Friday, December 30, 2005

AS HORAS do TEMPO SEM HORAS



















Este não será porventura o melhor exemplo de relógio pelo qual os lisboetas se poderão guiar para cuidarem de saber o tempo que falta para o início de um novo ano. Mas é apenas isso mesmo; um mau exemplo que reflecte o modo exemplar?! de como se tecem estratégias para nos porem sem saber a quantas andamos. Se a árvore natalícia -que se encontra do outro lado da imagem à direita cumpriu o seu papel integrado na quadra, porque motivo este relógio que em raras ocasiões o vi a funcionar, também não participa activamente nos festejos de fim-de-ano, pelo menos na noite de trinta e um de Dezembro para os primeiros segundos de dois mil e seis?
Não. Não me vou dar ao trabalho de procurar responsáveis , ou fomentar o envio de milhares de e-mails pela net, exigindo da edilidade lisboeta a reparação (ou reactivação) do idoso medidor do tempo. A não fazer ouvidos de mercador a tal exigência e até se chegar ao funcionário que iria dar corda à cebola decerto que estaria irremediavelmente comprometido o seu correcto funcionamento a tempo e horas de assinalar a passagem do ano... deste ano para o outro. Seria apenas?! uma questão de mais uns dias, de semanas ou quem sabe, de meses. Talvez que, se tudo corresse bem teríamos o relógio pronto a dar as doze badaladas... no final do ano de dois mil e seis...
A tempo... e horas; tenham um bom final de ano e princípio do outro. Que pelo tempo fora, iremos comunicando, como vai sendo habitual e sem horas marcadas.
NOTA: Lamentavelmente, quando fiz a fotografia não reparei se o relógio funcionava. Acredito que não, porque é o habitual e porque os ponteiros não me parecem estar conforme a hora a que passei no local... fazendo fé que os ponteiros indicam qualquer hora. Uma coisa é certa; os ponteiros estão lá, o tempo correcto é que não. Mas eu estive , garanto. Na rua Augusta, às onze horas e dez minutos da manhã de vinte e três de Dezembro, deste ano.
Foto de : Alberto Oliveira.

Tuesday, December 27, 2005

ARGÚCIA



















porque sou tão absolutamente arguto?
interrogo-me sem esperar pela resposta
que o que se expele deste genial cocuruto,
não é matéria que se ponha assim à mostra.
questionar-me não é mais que uma rotina;
é como untar a frigideira com margarina,
é sobretudo dar o dito por não dito
e consciente, mandar fritar o piriquito.

... AS BATATAS FRITAS DEMORAM MUITO ??????

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Em vinte e sete de Dezembro de dois mil e três editei o meu primeiro post na blogsfera. Sem interrupções de vulto -apenas aquelas que aos momentos de lazer dizem respeito, cheguei até aqui, fazendo das minhas palavras momentos de imenso prazer pessoal e procurando com elas estabelecer possíveis pontes dialogantes com aqueles que me foram visitando. Retribuí a todos de igual modo, procurando não preferenciar nenhum, porque não faço deste sítio (ou de outros em que eventualmente me envolva), locais de competição ou de afirmação pessoal; apenas de puro entretenimento. Em meados deste ano que agora finda, "mudei de nome... virtual". Porque "a vida é feita de mudança" e porque entendo que a recriação deve alargar horizontes a outras paragens e a outras gentes. Sem esquecer os que me acompanharam desde sempre.
O post de hoje, foi seleccionado (a meu gosto e tempero), de entre outros que fui editando antes do Papel de Fantasia e é a primeira repetição que faço desde que estou na blogsfera.
Foto de: Alberto Oliveira.

Sunday, December 18, 2005

URBANO... É APELIDO.



















Urbano, adj. (lat. urbanu. Relativo à cidade; populações urbanas. Fig. Afável, cortês, civilizado...
Na qualidade de citadino, afável, cortês e civilizado*, informo os meus estimados companheiros de navegação que este espaço encerra para umas curtas férias, ditadas por compromissos sociais inadiáveis e que respeitarei sem fadiga, sobretudo àqueles que se referem aos prazeres da mesa e à abertura de variadas dádivas com que por esta altura me costumam obsequiar. Regressarei ao vosso convívio menos leve mas com o optimismo?! costumeiro.
Espero também que se divirtam na medida do possível e isso será possível (perdoem-me a redundância) se acreditarem que o dinheiro não é tudo na vida; mas a criatividade é. Com ela conseguem-se fazer coisas que o dinheiro não compra. Não me perguntem quais, que este pedaço foi para preencher um pouco mais este parágrafo que estava a ficar menos equilibrado em relação ao anterior...
* Há sempre excepções à regra; aí, torno-me ruralista.
Foto de: Alberto Oliveira.

