QUASE TITANIC
Português que não tenha entranhado no corpo o desejo de navegar, não lhe devia ser permitido o acesso à cidadania lusa. Parafraseando Alegre, o poeta-candidato, o "acesso à pátria". Natália, outra poeta que infelizmente já não se encontra entre nós, diria melhor -no meu entendimento, que se pátria é do género feminino, mátria como ela escreveu, é que está correcto. Mas isto são meras referências, provavelmente porque o autor deste texto, procura enriquecê-lo e, em paralelo, dar-se ares de vastos conhecimentos literários. Se fosse a vós, saltava estes intermezzos que não adiantam nem atrasam ao que aqui se pretende relatar e avançava na leitura, de peito feito... às ondas.
Escrevia eu, que nas veias, nos corre sangue marinheiro e nem precisamos de nos socorrer dos feitos de antanho, que desses estamos conversados e já chegam de bastas vezes servirem de (pobre) consolo às misérias que se vão vivendo neste rectângulo... à beira mar plantado; pois se até a situação geográfica contribuiu decisivamente para tais cometimentos...
Certo, certo, é que um destes dias em que o rio estava mais revoltado que um daqueles pensionistas que descontaram uma vida inteira para a reforma e depois os euros da mesma se esgotam na farmácia, os utentes da formosa e moderna? nave cacilheira que liga as duas margens de um Tejo a maioria das vezes manso, pouco experimentados em tais embaraços náuticos, deitaram as mãos á cabeça esquecendo-se de lhes dar serventia nos coletes de salvação.
Registei o pânico e a atitude; ou naquele momento, o único filho da pátria que ali navegava era eu?. O que não seria de estranhar, dado não ser hora de ponta e as características rácicas dos outros passajeiros... Meras conjecturas. Por mim, quando a embarcação se inclinou quase noventa graus para estibordo e olhei o Terreiro do Paço, o Castelo e o Panteão por um ângulo jamais observado, jurei a mim próprio que a travessia do Tejo... só pela ponte Vasco da Gama...
Foto de: Alberto Oliveira.
38 Comments:
Só para dizer que um dia, há mais de uma década atrás, a travessia Lisboa / Barreiro no final do dia, já cansado adormeci. Acordei com um "velhote" a bater-me no ombro e perguntando:"Ó jovem vai para Lisboa?" Ao que respondi:"Não, vou para o Barreiro".Ao que ele rematou:"Então corra e saia, se não "ia" para o Barreiro!"
Não precisas de enriquecer o teu texto com referências literárias para pensarmos que és rapaz de muitas leituras. Nós já tinhamos percebido de uma forma bem mais subtil, pela forma como escreves!
Nota: ainda que as referências literárias sejam, no meu ponto de vista, sempre enriquecedoras!
Pois é... corre-nos nas veias o desejo de navegar por rios, mares e palavras. E as tuas são boas marés mesmo para velhos do restelo - que anseiam a cada 3 dias por mais uma partida.Com beijos, claro!
...bem!!! Não sabia que uma travessia do Tejo poderia ser tão impressionante…
Mas confessa lá… pelo menos o dia começou (ou acabou) de forma diferente… Pena não teres levado a máquina fotográfica para registar o verdadeiro e derradeiro momento.
;)
Beijo SK
...é bem feita!...optasses pela fertagus!!!;-)))
Uma viagem atribulada numa das naus d'A Invencivel Armada que diariamente atravessa o Tejo , despejando a outra margem no Terreiro do Paço! Já vi Lisboa a 90 graus , mas de avião e detestei.Entrei em pânico comedido pois tive vergonha de gritar.
As minhas aventuras marítimas resumem-se às travessias do rio Tejo que fazia há muitos anos,quando ainda não havia Ponte(s) .Estou pois a falar da época jurássica em que criança , ía com os meus pais de carro dentro de um barco, que nos atravessava até Cacilhas.De cacilhas até Almada "subiamos" por um caminho estreito e depois , de Almada até à Costa da Caparica seguiamos a 60 à hora, por uma estrada mal amanhada, cheia de buracos e curvas.Chegávamos à praia espapaçados mas , naquele tempo a Costa era um paraíso e rapidamente nos recompunhamos!Um pequeno e pobre aglomerado de pescadores, uma escola primária ,os bombeiros, a rua dos pescadores que dividia a vilória ao meio e , do outro lado a pequena igreja e os chalets de uma pequena burguesia lisboeta que ali passava férias e fins de semana.
