OS ROSTOS DA CONVERSA
Por vezes confundes-me. Não, não é por aí, pela variedade de faces que me apresentas quando tenho alguma disponibilidade para trocarmos umas palavras. Se eu fosse um sujeitinho irónico, fazendo de ridicularizar os outros o meu modo de vida e me esquecesse que tu és a minha cara chapada, diria que tens a dita totalmente preenchida de acne na forma de rostos-tipo-passe. Confundes-me, pois só muito raramente tens opinião, e com alguma dificuldade discorres ou argumentas na primeira pessoa do singular. Contas histórias mirabolantes que não são as que tu vives, mas as dos outros (e isso não é muito elegante, sabendo nós que quem nos lê, faz gosto de saber quem está por detrás das palavras que descrevem tais relatos) e, pelo tempo que te conheço, isso começa a ser inquietante. Porque as histórias, personificadas por gente tão estapafúrdia que não lembra ao diabo me merecem cada vez menos crédito e, sobretudo porque quando dialogo com tantas pessoas que tens dentro de ti, fico com a vaga impressão (ou será mau-estar?) que tu e eu (ou eu e tu) somos a mesma pessoa. Não te acontece pensar nisso? Ora, ora, que questão desprovida de sentido. É quase idêntica à de perguntarmos ao primeiro-ministro se está de boa-fé com quem o elegeu (mais os outros) e ele - iluminado por um clarão de humildade, nos remeter (mais a resposta) para o seu ministro da presidência...
2009. Texto, tela e foto de Alberto Oliveira.
31 Comments:
ótimo texto, muito bom.
Maurizio
Assim disfarçadamente, um ataque ao nosso [des]estimado político que dizem tanto ser de várias caras (e coroas também, sem ser das joías).
Na impressão inicial, és tu e a falar ao espelho e isso, dizem que até é saudável.
Beijo, lá volta a chuva.
...eu ia muito sossegadinha por aqui fora, lendo palavrinha a palavrinha...assim como quem corta pedaçinhos(hoje é tudo "inho) de bolo com a ponta dos dedos, para depois os meter na boca, em vez de o comer à dentada, (acho que já percebeste a ideia) E ia eu por este caminho, assim devagarinho...quando me emplastro na palavra composta por justaposição -"primeiro-ministo"... engasguei-me, tossi, cuspi...mas nada evitou o mau gosto que me ficou...depois de alguns gargarejos, com um daqueles produtos cor-de-rosa que se compram nas farmácia, a coisa melhorou e eu arrepiei caminho em marcha atrás, velocidade turbo, sem querer saber de alegorias nem metáforas...Caramba!!
homem de um só parecer
um só rosto
uma só fé
ele tudo pode ser
mas ministro ele não é
Adorei o teu solilóquio double-face, se é que isto quer dizer alguma coisa...
Beijinhos para os dois. Ou três. Ou não sei quantos.
É verdade, são pelo menos 3: vejo, no meio dos dois e em baixo-relevo (ou será alto?), a silhueta que me parece ser de um jovem de pescoço alto e cabelos espetados. E ar arrogante,parece-me. Alter-ego do alter-ego do outro?
(Labirinto bem engendrado.É preciso prestar muita atenção para encontrar a saída...)
Eu até te convidava para almoçar, mas...e se na tua vez, aparece outro que não conheço de lado nenhum???? ;)
Elogio-te a criatividade nos escritos da fantasia e na fantasia dos personagens! E agradeço-te, estes pequenos mosaicos irónicos e bem humorados com que nos brindas semanalmente :)
Beijinhos e sorrisos
Não conheci ninguém que tivesse mais caras e nomes que Fernando Pessoa, mas secalhar temos aqui um concorrente à altura...será?
bjitos
Em cheio! É de pessoas, que argumentam com "senários", com a opinião dos outros, com os dados de uma estatística (que valem o que valem - "adoro" esta frase cheia de sumo de uma batata ressequida), que nos remetem para este ou para aquele, sem assumir a sua própria identidade e, acima de tudo, pessoas incapazes de assumir a sua responsabilidade, que se compõe a maior parte do eleitorado. Às vezes, apetece-me dizer-lhes, vão passear, eu não tenho nada a ver com isso... Mas tenho... Infelizmente, eu sei que também tenho a minha quota-parte de culpa...
Eu não sei quantos são, mas a conversa é muito interessante, e a respectiva base ilustrada uma maravilha. E por aqui me fico, talvez a falar comigo...
Um abraço.
Adorei a imagem e o texto casou-se muito bem....
ora, o que querias era ser as palavras dos outros mas na humildade escondida do primeiro caíste redondo no chão!
(essa foto está excelente!)
Será que andamos todos confundidos?
Seremos um país de confusos, que, no entanto, não é o mesmo que confundidos?
Seremos confusos e confundidos?
Que confusão! :-))
Abraço
Está o perfil tal e qual: literáriamente reservado, corporalmente indescritível, tecnicamente perfeito. A franja a meter inveja ao Paulo Bento.
