O TEMPO VIGIADO
Vigiando as águas vigio o tempo filtrado em areias finíssimas de praias paradisíacas anunciadas por agências de viagens que me vendem sonhos que dificilmente se cumprem em tempo real. Sonho com agências de viagens viajando a preços desde e acabo por viajar com preços acima de. Vigio a bagagem até onde é permitido aos meus olhos acompanhá-la antes dela me apartar e, por cada mala perdida, fico mais pobre de uma amiga chegada. Ao vigiar a água que me lambe os pés reconheço que não é tão azul marinha ou verde mar como a que os folhetos prometem: as mais das vezes é amarelada tal como a das imagens desses folhetos, queimados pelo sol de agostos passados. Dos banhos, não sei o que mais vigiar: se a multidão que se banha ou a multidão que me desaba em cima com o banho por tomar. Por um destes dias - acrescentada mais uma hora de claridade a cada um deles por força de um relógio que constantemente vigio, estarei a caminhar sob a areia húmida de uma qualquer praia hoje imaginada, na expectativa de que, pelo menos, a cor das bandeiras não amareleça e me confunda, como a dos folhetos de viagens expostos ao sol dum outro estio. Mas nem tudo são más notícias: a temperatura voltou a cair para valores mais baixos e acorda-me para a realidade. A de ter ainda mais algum tempo para voltar ao assunto.
2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.
25 Comments:
Passámos de Verão para Inverno de forma demasiado rápida...quase parece que fomos acordados de um sonho num sobressalto e com a respiração ofegante...:)
bjitos
:) e eu sonho com férias, querido alberto. mesmo que o azul do mar não seja tão azul como o das revistas... o que importa é mudar de ares, em boa companhia de preferência. se vais viajar, desejo que corra tudo bem e depois tragas fotos e letras para nós :) beijinho grande
O que eu gostava de ver o azul mar através das vigias de um navio! :)
Que maus tempos os nossos, que até os sonhos têm que ser vigiados, devido aos efeitos secundários na bolsa e no bolso!
:) Beijinhos e sorrisos
volta, que à volta cá te espero.
Um dos meus preferidos! Gostei muito... obrigada...
pois...a publicidade enganosa e dos respectivos efeitos nefastos.
Abraço.
ainda é cedo,
( felizmente
arrefeceu,
dará ainda
para transparecer
no olhar?
beijo
~
Amigo nadador salvador, eu cá perco-me sempre em paragens paradisíacas quando vejo os anúncios das agências de viagens dependurados nas carruagens do metro.
Sempre que vou de manhã para o trabalho, lá está o Taj-Mahal... ou os golfinhos dos Açores...
Proibido sonhar ainda não é. Mesmo com (a) bandeira não hasteada. Penso que se usa imenso o amarelo. Nos gestos e nas águas. Um amarelo-torrado e requentado. Não é o amarelo dos prados e pastos.
Fiquemo-nos pelas praias impossíveis.
E as tuas palavras aqui (a calhar) e lá (calhando), deram-me para cogitar. Lá está a tua citação...
Beijinho, rapaz de Lisboa!
Alípio conformou-se com a falta de espaço onde aparcar o mini (do tempo em que os minis eram minis) e com o tamanho do caminho em terra batida que foi obrigado a palmilhar. Chegou à praia a amaldiçoar as terras batidas e o pó que lhe cobria os pés. Quando levantou os olhos para o areal, amaldiçoou por amaldiçoar, sem saber ainda quem ou o quê. O dia estava quente, a brisa amena, até o mar estava calmo, permitindo uma não muito frequente bandeira verde, tudo, portanto, para um belo primeiro dia de praia. Ou quase, já que a multidão de todos os anos, que tanto gosta de estar de molho, estava à beira mar, contrariada. Eram poucos os que se banhavam. Sempre tinha de estar gelada, a água.
