Tuesday, March 11, 2008

A VISITA DA VELHA SENHORA









"... mas querido... não vês que ela continua em passo de corrida e a ameaçar-me com a foice?!" As palavras eram entrecortadas de tal modo pelo bater dos dentes de Hortense, que Alcino achou por bem espicaçar-lhe o intelecto, filosofando "Era bom que a megera se fosse, era, mas quanto mais olhas para trás, mais te quer parecer que ela se aproxima!"... e tentava arrastá-la dali e de tal visão horrenda. "Mas que queres? não está mais na minha mão afastar os olhos daquela face ossuda e medonha que parece estar morta de riso com o meu ar de morta de medo." volvia Hortense cujas pernas não obedeciam à ordem de seguir para diante e, retrocedendo, já quase se confundiam com as tíbias da perseguidora. "Vá, anda lá para casa, que tens de vestir qualquer coisa. Quem sabe se não é por andares assim pela rua -nua como vieste ao mundo?! que a ceifeira te persegue? e depois, sabe-se lá, se ela não tem alguma coisa a ver com o ministério da agricultura e procura talentos naturais para o trabalho no campo?" E enquanto assim ia falando com a companheira, envolvia-a com os braços impelindo-a para a frente, na ânsia de aumentar a distância entre ela e a esquelética criatura. Por esta altura do texto, os leitores já estão a futurar que esta história não vai ter um final feliz. Pois se Alcino puxa Hortense para a frente mas Hortense apenas progride para trás... Têm razão, leitores: Hortense falece (imóvel) precisamente neste linha do texto, Alcino -mais adiante, morre alucinado com a tragédia e a Morte... bom, a Morte já está morta, não é?
Nuremberg, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
......................................................................................................................................
O autor dos textos e fotos deste espaço vai fazer uma pausa para refrescar ideias. Regressará, assim que a temperatura ambiente o permitir.

45 Comments:

Blogger Vanda said...

-Vá de retro, Satanás!!!

Gritou Adozinda, fechando apressada a pagina da internet que tinha acabado de ler. O neto, garoto sardento de olhos verdes e habitualmente de sorriso trocista, olhou para avó, atónito, enquanto pensava: A avó passou-se?!

Passou-se, efectivamente, Adozinda.
Do cimo dos seus muitos anos de experiência, nunca tinha deparado com tal teimosia num autor de blog.

Guilhotina, cadeira ou foice tudo a conduzia à morte!!!

Limpou o suor a um pano da louça, que isto da menopausa é o que dá, voltou à sala, sentou-se aprumada e num rasgo de ousadia, escreveu:

- Oh homem...vá de férias!!!
E no entretanto deite a guilhotina fora, faça a doacção da cadeira e aproveite a foice para oferecer a um qualquer partido politico!!

Depois disto, passou a mão pela cabeça do neto e já apaziguada, disse-lhe:

-Vem Jeremias, hoje vamos passear para a Boca do Inferno...

11/3/08 17:53  
Blogger JPD said...

O chefe Juvenal, dos Sapadores, não acrescentaria mais do que «...Não foi preciso desencarcerar. Eram todos cadáveres!»

Eu acrescentaria «Nem a mais pequena lâmina espelhada embaciariam!»

Um abraço

11/3/08 19:32  
Blogger T S said...

interessante texto!!!
adorei!!
um beijo
ts

11/3/08 20:49  
Blogger Ruela said...

deixa-me fugir ;)

11/3/08 22:15  
Blogger lélé said...

Ora aqui está uma Morte sedutora!... Ela morre, mata, morre vezes sem conta e continua a rir-se, feliz da vida (de morta, claro)!... É porque deve ser bom! Quando eu morrer candidato-me a Morte. A minha dúvida é se eles aceitam uma Morte com osteoporose...

11/3/08 23:02  
Blogger hora tardia said...

a morte sai sempr à rua.....


mas por enquanto aqui vive a vida!



obrigada. sempre.

forte abraço.

12/3/08 11:43  
Blogger M. said...

Realmente o melhor é brincar com a dita esquelética. Para esquecer o inevitável.

12/3/08 15:35  
Blogger lenor said...

Está morta mas mexe.