Abraço.
(tratei hoje de cumprir uma promessa antiga)
O que é que o senhor Alberto fez à outra metade dos óculos? Não me diga os partiu de propósito. Mas que ficou engraçado, isso é verdade.
Excelente!!!
Abraço.
Alberto, isso são as fotografias da secção de Necrologia do jornal?
Que cena mórbida!
... não tão mórbido como as cenas do nosso Prime Ministre, mas a essas já nos habituámos certo?
A malta de Almada é que tem culpa disto tudo. Eu cá não votei neles... ah pois não não...
:)
Bons banhos de whiskey.
Sabes o que te digo, gosto do quadro.
E gosto que tenhamos sempre muitas vozes cá dentro e sempre em confusão... afinal do caos nasce a luz!
(se não é assim a frase é qualquer coisa de parecido!)
por vezes ainda gosto de espelhos,
o problema é que é uma relação difícil,
(tenho também pânico deles.
paradoxais, dão as versões que lhes apetece
(viro-lhes as costas definitivamente
frequentemente,
para sempre, muitas vezes,
e cada vez mais.
aí, passo o tempo a prescutar as paredes
( só e só as mais claras, quase brancas,
beijo
~
Muito bom! Parabéns!
Fez-me sentir a mesma inquiteção que uma parte do livro que estou a ler ("O Fantasma sai de cena" de Philip Roth)... em que é sugerida a solidão na qual vamos entrando justificada pela suposta liberdade que o telemóvel nos dá... que nos leva a reflectir acerca do facto de enchermos a nossa consciência de histórias e de acontecimentos para não tomarmos consciência da nossa própria história e do que sentimos...
Obrigada!
Se não fosses quem és, diria que é "conversa da treta" e simplesmente te vês ao espelho, todas essas faces de antanho! Mas a gente gosta deste rapaz de Lisboa que destôa, ora sem perna, ora sem rosto...
E eis o seguimento da tua passagem "por este rio acima":
Depenados, quezilentos
nenhum se queda indiferente
dos que ficaram na praia
u'a mão atrás outra à frente
É sina deste país
ter timoneiros de saldo
é vê-los todos pimpões
nas presidências a salvo!
(se meteres uma cunha ao almirante Nelson, please, talvez ele me ache lugar naquela festa de versos à desgarrada, à república sem freio mas democrata que nos tomou...)
Beijinhos por aí
(sou a bettips mas com outra cobertura, não estive para mudar e vai o comentário mesmo assim...)
O que é que querias dizer mesmo?
Muitas vezes somos e não somos nós. São talvez as circunstâncias que nos fazem andar em parafuso...
Bjs
é sempre bom ter um ministro à mão :) beijinhos do ribatejo, legível.
Olá legível. Desculpo-me pela ausência. Ai os ministros!!!! lol
visite, divulgue, comente e participe. É um bocado ao seu jeito. beijos ternos para si. com amizade. AZul
www.arroz-de-grelos.blogspot.com
É verdade, Alberto
Sempre que essa situação ocorre vem sempre alguém dizer
«Ah, e tal, porque o desdobramento da personalidade...»
«Ah, e tal, porque o alter ego...»
Bolas, «alter» quê?
Para mim, de Alter só o do Chão
gente que trabalha e apresenta resultados com «ferro» de se lhe tirar o chapéu!
Belísima edição, Alberto.
Ilustração excelente.
Um abraço
Olá legível
Venho aqui por ter visto um cumentário, com o, teu no Registos. E como a Nônô é irmã da minha segunda nora, e como gosto muito dela(s), e como sigo o blogue com atenção q.b., vim cá parar. E acho este teu covi bué da fixe, sinceramente. Mais: bué da fixíssimo e vou voltar, assim que me seja possível.
Se queres saber quem eu sou - vai ao meu blogue. E diz às/aos da tua banda. Ali, se queres deixar cumentário, com o, deixas. Não pagas nada.
Abs = abrações
Pois meu caro
na vida
nem todos os espelhos
são credíveis
Vai-se a ver e o Pessoa não era único, com todos os seus heterónimos e caras-metades, mas sim um estereótipo português... ;);)
O espelho nunca mente ... nós é que apenas reparamos no que ele nos mostra e não no que ele nos diz...mas estou a ver que tiveste um tempinho livre para lhe dar ouvidos.
às vezes nem o espelho nos mostra o que está à frente.
ah, mas na verdade, se olhassemos bem, quantos seriamos cada um de nós? (a foto está linda!)
Olá querido amigo. Começo na leitura de hoje, por observar a propósito deste texto que, não fora a minha modesta capacidade para escrever, ele se apresenta muito ao meu jeito. Deixe-me fingir que fui eu quem o escreveu, para que, por dentro, me sinta mais eu.
Gostei muito. Obrigada. Um abraço. Azul
Post a Comment
<< Home