A DESENCAMINHADORA
Pois foi. A minha amiga Catarina, finalmente casou-se. Não que corresse perigo iminente de ficar para tia, como se costuma dizer; não. Pode-se dizer em boa verdade que ainda é uma jovem -na plena posse dos seus recursos físicos, com tudo o que isto queira significar e, o que não é menos importante, é uma mulher inteligente, preocupada e envolvida com as coisas do social. Pelas conversas que fomos tendo nestes últimos anos, a Catarina apenas pretendeu não se amarrar demasiado cedo. E como não podia deixar de ser, tal facto provocou algum frisson (como adoro estes francesismos no interior das minhas conversas convosco! Nunca tinham notado?), a algumas senhoras casadas e residentes aqui na minha rua. Eloquente e como exemplo de tal, a conversa que hoje ouvi de manhã, enquanto aguardava a minha vez para a caixa do banco, da Elvira (uma enfermeira reformada, viúva, que tem um cão preto manco* e que deve ter uma agenda com o registo dos factos mais importantes da vida de todos os moradores dos prédios mais próximos do seu) , que dizia para a Alcinda (que é surda que nem uma porta e que diz a toda a gente que sim...): «A gaja teve a lata de ir de branco! Como se não soubéssemos o que ela fazia...». E aquele fazia era enfatizado e a outra só abanava a cabeça para baixo e para cima. E completou com uma frase de dramaticidade garantida: «Veremos se é desta, que os nossos maridos (solidária, juntava-se ao colectivo e esquecia a própria viuvez), andam de cabeça mais descansada, que aquela mulher é um perigo permanente!».
Pasmo, como ainda se fabricam conversas deste teor nos tempos que correm. O que esta historiadora da minha rua não terá já registado na sua agenda àcerca da minha pessoa, sobre as vezes em que me viu à conversa, na rua ou no café, com a minha amiga Catarina? E quando a minha mais-que-tudo se nos juntava? . A perversidade mental não tem limites; o marido da Catarina também vai ter um lugar de relevo nas histórias da Elvira. E não vai ser pelos melhores motivos; aposto.
* Quem tem a agenda é a Elvira; não é o cão...
30 Comments:
Está excelente!
Um abraço.
Mas q grande coboiada!
Não há aí ninguém normal? Nem mesmo o cão?!
Tch!... (-Santinho)
oláaaaaaaaaaaaaaaaaaa! :)´:) :) :)
Ora então já estás legível!... Pois gosto de te ver assim!
Vais ter q me dar algum tempinho para conhecer melhor a Catarina e só depois te digo o q penso dela. Qt a ti... sabes o q penso! És um encanto a escrever!
Deixa acalmar a azáfama em q a Srª Ministra da Educação me meteu e vais ter mt q me aturar por aqui, pois claro!
Um beijo grande para ti e outro igualzinho para a tua mais-que-tudo tão docinha!
Já vi que temos um "desporto" em comum... usar o mata moscas... tunga!! Aquilo é que é! Realmente, moscas é um animal doméstico ao qual não me afeiçoo. Dificuldades de relacionamento, portanto.
Agora, este teu texto está lindo, mais uma vez!!! :o)
A figura tão típica da D. Elvira fez-me lembrar uma senhora que resolveu processar a vizinha da frente, uma moça gira e despudorada, que tomava o seu banho matinal e depois, como não tinha cortinas nas janelas, passeava-se, na sua própria casa, apenas com a toalha, enquanto se secava. Ora, o que queria esta outra "D. Elvira"? Pedia ao juíz uma ordem para essa moça despudorada colocar cortinas nas janelas, porque o marido da senhora tomava o pequeno almoço todos os dias, encostadinho à janela... enfim, para "observar" a vizinhança. O juíz disse: minha senhora, as cortinas em casa servem para proteger a intimidade das pessoas que lá vivem. Só coloca cortinas quem quer. Não posso legalmente obrigar uma pessoa a colocar cortinas na sua própria janela, porque a ausência da cortina incomoda os outros, os de fora!! O juíz esboçava um sorriso.
Quer-se dizer, ó meu amigo... tu e a Catarina e a tua mais-que-tudo alimentam muita fantasia ... e que bom é fantasiar. Ainda deviam estar-vos gratos :o)))
Vocês são todos muito "modernos" é o que é!! eheh
A D.Elvira é um ícone Lisboeta. Na minha rua há-as aos magotes. Normalmente juntam-se todas num café aqui ao pé, o qual eu contorno estrategicamente e de revista ou jornal tapando o rosto. Há-que ser low profile. O ambiente é de tal modo vil que suponho que haja senha para entrar:
-a falar deste e daquele é que está bem...