Desceu a pequena encosta até à praia, estendeu a toalha e aliviou-se dos pertences. Foi até ao mar a dar pequenos pontapés na areia, enraivecido com a água que ia encontrar. Furou a muralha humana, que vigiava a planície liquida e abriu a boca de espanto: como que o cumprimentando, uma pequena onde afagou-lhe os pés e a água estava óptima! Estão todos doidos, com uma água destas e quase ninguém a tomar banho, pensou, enquanto avançava. Um apito estridente rompeu o ar e atrás dele veio um nadador-salvador mal encarado.
- Mostre-me o seu cartão.
- Qual cartão?
- Mau... o cartão de sócio.
- Sócio de quê?
- Engraçadinho, hein? Não viu a bandeira? Não sabe que agora só toma banho quem é da cor da bandeira?
Arrefeceu e muito!
O aquecimento voltou a ser ligado e mesmo que venha calor não sei se ganharei coragem de mexer-me para ir algum lado!
Abraço
Perante esta aguarela da realidade em tons desmaiados mas vigilantes, o melhor ainda é ficar em casa e viajar nas páginas dos livros. Aí nada é vigiado, e o azul é sempre da cor que nós queremos...
É um desatino. Nós, os turistas sem massa, seduzidos e vigiados pelo turismo de massas. O sonho vendido aos quadradinhos. E nós, carneirinhos bem obedientes, vendo o que nos dizem que é de ver, sonhando com o que gostaríamos de ter visto.
Mas ainda há Legíveis criaturas que conseguem ver o outro lado do folheto da agência e vão cantando "carneiros é o que mais há...".
Beijinhos turísticos.
.________querido Alberto
aqui para "os meus lados" é uma beleza_______céu azul - águas límpidas_____areias brancas
.o vento tem de ser vigiado_____pois concerteza isto - não é só sol a brilhar!!!_______mas mesmo assim ainda se encontra uma ou outra praia_____que o vento não precisa de ser vigiado:=))
______os teus posts sempre bem-humorados:=)_____e "tocando" sempre num.___quiproquó
______são como um dia de sol
beijO_______ternO
belo texto Legível. Para amarelo assim, só mesmo ficar em casa entre lencóis e, numa sesta, sonhar o barulho do mar!
Este Verão vou vigiar a minha praia preferida:
a minha.
Cumprimentos meus
Ó deusas!
O que sairá daqui?!
- Este destino é maravilhoso!
E as miudasE no panfleto as miudas passeavam em biquini, tal modelos numa passerelle.
- Tudo incluido?
- Claro, claro, confie em mim
... tal publicidade ao penso higiénico
Aqui esta casa é muito animada!
Legível, se a praia com mais gente que areia te incomoda, se as cores da bandeira nem são carne nem são peixe, se a vigilância não te larga e se tens de estar sempre tão vigilante, enfim, se a praia é essa chatice toda, vai para o campo ou deixa-te ficar em casa, mas, por favor, não caminhes nunca sob areia húmida... nem seca!... Nem agora, nem nas férias da tua vida...
Bom é poder observar o mar com boa temperatura... mas há sempre quem troque as voltas!
Bjs
A verdade é que há anos vigiava o regresso,sobretudo nestes últimos anos de nevoeiro cerrado, ...mas de D.Sebastião nem sinal!
e nós a vigiar a nossa Humana, que nos prometeu, nos próximos dias, passeios ao imprevisto e manjares exóticos.
boas férias, amigo legível.marradinhas em duplicado, seguramente.
...eu olho para o calendário "amiudadamente", como se por cada vez que olhasse os dias dessem saltos de corça em direcção a um qualquer tempo de "dolce far niente", qdo finalmente lá chego, o mar é sempre azul...talvez porque não olho para folhetos ou talvez porque o desespero de chegar me pinte os olhos com cores que não existem...seja como for, não permitirei que me enerves com essa do amarelado e outras neuras do género...que coisa...mas nem as pobres fériazinhas escapam?!?!
Legível,
E deste belo texto se conclui, entre outras coisas, que vigiar o tempo não é tarefa fácil...
Por vezes, o melhor é mesmo desistir e ir a banhos.
Um abraço.
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