me parece nada bem que o condutor saia do carro e do texto antes do leitor, devidamente fardado como convém nestas circunstâncias, possa fazer a devida operação stop, que é como quem diz, possa acabar de ler o conto, e apresentar por escrito, pois claro, a respectiva coima. o senhor legível faça o favor de apontar aí na carta de condução o montante mais apropriado, sim? muito obrigadinha e bom fim de semana. beijinhos. :) ;)

22/5/09 19:59  
Blogger Justine said...

E vá lá a gente perceber as mulheres, não é? Numa altura em que a sua argúcia feminina era tão necessária, abandonar assim a cena!
Desconfio que esse romance não vai ter futuro...a não ser, quem sabe, numa próxima exposição:))

22/5/09 20:10  
Blogger Ana Lina said...

Das duas uma. Ou como diría alguém que escutei nos transportes públicos, das duas três:

a) O carro faz parte dos adereços de um filme do 007;
b) Foi ela! Aposto que lhe deu uma veneta e puxou o travão de mão;

E a minha:

Tem sempre de haver uma justificação para um carro amarelo numa tela.

22/5/09 22:06  
Blogger Joana said...

Das duas uma... ou chama a assistência em viagem, ou então estica o polegar e vai de boleia!
:)
... de qualquer das maneiras tens aí um bom começo para um road-movie assim bem à americano independente!

23/5/09 01:07  
Blogger ~pi said...

gosto assim do teu relato (? :)

onde

no fim

tudo

se estuca

estica

enrola

a logo a seguir

sai e

vai

borda-fora :))




beijO






~

23/5/09 13:40  
Blogger Alien8 said...

Legível,

Gostei particularmente da tela! Ou da foto dela...

Boa semana!

24/5/09 00:03  
Blogger MagyMay said...

Para impressionar a menina, lixou-se..."estradas secundárias","vias alternativas" dão nisto!
Soluções,justificações????
Que te parece.. sair do texto...sair da imagem... e amanhã pela fresquinha, escrever um post sobre "Lixar os eixos" (..ou não)

24/5/09 21:26  
Blogger LUA DE LOBOS said...

e depois ela ao ajeitar a saia na borda da estrada, deu a impressao de estar numa situacao de pedir boleia e eis senao quando, aparece o Picasso que afobado lhe abre a porta da sua limo.. depois nao deu para ver mais nada!!!
xi
maria de sao pedro
ps / perdi os acentos

25/5/09 19:50  
Blogger oxalá said...

Também estou seriamente embaraçada com os dois piões nessa paisagem anti-voluptuosamente citadina! Que diabo, compadre! Dois piões, DOIS, logo num sitio desses!

Mas voltando à vaca fria: e o que querias tu que o raça da m'lher fizesse?? E se tu te pegavas à porrada com o autor? Chisca-te Rosairinha enquanto a porta não se cala!

25/5/09 21:45  
Blogger Ruela said...

Hmmmmmmm um atalho ;)

lol!


Abraço.

26/5/09 00:23  
Blogger Cadinho RoCo said...

Sempre existe um momento em que o personagem resolve se rebelar.
Cadinho RoCo

26/5/09 14:52  
Blogger São said...

Cada vez nais me perplexiono como há tanta porcaria publicada e quem escreve bem se fica pela net...
Abraços.

27/5/09 14:45  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

._________belo relato. meu querido amigo:=)



e a saída(solução) um "remate" de mestre!



excelente. Alberto________como sempre



_________________///

(amei o teu comentário no fragmentos)








beijO_______ternO

28/5/09 02:14  
Blogger Arábica said...

...falta talvez uma pequena observação final, para que leitores de primeira viagem não se sintam retratados, assim quer pela liga leve das jantes ou pelo cenário ocre da serra, que não mais, um simples: "qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência"! :)

Risos com café da manhã
e beijos, pois claro!

28/5/09 11:56  
Blogger A Lusitânia said...

belo texto ... gostaria da continuação, se bem que já tenham sido dados por auto-excluídos da história as suas personagens.
mas pode sempre continuar-se para além do papel.

28/5/09 13:01  
Blogger segurademim said...

... sair dos eixos é a tua especialidade

curvas e contra curvas altos e baixos subidas derrapagens bacalhau à gomes de sá lombo de porco assado com castanhas

desculpas esfarrapadas... precisam-se?!

29/5/09 09:18  
Blogger Jorge said...

Gostei imenso do teu mini conto: irreverente, imaginativo, enigmático. Um estilo de escrita situado nas antípodas do meu (nunca seria capaz de escrever assim), mas que gosto.

Um abraço

Jorge

31/5/09 15:41  

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