12/3/08 16:39  
Blogger ~pi said...

está morta, mas não muito!...

já viste como trabalha

... por aí!?




:)

12/3/08 18:20  
Blogger Olinda said...

Não, está viva - só morre quando chega. :-)

12/3/08 23:09  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

querido__________Legível



a dita "senhora" não deve ser tão sedutora___assim!:)



o texto está sedutor e muito!!!










beijO c/ carinhO

13/3/08 00:01  
Blogger musqueteira said...

... sabe bem esquecer o inevitável.

13/3/08 08:41  
Blogger Rui said...

Em cima da carroça, a família Gusmão, solavancava dali para fora.
- Ai prima, não gostei nada desta terra - dizia Hortense à sua prima Odete, mais conhecida por Odete dos Ossos, por razões óbvias.
- Por olhe, prima, que eu até nem desgostei.
- A sério que sim? Achei tudo muito... licencioso.
Odete dos Ossos suspirou, virando as órbitas oculares vazias para Smart, o pastor alemão.
- Achei os cadáveres daqui muito... sensuais...
Chiquinho Gusmão, que segurava momentaneamente as rédeas das mulas, escarrou para o lado, quase acertando em alcino, que logo lhe acertou uma galheta atrás da orelha esquerda.
- Au!
- Seu badalhoco. É isso que aprendes em casa?
- A gente não tem casa...
Alcino acertou-lhe uma segunda vez.
- Au!
- Cininho, não castigues a criança - disse Hortense, enquanto tirava a coberta das costas para dar à prima.
- Oh prima Odete, vista isto também, que só assim deve fazer muita corrente d'ar.
- Deixe estar, prima, vista você, que o pior que me pode acontecer já aconteceu. Eu tenho é aqui uma comichão nas costas que... rais'parta... mesmo junto à vértebra... oh Chiquinho, dá-me aí o chicote para ver se me coço.

13/3/08 12:40  
Blogger Justine said...

Escultura levemente assustadora, aligeirada e embelecida pelo tom irónico do texto. Agradavelmente legível :))

13/3/08 15:10  
Blogger mixtu said...

a morte...
um dia fui vistado por ela...
e eu: tenho um desejo, nunca fiz amor com uma morena ...
ainda hoje estou à espera dela, na verdade ela era loira mas disse que voltava morna, até hoje...

yayayyaya

abrazo serrano

13/3/08 16:21  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para mixtu:

Fugia-lhe a boca para a verdade, mas não te querendo decepcionar, mentiu-te delicadamente. Alguma vez uma morena-cadáver pode estar morna... Fria... e se ainda tiver alguma carne que se aproveite...

abraço da outra margem.

13/3/08 16:38  
Blogger Bichodeconta said...

delicioso texto numa prosa a beirar o poético..Parabénsm quem assim escreve!!!!!!!!!!!!!!!

13/3/08 19:30  
Blogger butterfly said...

Texto exemplar.
A ceifeira ue nos persegue desde o dia em que nascemos.
Essa mesmo, sempre a mesma que nos entra pela porta sem bater, nos vela o sono e decapita o sonho.
E assim aconteceu em Nuremberg, ela a esquelética, não apareceu de surpresa; um pré-aviso fê-la suspender os mais horrendos delírios.

Com alguma emoção, adorei o que escreveste.
Beijo

13/3/08 20:31  
Blogger rach. said...

Esta ceifeira não é a de Pessoa, nem tão pouco a de Beethoven, que essa bateu à porta na 5ª sinfonia

:0)

13/3/08 23:06  
Blogger rach. said...

Talvez seja a de Jim Morrison

13/3/08 23:07  
Anonymous Anonymous said...

- querido, saíste-te tão bem na entrevista de hoje, à tvi!

foi com esta frase, seguida de um beijo ardente, que armandina recebeu o seu marido dragoberto falcão, inspector da pj, mal este entrou em casa.

- ora, ora, armandina! limitei-me a contar verdades. afinal, isto não passou de mais um crime passional.

- sim, mas a forma como tu expuseste os factos, parecia que estavas a ler-lhes um romance. ai, deixa-me lá repetir:
"todos os que conheceram alcino corujo sabiam que, nos seus primeiros anos de juventude, a Morte tinha exercido sobre ele uma atracção excessiva..."

