DESESPERADAMENTE...
... nadava, procurando descobrir o porto de abrigo que o fizesse esquecer os minutos dramáticos por que estava a passar. Mas pressentia que por cada braçada dada, menor era a distância que tinha dos perseguidores marinhos. E a sensação terrível que o monstro-guia estaria a escassos centímetros de lhe abocanhar os calcanhares, mais o desmoralizava fisicamente. Bem avisado tinha sido -por quem aquelas águas conhecia desde sempre, dos perigos que poderia enfrentar se teimasse em levar a cabo a travessia daquele rio, sem a preparação adequada e equipado a preceito. Mas quando se lhe metia qualquer coisa na cabeça, nada havia que o demovesse, a ele, que para se manter à superfície na água, de costas, era quase preciso um requerimento em papel timbrado. Isso -depois dos primeiros cem metros decorridos, levantou-lhe sérios problemas de alimentação, pois do tacho de arroz de frango que a mulher lhe arranjou, foi quase tudo para os robalos, que o acompanharam outros cem metros, na expectativa de arroz-doce para a sobremesa. Depois, a meio do rio e em frente ao Cais do Sodré, por pouco não colidia com um submarino que rumava ao Alfeite fora de mão.. Quase a passar sob um dos pilares da Ponte 25 de Abril, não faltou muito para ser atingido por um isqueiro, atirado lá de cima por algum fumador exasperado. Foi a partir daí que começou a caça ao homem pelos predadores marinhos. Quando já se imaginava triturado nas entranhas de um dos monstros, sentiu a mão salvadora do mestre do cacilheiro do percurso Belém-Trafaria, a içá-lo para bordo. No meio dos aplausos, das felicitações e com um cobertor a cobri-lo, perguntou de imediato a um sujeito que lia a Visão se "já se sabia mais alguma coisa da cadeira eléctrica?". O homem abanou a cabeça desalentado "Nada. Continua sem aparecer. E enquanto você andava para aí a banhar-se, desapareceu também uma torradeira novinha em folha!! Trabalho de algum pedófilo, claro..."
Almada, 2008. Texto, tela e foto de Alberto Oliveira.
27 Comments:
Por vezes passo uns dias sem vir por cá (posso ainda julgar que sou dono do meu nariz, contudo, jamais consegui acrescentar um segundo a mais que fosse à claridade do dia...). Será por artes do tempo fujão a pinotar que nem cabrito novo? Não sei. O certo é que quando atraco nesse porto - Virgem Santíssima dos Despossuídos das Horas! -, deparo-me com "E DON JOSÉ NÃO SE CANSA DE CAVALGAR?", constato que além de não ser dono do meu nariz até os músculos faciais têm autonomia, pois que se destendem despudoradamente! Verdade!!!... quanto ao presente texto, "Desesperadamente", levei um susto (estás a trabalhar n'algum roteiro tipo Hitchcoch?!).
Na falta do que mais dizer, hoje que posso esbanjar o que mais me falta (tempo), deixo um abraço fraterno.
Safa que esta aventura foi "à la 20.000 léguas submarinas"!Só faltou um polvo gigante, o Nemo e o Flipper!
Espétaculo!
eheheheheh! :)
e sinto-me capaz de aguardar em silêncio quase infinito com os meus olhos de susto usado
um sobressalto teu
um gesto ao acaso
um instinto pulo como um desalinho
my good lord . . .
Que espectáculo!... Estava a ler esta narração tão seriamente, que fui apanhada completamente desprevenida pela preocupação do sobrevivente... Foi a grande gargalhada, foi sim senhor!...
Acho que não foi boa ideia pintar-se de cor de estrela-do-mar para atravessar uma foz a nado, que não conseguiu pensar em mais nada a não ser que ia ser papado.
