Saturday, February 16, 2008

NA DIVERSIDADE...
















... é que se encontra o sal da vida. Esta filosofia que Demétrio Salgado cultiva desde criança, já lhe tem trazido alguns amargos de boca mas nem por isso lhe fragiliza a vontade de prosseguir no objectivo que apontou para aquilo a que chama de uma "existência onde a monotonia não tem lugar". Casualmente, cruzei-me com ele ontem, no Saldanha. Ia em direcção ao Marquês de Pombal, numa caminhada "à mão" (sim, que "a pé" andam aqueles que não conhecem o significado do adjectivo "diferente"... ) que percorre diariamente do Campo Grande à Rua Augusta. É nessa artéria -pedonal para a maioria, manual para ele, que se dedica ao seu pequeno negócio: venda de passwords usadas e de pequenas saquetas de plástico com pelo púbico de aborígines das Ilhas Papua. Afirma que os ganhos são suficientes para almoçar à noite, jantar de manhã e tomar o pequeno-almoço à tarde. Confessa que os melhores clientes são os portugueses porque não fazem perguntas difíceis e detesta os nórdicos exactamente pelo contrário. Também não morre de amores pela polícia municipal que, por uma vez, lhe algemou os pés por andar com as mãos descalças pela rua. Admiro o modo como o Demétrio está na vida, que opções destas não são fáceis de tomar. Lancei-lhe um "Olá! ´tás bom?" e acenou-me amigavelmente com o pé esquerdo. E cada um de nós seguiu o seu caminho. Ele, deixando atrás de si um rasto de espanto e confusão. Eu, anónimamente, no interior da massa humana .

Berlim, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
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Por falta de energia, hoje não se tecem considerações sobre a cadeira-eléctrica da minha "perdição".

24 Comments:

Blogger Gi said...

Compreendo-o. Cada vez é mais difícil andar com os pés no chão a cabeça ... essa continua sempre no ar. Também compreendo o gosto pela diversidade se bem que a mim nunca tenha trazido amargos de boca. As caixas de biscoitos que compro são sempre sortidas , coisa mais diversificada não há. por acaso nunca encontrei nenhuma amarga ! Se o Demétrio estiver interessado posso dar-lhe o nome , escuso-me aqui a publicidade gratuita. Num instantinhho o apelido Salgado passava a Docinho, Resto de bom sábado.

Um beijinho doce (mas nada de muito enjoativo)

16/2/08 18:27  
Blogger oxalá said...

Achas que lhe posso oferecer uma caixa de graxa para as luvas?
Será que lhe faz jeito?

16/2/08 21:56  
Blogger lélé said...

Esse, de certeza, não anda sempre-em-pé! Anda sempre a mão ou às vezes anda a pé para ser diferente?

17/2/08 01:14  
Blogger Fátima Santos said...

mas é que não os pés assentes no chão é coisa que nem me atrevo apensar quanto mais a dizer a algum dos que, acidentalmente, porque fujo deles bem calcando o chão que piso, mas por vezes há um que me alcança lamentoso, aéreamente diletando sobre presnetes chatos e derramando mágoas à porra da vida, mas que tem que ser assim, tás vendo senão como é que pago a prestação da casa e a do carro e como vou de férias, eu posso lá entrar em greve ou botar fala contrária na reunião com o chefe...e continuam quase chorando e quando os largo com um entalado na língua que não escapo "porra, põe os pés no chão, carago" vejo de longe o gajo assim nesse tal qual preparo com percorre a avenida o teu Demétrio Salgado : apenas esse ganha a vida de modo livre enquanto os que eu encontro...bem eu nem te digo

17/2/08 12:06  
Blogger segurademim said...

... adoro estes street dancers
(I'm your private dancer, a dancer for nothing, that's all I can do...
I'm your private dancer...
...desculpa esta é doutro filme!!)

faz bem ao estomago, aos ouvidos e ao esqueleto tão esquecido de se pendurar de cabeça para baixo!!!

fantásticas as pessoas que se penduram e saltam de ramo em ramo, de árvore em árvore...
como dizia o miúdo do Mr. Sommer, quando os comuns mortais já estão às escuras os que brincam no topo das árvores ainda vêem o sol...