Thursday, December 15, 2005

QUASE TITANIC



















Português que não tenha entranhado no corpo o desejo de navegar, não lhe devia ser permitido o acesso à cidadania lusa. Parafraseando Alegre, o poeta-candidato, o "acesso à pátria". Natália, outra poeta que infelizmente já não se encontra entre nós, diria melhor -no meu entendimento, que se pátria é do género feminino, mátria como ela escreveu, é que está correcto. Mas isto são meras referências, provavelmente porque o autor deste texto, procura enriquecê-lo e, em paralelo, dar-se ares de vastos conhecimentos literários. Se fosse a vós, saltava estes intermezzos que não adiantam nem atrasam ao que aqui se pretende relatar e avançava na leitura, de peito feito... às ondas.
Escrevia eu, que nas veias, nos corre sangue marinheiro e nem precisamos de nos socorrer dos feitos de antanho, que desses estamos conversados e já chegam de bastas vezes servirem de (pobre) consolo às misérias que se vão vivendo neste rectângulo... à beira mar plantado; pois se até a situação geográfica contribuiu decisivamente para tais cometimentos...
Certo, certo, é que um destes dias em que o rio estava mais revoltado que um daqueles pensionistas que descontaram uma vida inteira para a reforma e depois os euros da mesma se esgotam na farmácia, os utentes da formosa e moderna? nave cacilheira que liga as duas margens de um Tejo a maioria das vezes manso, pouco experimentados em tais embaraços náuticos, deitaram as mãos á cabeça esquecendo-se de lhes dar serventia nos coletes de salvação.
Registei o pânico e a atitude; ou naquele momento, o único filho da pátria que ali navegava era eu?. O que não seria de estranhar, dado não ser hora de ponta e as características rácicas dos outros passajeiros... Meras conjecturas. Por mim, quando a embarcação se inclinou quase noventa graus para estibordo e olhei o Terreiro do Paço, o Castelo e o Panteão por um ângulo jamais observado, jurei a mim próprio que a travessia do Tejo... só pela ponte Vasco da Gama...
Foto de: Alberto Oliveira.

Sunday, December 11, 2005

METROCOLOR



















«Bolas! menos uns segundos e apanhava-o!» exclamou esbaforido e desalentado o homem pálido, de fato cinzento-escuro, camisa branca, gravata magenta e pasta bordeaux. O ruido guinchado do rodado das carruagens nos carris perdeu-se na escuridão do túnel e o homem pálido sentou-se num dos bancos corridos da estação tendo por companhia á sua esquerda, dois painéis de publicidade, o primeiro do triunfo da moda onde predominava o vermelho e que tinha em primeiro plano uma mulher de seios fartos e quase perfeitos?! e o outro, poucos metros mais à frente, em que uma mãe adestrava o filho na difícil arte do crédito-em-bolas-de sabão-incolores.
O homem pálido alargou um pouco o nó da gravata magenta e passeou os olhos pela parede alta de azulejo azul-da prússia de diversas gradações, que se mostrava à sua frente para lá da linha férrea. Uma sequência de coelhos com enormes patas, desfilava a todo o comprimento da estação. Surpreendeu-se; há anos que apanhava aquele transporte e nunca tinha reparado naquelas figuras monstruosas. É certo que era um sujeito metódico e o relógio uma espécie de deus; chegava à estação no preciso momento em que o combóio fazia a sua aparição.
Voltou a cabeça para os seios da mulher-triunfo. Era uma visão bem mais agradável e colorida. Pensou mesmo que o meio-sorriso lhe era dirigido. Mas impelidas por uma ligeira brisa que chegava do rio e descia até ao local, as muitas bolas de sabão sopradas pela mãe da criança acabaram por se desfazer nos olhos do homem pálido que com a aflição se viu impedido de apanhar o combóio seguinte. Pior; ao jantar a esposa tinha-lhe feito uma surpresa: coelho à caçador. O homem pálido ficou branco como a cal da parede... que por sinal era verde-alvalade.
Foto de: Alberto Oliveira.
Os painéis de azulejo da estação do Metropolitano do Cais do Sodré foram executados pelo pintor Pedro Morais, que interpretou alguns esboços deixados para este trabalho, pelo pintor António Dacosta antes de falecer. Os painéis representam um coelho apressado numa evocação do clássico "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll.

