
Encontrei-o neste pretérito sábado, num daqueles passeios que faço para debelar os efeitos menos positivos de digestão de um lauto almoço de fim-de-semana. Devo prevenir que no meu bairro, já ninguém estranha a visita de uma figura pública. E se fosse necessário prová-lo, bastaria dizer que nas duas últimas semanas isso foi uma constante no que se refere aos candidatos presidenciais; mais as suas comitivas, também elas recheadas de outras figuras não menos públicas. E distribuiram sorrisos, beijos, abraços e bandeirinhas de tal modo, que uma qualquer testemunha fora do contexto, garantiria a pés juntos que as tais figuras públicas e seus acompanhantes não menos figuras públicas, nunca fizeram outra coisa na vida, senão conviverem quotidianamente connosco. Um deles -e não vou citar aqui o nome por razões óbvias, abraçou-me tão efusivamente, que tive sérias dúvidas que não fosse um familiar emigrante de cujas feições, por via do tempo, me tivesse esquecido.
Mas esta figura, reconhecida nos sete cantos do mundo, jamais vaticinei topá-la ao virar da esquina do prédio da Farmácia Moderna, agora totalmente remodelada, que os seus setenta anos bem precisados estavam. Pela cadência apressada, Tintin (pois dele se tratava... ) deu-me ideia -ao contrário das outras figuras públicas, de não pretender ser reconhecido e as bochechas coradas até me sugeriram ter sido alvo de um encontro menos oportuno. Fosse pelo que fosse, o jovem levava asas nos pés e com tal velocidade, não seria difícil admitir que dentro em breve se encontrasse na fronteira. Continuando o meu caminho, de passada bem mais calma, fui magicando no reboliço que seria no bairro, a chegada de Dupont et Dupont, do Capitão Haddock, do professor Tornesol, do general Alcazar e da diva La Castafiore. Sorrisos, beijos, abraços e bandeirinhas, chegam por agora. Deixem-me espaço às pessoas comuns por uns tempos, tá?!
Foto de: Alberto Oliveira.