Ah, bravo marinheiro..assim é que se fala, e cumpriste?!! sempre Vasco da Gama?! :) lolllllll
Eu andei duas vezes de barco e quaisquer delas a passeio, e confesso aqui publicamente, prefiro uma gravidez, pelo menos os enjoos são por uma boa causa ;)
Beijos e resto boa semana.
Por incrivel que pareça os navios são mais seguros do que pensamos.
De qualquer modo e habitando à beira mar o sangue que me corre nas veias é salgado.
marinheiroaguadoce a navegar
Eu concordo, qualquer português que se preze tem que ter estômago de aço e nervos de ferro.
E deve mostrar-se inteligente, passar pela ponte, qualquer que ela seja.
lgvl num sabi naada?!!! yoooooo!!!
lol eu nem sobrevivia, tipo todas as viagens que se assemelharem a montanhas russas estão interditas e proíbidas à minha pessoa!!! bxox ;)
Percebo perfeitamente a escolha do Vasco da Gama!... ;)
Nem tudo foi mau acabaste de arranjar material para um bom post, além de uma bela fotografia.
Um abraço.
ai que saudades de andar de cacilheiro! Definitivamente o barco à ponte!
Gostei muito do texto e acho muito gira a sequência T.Paço, Castelo e Panteão para, vencida porcela, o susto e, provavelmente --seria esse o caso comigo -- o enjoo, encontrar na ponte Vasco da Gama a solução.
Muito bem.
Um abraço
E os golfinhos? não viste os golfinhos aos saltos?... quanto aos intermezzo tenho a declarar que é a parte de que mais gosto... os finalmente é o pior!!!!
Voltando à conversa de marinheiro, adorava dar a volta ao planeta navegando pelos oceânos, mares... hum... ir no expresso do oriente... dar uma voltinha de camelo, saltitar agarrada a um lama!!! a patagónia, a patagónia
Titanic ná, isso é coisa de novo-rico*
*afogado
:)
Só para dizer umas coisas que, se todos sabemos, pelo menos não é comum ver-nos admitir. Não existe tal coisa como "sangue marinheiro". Não existe nenhum "gene explorador" que nós, da raça lusitana, pretensamente temos e os outros não. O que nós temos é muito mar e, um dia, no passado, tivemos uma vida de merda que nos empurrou para ele. Mais tarde, a diáspora veio outra vez gerar essa onda elogiosa - "oh, que aventureiros que nós somos!", quando, na verdade, a grande aventura teria sido ficar.
William Copeland, um americano especialista em História da Rússia, que tive a sorte de ter como professor, disse-me um dia que "A Geografia é a mãe da História". Nada mais verdadeiro, se pensarmos. Somos como somos porque estamos onde estamos. Se calhar, o que nos diferencia dos austríacos é, antes de mais, o mar que nós temos e eles não.
... e a propósito da questão da pátria, gostaria de recomendar "As Identidades Assassinas", de Amin Maalouf, curiosamente citado recentemente no Sangue na Navalha, do Ricardo Marques.
Para jl:
Esse episódio que viveste tem naturalmente uma moral: "nunca devemos adormecer vestidos!".
Bom fim de semana!
Para pé:
São comments como esse que deixaste aqui produzido que fazem com que eu me sinta revigorado; não é todos os dias que me chamam rapaz.
Chama lá outra vez. É óptimo!
Bom fim de semana!
Para lia c:
Velhos do Restelo?; onde é que eu já li isso?! Não só do Restelo, Lia, não só. Portugal é um dos paises da Europa onde a população idosa cresce todos os anos em flecha. Assim sendo, ninguém escapa ao apodo... até os menos idosos.
As minhas palavras reflectem (assim penso ao ler-me...) alguma experi~encia de vida.
Beijos e um óptimo fim-de semana!
Para @:
Estavas com o estômago fragilizado; costuma dizer-se que "quem vai ao mar, avia-se (come) em terra". Deve ter sido por isso...
Um fim de semana sem enjoos!
Para salsolakali:
No caso concreto, a camera de video com a voz da Celine Dion* em fundo...
... um importante documento histórico para a posteridade...
* Talvez ficasse melhor um faduncho.
Beijos e um belo fim de semana!
Para lélé:
... pois; se apenas viajaste de bote-cacilheiro duas vezes?! podes ter tido a sorte de nessas vezes não ter chovido...
