FÁBULA MISTA sem MANTEIGA
Era uma vez o meu dono (assim se imaginava ele...). Mal se tinham começado a ouvir os primeiros ruidos dos carros na rua, tirou-me cuidadosamente do pêlo do cão -este sim, escravo e lacaio assumido e me informou sorrindo simpáticamente «Hoje, vou fazer-te uma bela surpresa; prepara-te que vamos sair!». Porque já sei o que a casa gasta , devo pô-los ao corrente que sorriso simpático + prepara-te! significa ordeno-te! . Às nove, introduziu-me naquela caixa de fósforos com buraquinhos minúsculos (não fosse dar-me o trangolamango) , que tresanda a bafio e que pelo design deve ter sido usada pelo avô do seu trisavô.
Por volta das dez, eis-nos a entrar no estabelecimento de pronto-a-vestir masculino do conceituado e finérrimo Prosa & Ameixoeira . O meu dono (pensava ele...) de imediato chamou pelo gerente. Este, ao surgir dos fundos curvou a marreca (sinal de outros tempos) e inquiriu «Vosselência... o que deseja desta sua humilde casa?». Altivo, mas de sorriso condescendente (aquele que se usa para a arraia miuda em tempo de vacas gordas e magras), ordenou: «Quero um fato de boa fazenda e de corte actual aqui para a minha pulga-macho».
Ia-me caindo tudo mas mesmo tudo , aos pés. Então não é que o sacana deste meu dono (convencia-se ele...), tem a distinta lata de me querer ver enjorcado da cabeça aos pés?! E sem antes, ter a amabilidade de me perguntar se eu gostava, sabendo que sou um acérrimo defensor -e praticante, do naturismo?!. O meu dono (como estava equivocado...), perdeu o pé de vez; porque de quando em quando lhe animo os dias cinzentos com umas quantas habilidades e palhaçadas de pulga-macho bem disposta com a vida, imagina que isso lhe dá o direito de me ter na mão ; de lhe dizer tudo o que me vai na alma ou de me vestir o corpo segundo os seus padrões. Ele pode perceber de cães; de pulgas-macho não. O meu dono nunca o foi; e se o pensou, era uma vez.
22 Comments:
Este texto fez-me lembrar o livro Papalagui.
Era uma vez...
(tu devias escrever uns contos, não tanto de ficção cientifica mas mais do fantástico...)
:D
BJ SK
Este texto é um desafio excelente por exigir, mais do que habitualmente, de quem o lê. Há aqui uma necessidade premente de insubordinação mas também um certo temor de afrontar o poder estabelecido, »o dono»! Belo texto amigo.
Um abraço
(Agora que a Caravela D. Fernando e Glória vai aí oara Almada que tal uma aventura nela!
Mais um abraço.
E logo a ti que és um indisciplinado, um rebelde ...
claro que és um pulgo sem dono, sem cangas e compromissos; entendi-te o compromisso possível, contigo - é o da vadiagem... e as vontades dominantes já eram a tua cena é a de saltar, saltar... e por vezes és apanhado numa caixa de fósforos com buraquinhos; agora de fato de boa fazenda e de corte actual ??!! é demais, tens toda a razão, não dá !!! e os donos e candidatos a donos que se lixem, que tu tás bem acompanhado e tens pulo suficiente para "agarrar" outros cães e quiça cadelas !!! é isso, força, força, e viva a liberdade !!!???
Agora é que fiquei sem palavras!... O que é que uma pessoa pode dizer, de jeito, a uma pulga?!... :)
De blog em blog vim ter ao teu e gostei :)
Volto para te "ler".
Beijinho e Bom FDS :)
Adorei...Gostei da óptica com que foi feito o texto, do tom, do conteúdo. Adorei, já disse não já?
:)
Pulgas à parte, um bom fato e gravata fica bem a qualquer homem!
Para Salsolakali:
Se tu soubesses o trabalhão (mas também o gozo...) que me deu a engendrar a dramatis persona* díptérica...
Os meus contos são todos fantásticos **
Beijos e uma boa semana, que o domingo está nos finais...
* Ando a treinar o latim.