17/2/08 15:10  
Blogger nana said...

lindo, lindo, lindo.


..




obrigada por esta liberdade.













...

17/2/08 15:11  
Blogger un dress said...

« As coisas melhores são feitas no ar,
andar nas nuvens, devanear,
voar, sonhar, falar no ar,
fazer castelos no ar
e ir lá dentro morar,
ou então estar em qualquer sítio só a estar,
a respiração a respirar,
o coração a pulsar,
o sangue a sangrar,
a imaginação a imaginar,
os olhos a olhar
(embora sem ver),
e ficar muito quietinho a ser,
os tecidos a tecer,
os cabelos a crescer.
E isto tudo a saber
Que isto tudo está a acontecer!
As coisas melhores são de ar
Só é preciso abrir os olhos e olhar,
Basta respirar.»


este poema é do

manuel antónio pina e...

é a cara do que escreves e fotografas aqui

embora "sem ver" eu diria:

"a ver os outros

sítios

de ser"...:)




abraÇo.beijO

17/2/08 16:39  
Blogger L.Reis said...

Vinda de um fim-de-semana quase a terminar (#*"@§...)preparei-me para me sintonizar de novo com a realidade e achei que nada seria melhor do que uma visita ao papel de fantasia...uma espécie de antecâmara para quem saiu e, pretende entrar de novo, (com o mínimo choque possível) no Planeta Terra. Normalmente funciona e acordo serena e preparada para os absurdos quotidianos que me aguardam...desta vez porém, temo pelo amanhã...apetece-me montar o raio da cadeira eléctrica desaparecida e ir em busca desse homem e das suaspequenas saquetas de plástico com pelo púbico de aborígenes das Ilhas Papua...quem sabe o que poderia acontecer...no mínimo ficava com presentes originais já para o próximo Natal.

17/2/08 18:23  
Blogger Leonor said...

ah pois, como o compreendo...

é sempre bom passar por aqui; dá-nos ânimo para a semana que se avizinha

17/2/08 19:26  
Blogger Pepe Luigi said...

Fabuloso o contexto deste apontamento!

abraço

17/2/08 20:28  
Blogger Maria P. said...

E no mar também...o sal.:)

P.S.
Um abraço à prima Leontina das Dores que está a trabalhar na Avenida Paris... de Lisboa.

:)beijinho e boa semana*

17/2/08 23:42  
Blogger lenor said...

Hoje fui eu que aparvalhei de surpresa: por causa da caminhada á mão e do que é negociável, e de tudo, pronto!

18/2/08 02:05  
Blogger anónimo said...

se o demétrio salgado for condenado à cadeira eléctrica, em que posição se senta?

18/2/08 03:28  
Blogger Bichodeconta said...

Uma voltinha ou outra pelas nuvens, de quando em vez também ajuda..boa semana.

18/2/08 11:35  
Blogger VANROSE said...

Mandei missiva. PF ver mail. Beijos e abraços

18/2/08 12:45  
Blogger Rui said...

Quem vê sapatos, não vê corações, assim respondeu Demétrio ao homem dos sapatos de vela gastos que lhe comprava uma password usada para um site menos recomendável. O homem estava abatido, com olheiras fundas. Males de amor. Logo ela, que dizia que me amava, que era um poço de bondade. Nunca imaginei possível uma coisa destas., tinha ele dito. Há quem afogue a dor numa garrafa, já eu, afogo-me no virtual. O acrobata/vendedor ambulante encolheu os ombros, mas o interlocutor pensou que estava a fazer uma flexão.
- Isto funciona?
- Essa password tem garantia, garanto-lhe.
- E pin's para telemóveis, arranja?
- Para Nokias não, que estão esgotados.
- Oh... ela era um poço de bondade, já lhe tinha dito? O que me havia de fazer, logo a mim, que lhe dei tudo o que tinha. Tudo! E agora foi-se. Diz ela que não era feliz. E eu que lhe dava tudo.
- O mundo está de pernas para o ar - e lá foi Demétrio, rua abaixo, tentando não por a mão em caca de cão.

