DA CANÇÃO DE ENGATE
Ainda trazia no ouvido o refrão da canção de António Variações quando chegou à estação do metro "Tu continuas à espera/ do melhor que já não vem/E a esperança foi encontrada/antes de ti por alguém/E eu sou melhor que nada." Não percebeu bem se a mulher do anúncio o encorajava sorrindo ou se lhe sorria ironicamente, pronta a escapar-se (dando lugar à publicidade a outro produto) assim que ele ensaiasse o primeiro de uma série de estafados galanteios ou se aproximasse perigosamente dos carris da realidade. Desta vez, Ludgero Casanova não arriscou, mantendo-se a uma distância que considerou a menos perigosa a desviantes devaneios porque na sua cabeça, uma multidão de mulheres que desejara ter possuido, algumas que julgara possuir e, finalmente, umas poucas que o possuiram, reuniam-se em plenário para decidir do destino a dar-lhe. A chegada do combóio para Telheiras salvou-o de ouvir um veredicto que não queria imaginar. Ofegante, entrou na primeira carruagem e sentou-se. Aos poucos a respiração voltou à normalidade e aguardou que a cabeça se esvaziasse de mulheres. Quando levantou os olhos, viu-a. Sentada à sua frente, uma mulher de rara beleza sorria com um sorriso como nunca vira outro igual. Não se conteve «Ah, tu também sorris, mas pelo menos não és uma mulher de papel!» Ela não deixou de sorrir «Engano teu. Sou de papel, sim. De papel de fantasia me vestiram.»
2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.
33 Comments:
Women, you can't live with them, you can't live without them...
cuidado com os fósforos se não a mulher arde!
Não é o embrulho que faz o que está por dentro dele...por isso é melhor o sr. Ludgero ter cuidado quando desembrulhar a senhora...:)
bjitos
......então e os coelhos? ...custa-me que não tenhas falado nos coelhos...está bem, é uma história de engate, sorrisos e mulheres despidas e vestidas com papel de fantasia...mas custava-te muito ter metido um coelho ou dois e uma ou outra amêndoa com licor...custava? O Ludgero ia para Telheiras a pensar noutras coisas, dirás tu...desculpas!...um coelho em época de Páscoa entala-se em qualquer estreito pensamentp...mas não...tinhas que excluir os coelhos...ao menos um ovo...ou um folar...sei lá...um coelho...ou dois...
impecável...
todas em plenário a rir à gargalhada!
e o Ludgero Coelho para ali, com a playboy de baixo do braço
;)
Para L. Reis:
O Coelho está lá. Na Estação do Metropolitano de Lisboa do Cais do Sodré, em azulejos executados pelo pintor Pedro Morais, inspirados em alguns esboços deixados por outro pintor (António Dacosta) antes de falecer e numa evocação do clássico Alice no País das Maravilhas de Lewis Carrol.
:) já passou a páscoa e eu não tive direito a um ovo de chocolate embrulhado em papel de fantasia, só mesmo um pacote de amêndoas :) acho que o amor também é assim, está numa prateleira, muito bem embrulhadinho e só chega a alguns privilegiados... se calhar, tenho de andar mais vezes no metro de lisboa a ver se tenho mais sorte! beijinho grande, alberto.
Com a ajuda do Pedro Morais lá te safaste...eu calo-me...mas custa-me ter que me contentar com um coelho louco, com o péssimo mau hábito de estar sempre atrasado...
Um excelente texto!
Que a Páscoa tivesse sido doce. é meu voto.
Uma semana serena.
Sr. Feiticeiro, moral da história: a cada um o que merece, ao Ludgero calhou-lhe uma mulher de papel de fantasia, outros há, a quem calhe, a fantasia de um papel :))
Entre uns e outros, venha o diabo e escolha (depois do plenário, claro!!!)
Beijinhos a metro...
Sacudiu a cabeça, atirando caspa em todas as direcções. Olhe lá essa neve..., gritou alguém. Envergonhado, Ludgero encolheu-se o mais possível no banco do Metro e sacudiu apenas os olhos. Quando os voltou a focar, não estava ninguém sentado à sua frente. Teria sido tudo imaginação, tentou convencer-se, apenas mais um sinal que estava cada vez mais a apartar-se da realidade. Ultimamente, era o que mais lhe acontecia. Escorregou ainda mais no banco e apertou a cabeça entre as mãos, para não deixar escapar a sanidade que lhe restava. Tinha-se lembrado do conselho escrito nos avisos luminosos do Metropolitano: proteja os seus bens.