** Opinião pessoal e transmissível.
Para Jpd:
Aprecio os teus comments porque habitualmente procuras aprofundar o âmago das questões que levanto nos posts que edito. Outras (poucas) não, mas isso é pormenor e assunto teu...
Vejamos então. Sobre a insubordinação, estás certo; a pulga-macho foi expulsa por duas vezes (em anos diferentes) das escolas que frequentou.*
O temor de afrontar o poder estabelecido não me parece ler-se do contexto. Para mais, cinco anos em Caxias e dois em Paço d´Arcos, atestam a seu favor...da pulga.
Desde que o Pulo Tortas saíu do executivo,a marinha de guerra anda pelas ondas da amargura...
Abraço.
Para Wiss:
Já percebi (depois de algumas e aturadas investigações...) que lês perfeitamente o que escrevo em português e respondes-me em inglês.
Porque domino razoalvelmente o idioma de Lord Nelson*, reservo-me o direito de te responder em...português e assim ficamos...empatados.
Tens razão (e como detesto ter de te escrever isto...) andamos todos a manipular-nos uns aos outros, é um forró dos antigos!, mas com o tempo, as coisas vão entrar nos eixos. Vais ver!
Beijos.
* Para os não especialistas adianto que Lord Nelson foi um reconhecido almirante inglês na reserva e que, aproveitando um momento menos bom de Ricardo Coração de Leão, lhe usurpou a baliza dos verdes.
Para Segurademim:
Ó diabo! Tu és outra que tens algum pacto com o insondável?!
É que para me conheceres tão bem e comungares dos mesmos ideais libertários só podes...ter estado também em Caxias...espera; ou teria sido em Santo Amaro de Oeiras?!
Esta marginal marcou-me para o resto da vida...
Boa semana!
Para Sotavento:
Embora não pareça, a comunicação é fácil; o alfabeto é composto por apenas cinco símbolos. Sorriem a toda a óra (o h não existe) e andam sempre a dar pulos de contentes.
As picadas, revelam a sua grande aptidão para analistas de sistemas... sanguíneos.
Para Nina:
Obrigado pela visita. Passarei pelo teu blog.
beijinho e boa semana!
Para Mood:
E o teu fim de semana? Foi daqueles "fabul...osos"?!
Uma óptima semana para ti.
Para Manhã:
Desculpa lá estes "intermezzos" que de vez em quando "parecem ocorrer na blogsfera".
Não desgosto, não senhora. Um fatinho com uma gravata é o que, até por dever de ocupação, uso e...abuso!
Para Manuel:
Pois é, meu caro. Esta história das pulgas...pega-se. Mesmo que não se goste, mal nos descuidamos (sobretudo quem gosta de fazer festas a cães...) lá temos uma coleira...perdão, uma coceira à perna!
Detesto coleiras, perdão coceiras; e o meu texto, na minha opinião, está muito bem conseguido*
* A opinião do autor, é essencial para a sua sobrevivência...artística.
Abraços.
Para m. btfly:
Moça, não te deixes decepcionar com os tentáculos da vida; tens muito tempo à tua frente. Até para comer polvo... Que se pode papar quase de tantas maneiras como o bacalhau...
Beijos.
Para Manuel:
Quase me apetecia dizer que a coleira serve no pescoço de quem a usa....
E, como leste, a coleira (embora por duas vezes) saiu cá para fora com o respectivo "perdão" a seguir...
Pelo que costumas interpretar dos meus escritos (fazendo fé nos teus comentários a propósito) não será caso para "te confundires". Digo eu, que de âncoras também gosto delas "em fundos seguros, amigáveis e...leais".
Azedo?! se soubesses o que me tenho rido nestes últimos dias...À séria!!
Abraços.
Realismo fantástico?! fantástico, não tenho dúvida.
:)
valeu :)
:)
Para Batista filho:
Fabular o real
que pode ser fantástico
ou não;
da côr ao gesto
então,
os nossos sentidos
fazem o resto.
Abraço.
No mínimo, bastante criativo! A história está muito bem conseguida!
Com que então todos os textos são fantásticos? Em que sentido?? (A qual das palavras homónimas te referes? :P A ambas? Para mim são mesmo fantásticos!)
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