Ele há coisas. Tenho, numas linhas por mim alinhavadas e à espera de revisão, um tipo de molho no Tejo, aflito para sair da frente do trânsito marítimo - uma coisa sem pés nem cabeça, claro. De tal maneira, que me sinto incapacitado para inventar aqui um disparate.
bom, tive que ler duas vezes de tal maneira estava a ficar embrenhada no enredo. a imaginação não tem limites, só o texto é que teve e não apetecia: caso para dizer queremos mais por favor
porque os pintaste tão cabisbaixos?
eu sei que estão em competição desenfreada, quiçá desesperada
mas não podiam aproveitar e desenvolver
a vertente... hum... filosoficamente mais desportiva do desporto em causa
ou mesmo oferecer
a great party com muito queijo, vinho e mel coado, aos inúmeros previsíveis perdedores?
abraÇo.beijO. so r riso..........:)
o mar é escuro é...
assim o pintam!!!
...a imagem de um qualquer alguém a atirar-se ao rio com um tacho de arroz de frango, ao qual se atiram robalos famintos e desvairados, vai-me perseguir até ao fim dos meus dias...acabarei decerto internada por via dos ataques de riso nervoso e descontrolado que me acometerão nas mais inusitadas situações...(eu, depois, mando-te a conta!)
o pedófilo queria fazer-lhe a folha?
Parabéns, uma prosa muito bem conseguida e que nos prende do principio ao fim..gostei, vou voltar..deixo um abraço..
... puxa!!!!!!!!
até tive pena do pobre coitado
torradinho e papado com recheio de sapateira
ai como eu tenho uma vidinha pacata
estes perseguidores marinhos são terriveis ;)
Antes de ler...lembrei a corrida dos espermatozóides, assim redondinhos ... e pensei "queira deus que ele não mude para a guilhotina para não baixar mais a taxa de natalidade"; mas depois vi que eram robalos. E cheios de vida no azul!
Onde foste roubá-los? Os modelos? É que estão pela hora da morte, eles, o cherne, o goráz de pinta, o linguado, enfim! Agora é mais a enguia deslizante e fanecadalinha que se guindam aos ministérios.
Mistérios da pesca.
Abraços
looking for susana...
vim cá ver-te de novo e não páro de pensar na susan... procuro-a desesperadamente!
desculpa tanta emenda, troquei-lhe o nome... é do desespero!
pelos vistos a ana também se lembrou dela! porque não lhe perguntas?
ou podes perguntar à madona!
na verdade não me lembro se chegou a ser encontrada!
eheheh, o mistério da torradeira, ou como nadar muito faz desaparecer torradeiras e o que eu gosto de cacilheiras e de histórias policiais!
"Fui no domingo a Cacilhas mais o Xico maravilhas comer uma caldeirada" e creio que o dono do restaurante o avistou. ... não o ajudou na esperança que chegasse a terra e com aquela bicharada toda a persegui-lo não seria difícil apanhá-lo e ficar com a ementa assegurada para o resto da semana. Evitava-he no mínimo mais uma ida à praça.
O quadro já o vi em tamanho natural (como sabes :) ) por acaso espreitei para ver se conseguia meter a mão por detrás da tela e ajudar o homem que mais um bcadinho e não tinha espaço para nadar. Não consegui .
Quando puderes, explica-me como é que um barco que se fica por Belém - Trafaria sem ir a Cacilhas se chama Cacilheiro. Sempre me fez espécie :)
Beijinhos
Para ana:
diz-me ana
quem é a susana
de quem tu falas
e porque fez as malas
se eu puder ajudar conta comigo: sou muito bom a encontrar coisas e pessoas. É assim a modos que uma vocação.
do batimento cardíaco
do robalo:
~
tic tac pum pum
mup mup cat cit
cit cat mup mup
pumpum
tac tic
pum.
.pum
.
filme, título de filme:)
Cheguei ao fim do texto quase sem conseguir respirar tal foi a ansiedade de saber se este teu Baptista Pereira conseguia salvar-se de águas tão assassinas. Felizmente, tinha já alagado o ânimo no horizonte azul que o artista oferece ao olhar. Depois do salvamento voltei à imagem e o exercício foi muito mais sereno e muito interessante, para além de uma surpresa magnífica!
:)
Desesperadamente eu li esse texto. Quase num folego só, sem explicação!
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