- e era mesmo assim, armandina! tu não vivias aqui, nesse tempo, mas há muitos que se lembram de o verem vaguear, a altas horas da noite, pelo cemitério cá da terra, pálido e de olheiras fundas, triste como alma penada, a pedir que a Morte o levasse. e de como lhe dedicou vários poemas... um deles até foi publicado, nessa altura, aqui na "gazeta de boliqueime". começava assim:
vem, ó Morte adorada, e leva-me contigo/ para as negras profundezas do olvido...

- ai, dragoberto, que lindo! até estou com lágrimas nos olhos!

- pois, armandina, não há dúvida de que o coração feminino se deixa enternecer pelos poetas. e até a dura ceifeira provou que não é excepção. o problema começou, quando a hortense se meteu no caminho deles e o alcino, depois de provar os prazeres da carne com a hortense, começou a desinteressar-se pelos devaneios platónicos com o esqueleto da Morte e a temer que ela viesse mesmo buscá-lo, como tantas vezes e durante tantos anos ele lhe tinha implorado.foi nessa altura que começámos a deixar de o ver por aqui. dizem que andou a monte, escondido como um bicho assustado, e até mudou o penteado e a forma de se vestir, para que a tenebrosa não o reconhecesse. mas as saudades que tinha da hortense falaram mais alto.regressou, para se encontrar com ela. estavam ambos em preliminares amorosos, quando a hortense teve a infeliz ideia de perguntar: "jura que nunca mais desapareces e que vais gostar de mim para sempre?", ao que ele respondeu: "até à morte, juro, até à morte". e nestes arroubos de paixão, nem deu pela chegada da figura ossuda que ele, com os seus suspiros e as suas belas rimas, tinha conseguido iludir. com a raiva a luzir nas órbitas, a Morte atirou-se de foice em riste atrás da hortense, que nem teve tempo de se compor antes de iniciar a fuga e depois... foi a desgraça que se viu.

- dragoberto,vamos mas é jantar e rezar para que ela não se lembre de nós nos próximos cem anos.mas o que é que deu ao telefone, que está a tocar de uma maneira tão esquisita? credo, que som cavernoso,parece vindo do além!temos de chamar um técnico, para resolver isso! olha, atendes tu, que eu vou tirar as douradinhas do forno?

14/3/08 14:40  
Anonymous Anonymous said...

corrijo: em vez de "jura que nunca mais"..etc,
"juras que nunca mais"

aqui ficam umas arranhadelas amistosas aqui da felina

14/3/08 14:46  
Blogger mixtu said...

yaya
escrevi morna mas queria dizer "morena", yayay
e como de uma foto com uma toalha com patinhos conseguiste ver outra cousa?
yayaya

abrazo serrano

14/3/08 15:47  
Blogger isabel mendes ferreira said...

excelente Páscoa.



beijos para dividir com aluém muito "seguro".



até breve.

14/3/08 20:11  
Blogger L.Reis said...

... pelo sim, pelo não, bem que a podias ter sido previdente, matando-a na mesma...dando um merecido descanso aos teus leitores que andam por aqui sempre esfalfados de tanto correrem à sua frente.
Estarei à espera que regresses, depois desta fase de "idéias on the rocks"

15/3/08 14:13  
Blogger Vomitando Minha Alma said...

Passei aqui só para dar um olá!

15/3/08 14:16  
Blogger tufa tau said...

foi num dia como este que a morte saiu à rua...

15/3/08 15:53  
Blogger Leonor said...

... e às vezes sopra devagarinho um ar frio que nos envolve sem darmos por isso de início.

necessidade de treino? humor negro?

o que é certo é que, de quando em quando, lá se consegue despir esse casaco de ar frio.

sorte? azar?

ah, na verdade na verdade sendo uma resposta talvez fácil do ponto de vista do individuo, é certamente difícil dizê-lo quando nos posicionamos a milhões de anos luz do acontecimento.

Quando faz sentido tomar chá com esta senhora?


ps - o tema, como já deu para ver, faz-me pensar. e gostei bastante do texto.

15/3/08 19:50  
Blogger Menina Marota said...

