SEM REDE
O universo circense desde sempre fascinou Demétrio que um dia sonhou ver o seu nome aparecer naqueles cartazes multicolores que pretendem sugerir a movimentação de corajosos trapezistas voando sem mãos, esbeltas amazonas com pernas montando cavalos em pelo, simpáticas focas carecas em roupa interior, ferozes tigres do exterior em papel de Bengala, palhaços pobres em cadeiras de rodas de esferas, ricos palhaços conduzindo Ferraris vermelhos, equilibristas no arame de quotidianos cinzentos, enfim, um cortejo de emoções fortes e encantamento, que apela aos habitantes dos sítios onde a caravana do circo estaciona, a assistir ao maior espectáculo do Mundo. O nosso homem bem tentou integrar esse mundo, mas as respostas eram invariavelmente idênticas "Esse número está muito visto. Passe por cá com alguma coisa mais original." Estava quase, quase, a mandar às malvas o sonho, quando por puro acaso, num blog de nome "Papel de Fantasia", leu um comentário -em castelhano pouco credível, a expressão "Caracoles!"Estava ali a chave do seu futuro sucesso. No quintal da sua vizinha Mercedes (com quem mantinha cordiais relações) apanhou dois desses moluscos gastrópodes de tenra idade e durante seis meses não se poupou a despesas e sacrifícios, alimentando-os à grande e à francesa e adestrando-os como se fossem para a guerra. Depois, bateu à porta do Circo Alfonso y Martinez e apresentou-se "O meu nome é Demétrio Shewarzenegger e estes são os meus Caracolões de Combate. Que tal?" A resposta foi pronta do homem que o atendeu "Vá ao Grande Circo Casa Branca e pergunte pelo empresário Bush. É capaz de ter sorte."
Valência, 2008. Texto e foto de Alberto Oliveira.