18/2/08 12:54  
Blogger Isabel said...

Creio que a maioria das vezes não se trata de uma escolha, cada vez estou mais convencida de que mais dia, menos dia não temos outra escolha senão ser aquilo que realmente somos... por isso o melhor é começar-mos cedo e conseguirmos ter alguma coisa parecida com felicidade, do que lutar contra isso, às vezes uma vida, e quando finalmente somos o que somos, o tempo que temos já nos vai parecer muito pouco.
A verdade é que quanto mais iguais formos aos outros, menos iguais somos a nós próprios.
A diferença não tem de se ver, nem sequer de se sentir, tem simplesmente de existir.
Eu tive a sorte de desde cedo saber que não tinha alternativa senão ser " meia estranha" e de facto daí vieram alguns amargos de boca mas a verdade, verdadinha é que a minha existência é milionária de tudo, de tanto que vi, li, ouvi, senti, fiz, desfiz, refiz, falei, gritei, chorei, mudei, inventei, criei, sofri, ri, dancei, comi, bebi, caminhei, voei, cai e levantei...
E nesta maravilhosa diversidade te encontrei um dia, te li, te interpretei e foste e és algo mais que em mim acrescentei.
És isso para todos os que te lêem, é a tua maneira de caminhar só com uma mão, és diverso no que escreves e ainda bem!!!!
Pronto lá me calei.
Viva a diversidade!

Isabel

18/2/08 15:16  
Blogger bettips said...

Palavra que julguei que era um português desempregado, a braços com a inflação. Nessa aflição!

"Mas o pior é o rio
não nos deixa nem bulir.
Ao Bolhão com este frio
e o gajo sempre "a abrir"

Pois que te não dôa a espada
de aligeirar o que vês!
Se quisermos caldeirada
temos que nos mudar de vez!"

Abraços esporádicos!

18/2/08 18:53  
Blogger ~pi said...

embora chegada com a fraterna intenção de partilhar o mais que bom do desodorante de alface...

pois deparei-me com este pequeno problema logístico sobre a...aspersão...enfim...colocação do dito

já que para um homem que anda sobre as mãos...pois onde se...bem...desodoriza!?

sim... onde!?

voltarei quando chegar a alguma conclusão... se chegar antes do fecho desta emissão...



.




:)

19/2/08 00:13  
Blogger Ruela said...

o segredo está na diversidade

19/2/08 00:15  
Blogger Joana said...

Faz lembrar aquela canção do Lionel Richie "ooh what a feel, when we're dancing on the cealing!"

19/2/08 11:43  
Blogger Azul said...

Ora viva, cá estou eu. Obrigada pela visita. Olhe que este amigo Demétrio merece uma estátua na rua da Liberdade, você não acha? Eu, por mim, estou encantada em conhecê-lo. Quando o vir de novo, leve-lhe cumprimentos meus, pode ser que um dia ainda consiga tomar um cafézinho na esplanada!

Carmim tem novo texto: passe por lá.
E, já agora, ria-se na www.boodega.blogspot.com que está a ficar mais dinâmica.

Abraço para si. Até breve. Azul.

20/2/08 16:50  
Blogger ~pi said...

ainda num só braço!

mas que fenómeno mais...

... vitalício!! :)

20/2/08 20:23  
Blogger Licínia Quitério said...

O Demétrio é mesmo um exibicionista. Alguém se lembra de usar umas calças daquele modelo? Mas pronto, lá conseguiu assim chamar as atenções dos mais distraídos. E deu-te uma bela crónica de costumes. Ele há cada um...

Beijinho.

21/2/08 12:54  

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