- e se puder ser, 'deixá-lo mal' com a mãe.
- PODE ENTRAR!!
Mais um bom texto :)
Bjinhos
Qual é a marca da agenda?!... Ou não te pagam a publicidade?!... :)
Se calhar o marido da Elvira, veio de além túmulo, juntar-se à festa, em noites de Lua cheia, nunca se sabe! O pessoal tem é falta de festa e arruma com os que a têm ou têm alguma! IMBEJA é o que é! Não há dúvida que o teu bairro é o mais animado de que ouvi falar, aqui nem conheço os vizinhos!
Boa noite, Legível! Tal como tu tens uma amiga algarvia,como eu, também eu tive um amigo que escrevia quase tão bem, como tu! Era um amigalhaço, mas desapareceu numa maratona - sobre a Ponte 25 de Abril (que eu conheço tão bem como tu conheces a Praia da D'Ana)ia ele na zona mais chegada ao rio a última vez que o viram; nunca mais ninguém o viu; eu inda tenho esperanças de ele tenha voltado para a outra banda acagaçado com as alturas e esteja andando por ai sem destino! mas que era amigalhaço isso era! No que respeita a esta estória Elviras há muitas, Catarinas sei cá...agora como TU,Legível, e a tua mais-que-tudo, eu conheço poucos...
Engraçado...na area da psicologia tem.se por hábito dizer que quando apontamos o dedo não devemos esquecer que temos o polegar virado para nós...creio que para bons entendedores basta!!! um bxo fi@vel apenas...para não correr o risco de ser desencaminhadora...desta feita de bxox...
Que se lixem as elviras deste mundo!!! vivam as catarinas!!!
Só é desencaminhado quem o que ser!
Uma saúde aos casamentos longos, curtos e assim, assim; ao sexo antes do casamento ao atraso que da cerimónia que daí deriva!!!
Saudemos os ilegíveis os legíveis, os long and short size...
No fundo todos temos o direito de curtir... á nossa maneira, claro !!! o vestido da noiva que era blanco e radiante ...
e a mi que soy despida de dolores e vestida de colores...
pois é, somos permanentemente confrontados com pessoas assim. Felicidades para a Catarina :) e que não se divorcie tão depressa.. *
Bom te ler, amigo. Consegues captar com mestria os mais variados tipos ao nosso redor.
valeu!
... só não digo o quanto
porque também não posso pagar.
pagar o preço justo
se justo fosse pagar pelo talento de quem faz das palavras
um ofício invulgar.
Para Jpd:
Thanks! Bom domingo.
Abraço.
Para Mjm:
O animal vai ser vacinado na próxima semana.
As constipações nesta altura do ano são um problema...
Para Cris:
Olá!
Sobre a "legibilidade" podes confirmá-la por um dos posts iniciais deste blog. É quase um tratado!
Estragas-me com mimos! Já a Catarina é a mesma coisa...com algum despeito das minha "mais-que-tudo"...
Já que tens alguma confiança com a ministra, pergunta-lhe se ela não precisa um gajo para lhe escrever os discursos...
Será um prazer aturar-te! A "minha mais-que-tudo", manda outro para ti.
Beijo grande!
Para Pp:
É verdade; um grande desporto. Esse e o do golfe...
Essa história que tu contaste, ainda supera a minha...Olha se a moda pega?! As casas nas cidades, tornavam-se em delegações de naturismo. Isso dá-me ideia para um post...
Costuma-se dizer que "a antiguidade é um posto". Aqui, nestas histórias, "a modernidade é um gosto!"
Para Mood:
Claro que estes "bonecos" só podem ser retirados da realidade...ainda actual. Só os nomes é que são fictícios para o autor não correr o risco de, volta-não-volta, andar em curativos no hospital mais próximo.
Bom resto de domingo. Beijinhos.
Para Manuel:
Lamento contrariar-te mas não fui padrinho da Catarina e nem sequer fui ao casamento dela, uma vez que por essa ocasião estava na República Dominicana a resolver negócios urgentes. Como penso que já te disse, tenho lá uma sociedade numa firma de bananas-boomerang. Aqui dá dinheiro à fartazana, que um gajo vende as bananas e elas voltam aos nossos armazéns sem os clientes darem por isso...