Thursday, December 08, 2005

DESENLACE



















A decisão há muito que estava tomada e apenas a vinha protelando porque não é fácil transpor a fronteira entre o que o nosso imaginário tece e o que vamos enfrentar de facto. Mais difícil ainda, porque não se tratava de discutir um mero acordo comercial, argumentar um ponto de vista político ou clarificar uma posição profissional. Sim, façam favor de teorizar à vontade que "quanto mais adiamos, mais dificuldade temos em resolver um determinado problema" que "analisar friamente uma situação e assumi-la rapidamente, é o que deve ser feito para que não surjam males maiores" e algumas outras pérolas verbais do género. Pois sim; conselhos muito assisados , sobretudo quando não somos nós que vivenciamos o assunto em causa.
Numa relação que quase posso garantir me acompanha de tenra idade -quando os meus olhos se abriram para as formas, cores e sons, decerto que ela foi a primeira que olhei e me foi acompanhando (e eu a ela...) até hoje. As minhas mais secretas esperanças, angústias , alegrias, mágoas, derrotas e vitórias, foram com ela partilhadas e... em primeira mão. Conhecia em pormenor as histórias dos meus amores e desamores de adolescente (tantos foram!); uma (ou duas?!) paixões assolapadas, três casamentos, um divórcio e uma viuvez. E sabia de cór o nome de todos os meus amigos, conhecidos e alguns ódios de estimação que se conquistam ao logo dos anos. Creio não ser necessário alongar-me mais, pois o que descrevi, dá uma ideia da dimensão de tal relacionamento.
Hoje pela manhã, depois do pequeno-almoço, saimos para a rua. Poucos passos andados, parei, olhei-a nos olhos e disse-lhe simplesmente «Não te quero mais colada a mim; estou farto!». Não pestanejou sequer; partiu cabisbaixa, em passada lenta. Acompanhei-a com o olhar até ao fundo da rua; ao dobrar a esquina voltou-se e acenou-me num breve adeus. Dei por mim menos leve; desvencilhei-me da minha sombra, mas fiquei com uns gramas a mais na consciência.
Foto de : Alberto Oliveira.

Monday, December 05, 2005

CORTE RADICAL



















Não sei se os meus amigos me vão perdoar a brutalidade da imagem. Mas depois do que se passou com o pombo, sinto que a sinceridade que tenho tido para convosco (sempre me dirigi a vós com o coração nas mãos... e se mais orgãos e pianos precisos fossem...) sofreu abalo sério ao porem em causa a minha reconhecida amizade que tenho para com os animais... de toda a espécie (exceptuando dos que não gosto óbviamente) e vejo-me compelido a ilustrar, cada vez mais com imagens e menos com letras, o que me vai sucedendo no dia-a-dia. Quem sabe se, por força do hábito, comecem a acreditar mais no homem e menos no comediante que há em mim.
Foi aquilo que se designa por um golpe do destino. Hoje, no final do almoço, ao descascar uma pera rocha, a navalha de ponta & mola que uso para estas delicadas operações, fugiu-me da mão direita e foi célere ao encontro do meu dedo mínimo da mão esquerda. Num ápice, o dedo voou-me para debaixo da mesa e o sangue brotou de imediato do que restou do apêndice manual. O cento e doze apareceu quase de imediato; o dedo não, pese embora todos os esforços do pessoal que estava no restaurante. Há quem afirme a pés juntos que um cão rafeiro que inopinadamente entrara no local, se afastou a lamber-se. Meras suposições. Facto concreto é que estou ...mais leve.
Foto de: Alberto Oliveira.

Friday, December 02, 2005

O POMBO: PART TWO e ÚLTIMA



















Não sendo adepto confesso do remake, da part two or three, nas histórias do cinema, muito menos o sou no virtual bloguista. O original é sempre o original (para o bem ou para o mal) e as continuações, prestam-se a alguns equívocos. Mas enfim; há gostos para tudo e não é por aí que vem grande mal ao mundo, onde o entretenimento, quer no cinema quer nos blogs até poderia ser um dos actores principais.
Vem isto a propósito da imagem que estão a ver no post de hoje. E admito a legitimidade de questionarem quem subscreve o que no parágrafo anterior se escreveu (seria estultícia o próprio não subscrever o que escreve...), quando lhes aparece uma vez mais pela frente outra ave columbina, quando ainda há meia-dúzia de dias atrás, o pombo tinha honras de cartaz.
O motivo da aparente contradição foi-me oferecido de bandeja por uma amiga comentadora que pôs em causa a minha reconhecida e proclamada afeição pelos animais, sejam eles de que espécie forem e, cito de memória, que eu teria atado as patas à ave para ela surgir assim queda e muda no retrato!. Fica aqui a prova que o pombo de imagem de hoje, é o pombo da imagem do dia vinte e seis do pretérito mês. De tão manso que era, até chegou a entrar pela casa dentro. Na altura desta foto, estava assente numa única pata, costume que algumas aves têm; não porque eu lhe tenha cortado a outra...
Foto de: Alberto Oliveira.