Tem um bom fim de semana... em terra!
Para amok_she:
Que raio de bicho é esse??!! É um peixe do tejo?! (tagus de tejo, fer de feroz?!).
Lá vou eu á enciclopédia ilustrada...
Para i&c:
Fizeste um desenho perfeito da "outra-banda" que nesse tempo era mesmo a "outra-banda-banhada-pelo-oceano". Hoje é um pedaço geográfico da área metropolitana da "grande Lisboa".
O tempo corre como areia fina entre os nossos dedos...
Para o ano temos mais praia; mas podes adiantar a época balnear se fores ao Rio de janeiro pelo Carnaval...
Bom fim de semana!
Para guidite:
Bem vinda a este barco que não mete água... e tem coletes de salvação para todos!
Para maria do céu costa:
"Foi" um Titanic à portuguesa; nem sequer teve a orquestra a tocar até a água fazer calar os instrumentos...
Beijinhos.
Para lagoa azul:
Se eu não gostasse de "navegar", não poderia invocar tal preferência...
Mas, sem ter grande experiência na matéria (navegar à séria, num veleiro transoceânico... seria um desafio e tanto ), não me faz confusão nenhuma.
Beijos e uma óptima semana!
Para marco ferreira:
É bem verdade. Comparativamente a outros meios de transporte, uma embarcação é em termos de segurança bastante fiável.
E relação ao sangue, tenho algumas dúvidas. Com tantos bolos que como,o meu deve ser "doce". Tenho uma "vampira" minha amiga que me pode dar uma opinião...
Bom fim de semana!
Para vodka e valium 10:
Nos tempos que correm (e nos mais antigos), só pode!
E sem dúvida que tem de ultrapassar obstáculos diversos até conseguir atingir "pontes dialogantes".
Bom fim de semana!
Para fi@:
Nado razoavelmente sobretudo se tiver "pé"...
Das "montanhas russas" nada posso adiantar. Nunca estive perto dos Urais.
Kisses.
Para sotavento:
Eu sei que tu "lês" a minha escrita nas entrelinhas... salgadas; não precisas pôr mais na carta...
Para armando ésse:
É isso; temos de aproveitar o que a vida nos proporciona; do menos bom ao óptimo.
Abraço.
Para manhã:
É muito menos monótono, sem dúvida; e com a vantagem de não haver filas...
Para jpd:
Também gosto daquele pedaço da Lisboa à beira-rio; daí a preferência da imagem para ilustrar este post. Mas há outros bons locais para conseguir fotos interessantes a partir do rio; a viagem Lisboa-Trafaria é óptima para isso... como sabes.
Abraço.
Para segurademim:
Golfinhos no Tejo?! Agora só no Sado e há poucos... os tempos estão difíceis até para os golfinhos.
Já vi que gostas de viajar; mas uma conversa de marinheiro no Expresso do Oriente ou no dorso de um camelo, não me parece muito fácil; num lama já não digo nada. Quando se aborrecem dirigem uns jactos de água valentes contra o cidadão; se é salgada é que não garanto...
Para vostradeis:
É interessante o teu comment. Seria fastidioso argumentar que os meus posts procuram a ironia -embora a ironizar se digam algumas verdades... e este não fuja à regra, pretendendo até contrariar a "ideia", devo esclarecer que estou de acordo, parcialmente, com a tua opinião.
Não me desagrada, bem pelo contrário, que os portugueses tenham desbravado novas rotas marítimas, pois isso foi um contributo importante para o conhecimento do planeta. Talvez aí e por esses tempos se tenha feito jus à ideia de "cada português um marinheiro", embora também saibamos que a maior parte das tripulações eram "angariadas à força"...
A pior parte, a mais miserável, vem com as colonizações e com todo o cortejo de problemas que elas trouxeram até a tempos bem recentes da nossa história. Se isso servisse de consolo, dir-se-ia que não fomos os únicos... consolo que não colhe em gente bem formada.
Sobre o Amim Maalouf tenho em "fila de espera" um livro para ler. Depois passo pelo Ricardo a dar uma espreitadela.
É gostoso ouvir tais referências!... e o espírito, na maioria das vezes satírico, dá-lhes um tempero todo especial.
Um abraço.
PS. Estive a falar de um texto ou de uma refeição?!
Post a Comment
<< Home