Curiosa mistura a deste Ludgero de apelido enganador: por um lado a lucidez sonhadora incomum num homem, por outro a capacidade corajosa de devanear lucidamente, como um homem que se preze. Pena estar engando num ponto: é que as mulheres são cada vez mais mulheres com o seu papel bem definido, seja ele muito sério ou de fantasia!
(e , para pegar numa parte importante da história,os coelhos são interessante é assim, invisíveis, dentro das cartolas ou escondidos nos azulejos...)
Os coelhos fugiram lá para os meus lados ;))
Talvez se o L. Casanova tivesse levado um a rapariga perdia a "vergonha" e acariciava-lhe o pêlo ;)
Ah...eu li essa do "Casa nova em Telheiras" duplo condomínio, dentro de condomínio; e bem em conta, que estava em leilão do banco de vinhático. Vinha com fantasia dentro? Não admira, com tantas posses!!!
E eis a resposta:
Um rapaz de Lisboa
voltaremos a ver
por trás duma azinheira
ele vai aparecer
Mesmo que seja oliveira
que traga sorriso franco
e que porte a companheira
ataviada de branco
E por tudo o que disse
é o que estão a pensar:
mais um segredo de Maio
que se irá revelar!
Bjinhos a vós dois, de rara intuição fantasista.
Se o Ludgero não fuma, é capaz de começar a pensar nisso agora!... Tabaquinho de enrolar, porque mortalhas não lhe faltam!... (Mulher de papel, vestida de papel, com sorriso de papel... Que papelão!...
Que bela fantasia a tua!
Abraço
é que entre fantasias, memórias e os outros (passados) pairando nas nossas cabeças, qualquer um pode ficar a olhar para os papeis...
Meus Deuses!!!!! Como aqui há imaginação e boa escrita...
Vou voltar para "dar novos mundos ao (meu) mundo"
engraçado,
mulheres de mel e papel
homens
de coração pendente :)
( promessas
avaran-dadas a meio-metro
do olho
em
frente,
kiss`nd smile
~
Ludegero acordou encharcado em suor ...Era a 5ªvez nessa semana que trocava de pijama...assim não podia ser! Telefonou ao seu médico "Sr. Doutor, preciso de um medicamento que me tire os sonhos! Estou a gastar a minha reforma toda no skip e, como sabe, não estamos em tempo de vacas gordas."
Desligou o telefone e procurou outro médico nas páginas amarelas que aquele só lhe falava de um Gedeão que achava que o sonho comandava a vida. Ele há cada um!
Ludgero!!
De papel de fantasia... lol Realmente o papel faz a fantasia de muitos, depende apenas do significado atribuido.
Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos
Desta vez cheguei cá.
Assim vale a pena andar de metro.
:)
E ouviu-se um crrrrrrr. Era o coração dele a rasgar-se em pedaços. Ela levantou-se, apanhou-os do chão, e começou a construir o puzzle. Quando o terminou, ele acordou do desmaio. Ela saiu primeiro. Ludgero olhou-a e pensou: Como é que eu posso ter adormecido com uma mulher destas na minha frente? Tenho de mudar de apelido.
Beijinhos, Legível.
:)
Há sempre uma tenção à espreita!
Bjs
*tentação
Há sempre uma tentação à espreita...
Nesta vida
até a gramagem
do papel tem sentido
Pois.
É o que dá adormecer nas estações de metro.
E nos comboios.
É o que dá a proliferação e massificação do marketing... há por aí gente que já nem distingue o papel da carne e osso! Não é o meu caso, evidentemente! :)
Quanto a ti, podias muito bem ter-te limitado a escrever um belo texto, ilustrado pela foto certa, e escusavas de vestir a mulher de papel de fantasia e estragares a cena do Ludgero... mas agora reparo que era inevitável que o fizesses.
Um abraço.
pobre L Casanova. desistiu de andar de metro?
É um filme que o senhor viu? Eu agora só penso em cinema...
Muitos cumprimentos.
Este Casanova fantasia engates. Delira, o pobre...
Excelente texto, parabéns!
:)))
Era bonita não era Legível? Sorte a tua teres arranjado lugar mesmo à frente, na carruagem.
Beijo
O Papel de Fantasia desde Blog fica bem a qualquer miúda ehehehe
:)
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