Embora não entenda a tua questão, sempre te posso responder que:
Xeique cabeludo não sou, e cheque careca, muito menos...
Abraço.
Para Sotavento:
Pelo que me foi dado ver de relance, parece-me que a mulher comprou a agenda na papelaria fernandes, no rato. Mas como calculas eu não posso estar assim a debruçar-me demasiado sobre pormenores desses, que de tanto debruçar-me, ainda caio da janela à rua...
Pa Manhã:
Olha que essa está bem lembrada! Dar o toquezinho do sobrenatural. O regresso do além do marido da Elvira, a pôr os cabelos em pé à Alcinda, que além de surda é quase careca.
t
Tens razão; este bairro, só mesmo inventado...
Para Ana:
Pois é Ana! Esta gente devia era andar a apagar fogos, que nunca mais acabam! a limpar as ruas que estão tão sujas que parecem autênticas pocilgas!...ou, no mínimo, a trabalhar em qualquer actividade, para que nós pudéssemos ter uma vida mais repousada...
Para Jrd:
Gostei de te "ter encontrado por aqui" embora por pouco tempo. Mas, como diz a sabedoria popular, "Há mais marés que cacilheiros!"*
* Não sei se é bem assim, mas também pouco importa, não é?!
Para Seila:
Fiquei a saber que não acreditas nas coisas do quotidiano que trago aqui à colação. Deixa estar que não fico zangado lá por causa disso. Cada um é pró que nasce, já lá dizia o fado.
Desse "teu amigalhaço" que desapareceu "numa prova de maratona, na ponte sobre o tejo" espanta-me como é que não puseste um anúncio nos jornais, ido à polícia e corrido os hospitais. Mas tu lá sabes da tua vida.
Olha...tem um bom domingo!
Eu adoro a tua vizinhança!!!!!!!!!!!!!!...
só falta uma piéce de resistance*: o carro do vizinho do 2º esquerdo tapado com aquelas capas de plastico cinzentas, que ele só tira aos domingos... entupindo a estrada desde a porta de casa, a 2º circular, até a A1.
Eu tenho um assim na minha rua!
p.s.
* também gosto dos francesismos!
Para Fi@:
Isso é tão verdade que um belo dia, apontei o dedo para um gajo que estava num sexto andar e com a pressa, ia-me cegando com o meu próprio polegar.
Não temas; os teus beijos não me desencaminham.
Beijos e resto de bom domingo.
Para Segurademim:
É pá! Até parecia que estava a ler uma carta de intenções!
Uma vez que escreveste tudo e não deixas nada para dizer, termino, desejando-te um belo resto de domingo na companhia da passoa que amas?!
(sei lá se ela é casada ou não...
Para Rita:
Se somos! Também espero que a Rita se dê bem com o homem que lhe "saiu na rifa" (espero que isto não seja ofensivo) e vivam os dois muitos anos, juntos, ou não...
Quando a vir , dou-lhe o teu "recado", está descansada.
Para Batista filho:
Obrigado. É apenas uma questão de observação. Tenho é de ter algum cuidado, que há muita gente que não gosta de se sentir...observado.
É verdade. Mas se esse fosse o meu ofício, decerto que não teria muito tempo para andar por aqui, embora isto seja agradável.
Abraço.
Para Joana:
Ái Joana! do que te foste lembrar! Então não é que um destes dias pensei em fazer um post sobre mais um "dos tais vizinhos" que tem um carro que ama quase como a um filho? Quer-se dizer; quase como a um neto, que o sujeito já tem os seus sessentas e muitos...
Já tinha imaginado a cena em que ele se despede do carro, cerca da meia-noite, tapa-o muito bem tapadinho e lhe diz «dorme bem meu menino, que o avô, amanhã, vem ver se está tudo bem contigo...)
Fica para mais tarde. O post, claro.
Legível, meu bom juíz
Fartei-me de rir na Sota
Já lá te deixei resposta
E aqui vim meter o nariz
Não sei do que gosto mais
Se dos teus posts matreiros
Como um batalhão de bombeiros
A apagar fogos brutais
Se das respostas certeiras
Tão cheias de brincadeiras
Que aqui te deixo beijos
Mas caídos levo os meu queixos
O que é certo é que dominas
Não só a prosa c'm'as rimas
Tudo transformas em arte
Ficam melindres aparte
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