Não vou comentar o texto... aliás, não vou comentar o tema Morte... talvez porque na realidade, perdi nestes 2 meses, 3 pessoas que estimava muito...

Mas deixo um abraço e que tenhas um feliz domingo de ramos.

16/3/08 18:19  
Blogger ROSASIVENTOS said...

e finalmente silêncio verdadeiro
e sossego
e paz
e outra coisa qualquer que não sei
mas seria bom

16/3/08 19:03  
Blogger Kalinka said...

Olá

Esta semana o meu kalinka fará 3 anos de existência...como o tempo voa.
Fica no ar uma pergunta:
Em que dia será o 3º aniversário do Kalinka?

Começo hoje a agradecer a ti e a todos os que me ajudaram neste caminho, com a vossa presença e as palavras de ânimo, além de elogios dos quais me envaideço.
Prometo continuar presente na Tua Vida, através dos pensamentos comuns que nos unem, neste Mundo virtual.

Eu, depois de tantos problemas graves, e que aguentei durante 5 semanas...o organismo abateu-se e estive muito mal no domingo passado...Paragem de digestão e consequentemente uma descarga de vesícula, ainda hoje não estou bem, muito debilitada fisicamente.

Beijinhos.
Boa semana(é mais curta...)

18/3/08 00:27  
Blogger anónimo said...

amigo, a morte está bem viva, ainda a noite passada nós...coiso e tal...

e olha, foi numa cadeira electrica.

18/3/08 00:38  
Blogger Lyra said...

"De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos começando,
A certeza de que é preciso continuar e
A certeza de que podemos
ser interrompidos antes de terminar

Fazer da interrupção um caminho novo,
Fazer da queda um passo de dança,
Do medo uma escola,
Do sonho uma ponte,
Da procura um encontro,

E assim terá valido a pena existir!"

18/3/08 14:58  
Anonymous Anonymous said...

hummmmm...
parece-me que o autor do texto e fotos foi à semana santa sevilhana,para "refrescar" ideias, enquanto vê passar os penitentes e mastiga umas "torrijas".
bem, cá esperamos o teu regresso.

19/3/08 17:27  
Blogger Vanda said...

Passei para desejar uma Pascoa Feliz e uma semana pós Pascoa de muita inspiração!!


Olé!!! :))


Quando regressar, logo leio os atrasados!

Beijinhos

19/3/08 23:59  
Blogger Maria P. said...

Senhor das rimas desejo uma Páscoa Feliz!

Beijinhos e :) e saudades e mais:)

20/3/08 17:25  
Blogger oxalá said...

Podias ter arranjado melhor desculpa para estares de olho na mulher da foice! Que raio de menage à trois foste arranjar! Depois queixa-te que o colchão era ruim!
O raça do home! Razão tem a Adozinda: «ó homem!... vá de férias!»

21/3/08 00:31  
Blogger pin gente said...

não seria a censura?

21/3/08 16:27  
Blogger mixtu said...

mas a velha levou-te
espero que seja quentinha
yayaya

boas vacaciones, só as tem que pode... é como o sexo
yayay

abrazo serrano

21/3/08 20:59  
Blogger tchi said...

Um abraço de felicitações pascais.

23/3/08 22:09  
Blogger nana said...

morta....


mas.

23/3/08 23:49  
Blogger segurademim said...

... tá tudo morto, torto, roto, coto, boto,mouco

mouco???? rouco

a fugir da cadeira ... do oftalmologista

24/3/08 15:24  
Blogger Licínia Quitério said...

Férias? Por vezes também tenho desses ataques. Não andas contente com a temperatura ambiente? Eu cá também não. Mas que fazes falta por aqui é a verdade verdadinha. Eu sento-me ali fora à espera. Quando voltares, esbraceja ao longe que eu vou ter contigo para um lanchinho. Coisa muito SEGURA, está bem de ver.

Abraços, Amigo.

25/3/08 15:50  
Blogger L.N. said...

A vida também nasce da morte, belo blog .

31/3/08 11:37  
Blogger Sandra Fonseca said...

Num texto veloz, a síntese da tragicomédia humana. A morte parece andar num galope, bem aqui atrás de nós. E "morta de riso com o meu ar de morta de medo"...
Fantástico!

7/4/08 22:07  

Post a Comment

<< Home