Friday, January 11, 2008

PASTORÍCIA RODOVIÁRIA ou O CONTADOR DE ALMAS















Nunca se tinha atrevido a contar carneiros enquanto conduzia porque não desejava voltar ao seu sonho de criança: ser pastor. Não destes pastores de hoje, equipados de iPod´s que lhes transferem para as mentes solitárias a voz desnuda cheia de promessas de Ana Malhoa, na companhia de rottweilers treinados para esfrangalhar quem se dedique a deitar a mão ao alheio (que os tempos já não estão para cães afáveis) e sempre atentos ao telemóvel e à patronal voz que atendem (e às suas exigências) com um "Yes Sir!" de sotaque regional, que o inglês de Sócrates tinha obrigatoriamente de chegar aos sítios mais ermos deste país de chocantes e tecnológicos contrastes. Pastor de rebanhos inquietos e contemplador de ocasos indecifráveis teria sido a sua vocação.. que não se concretizara por vontade do pai que o quis ver à frente do negócio de família. O rebanho que se estendia à sua esquerda desafiava-o. Embora temeroso arriscou e, olhando fixamente os animais, contou: "um carneiro, dois carneiros, três carneiros, quat... " O polícia que chegou primeiro junto ao carro semi-desfeito, comentou para o colega "Este gajo ficou com olhos de carneiro mal-morto!"
Algures em trânsito, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
....................................................................................................
O autor informa que a fase de "textos com sangue no asfalto" termina aqui. Tendo previsto que se seguiria uma outra denominada de "sangue do meu sangue", optou por não o fazer (para já... ) face a alguns comentários dos seus leitores mais sensíveis. Assim, prevê que os próximos textos abordarão a temática "pena de morte: da guilhotina à cadeira eléctrica".
Informa ainda o autor, que na imagem do texto actual, se encontram vinte e dois carneiros (22). Se o leitor ao clicar para aumentar a imagem, der por falta de algum, favor comunicar para o 993 222 788. Grato.

35 Comments:

Blogger luci said...

nunca tinha pensado até agora

nisso de contar almas.

pensava que fossem invisíveis.

e afinal...agora já não sei ...!


?
?
?


/pra já só li o título mas algo me diz que acabarei por ler o texto... :)

12/1/08 15:16  
Blogger egolândia said...

As historias acabam sempre mal!

Não devia ter dado ouvidos ao pai. Devia ter sido pastor. Se assim fosse talvez tivesse sido ele a encontrar outro bimbo no carro espatifado e com os olhos de carneiro mal morto. É o que faz seguir o papá.

12/1/08 20:59  
Blogger un dress said...

o seu movimento curvo do olhar sabia onde pisar...

pensou ele confiante a contar.

e nem mesmo quando o que parecia ser um farol lhe iluminou os olhos por instantes

se apercebeu que já tinha mudado, com a rapidez dum relâmpago, do seu corpo de carne

para um corpo etéreo e aparatosamente vestido de branco

com roupas definitivamente largas limpas e confortáveis...

e que estranhamente se parecia bastante, ele mesmo, com uma ovelha recém chegada ao paraíso...


e...

...e...!!?





abraÇo.beijO.risOs :)

12/1/08 23:56  
Blogger lélé said...

A história está fabulástica! Deveria ser aproveitada na campanha anti-proibição-mais-que-120Km/h-na-auto-estrada (não se descobriu ainda uma sigla de fácil memorização para esta campanha e é por isso que ela ainda não entrou em vigor)

13/1/08 00:11  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para un dress:

e... ficou horrorizado, pois tá claro! que chegar ao Eden sem um dos seus apêndices de estimação não estava nos seus planos...



RISOs

13/1/08 00:29  
Blogger mixtu said...

yayay
mas não é facil srer pastor, é necessario dipooma nível V da UE...

não falta nenhum... faltam cabras mas essas não se deixam fotografar...

yayayaya

venha daí sangue...

e já agora uma estória de um puto inteligente, pastor ou não

abrazo serrano

13/1/08 11:15  
Blogger ~pi said...

ansiosamente

pediu uma audiência a são crisóstomo,

padroeiro dos apêndices perdidos.

sentia-se desconfortável e ludibriado a pensar que se o paraíso seria

uma espécie de prisão onde tinha que deixar os seus mais queridos objectos

num saquinho à entrada!...



:)

13/1/08 13:43  
Blogger lenor said...

Falta lá o ranhoso não enumerado. Mas do 96 não atendem a reclamação.

13/1/08 17:24  
Blogger entredentes said...

reclamar a distracção poética!

13/1/08 20:13  
Blogger Ruela said...

a próxima temática promete :)

13/1/08 21:20  
Blogger Joana said...

Acho que o Plano Nacional de Prevenção Rodoviária deveria proibir junto à rodovia a presença de outdors com mulheres a pousarem semi-desnudas em roupa interior e rebanhos.
Ora cá está uma bela medida!

14/1/08 11:31  
Blogger Sofia said...

Ola legível.....

... nada de novo a Oriente ou então tanta novidade que nao sei como sair desta! ;)

Noticias em breve.

Beijos

14/1/08 11:47  
Blogger Fortunata Godinho said...

Demais!
Adoro a expressão "Olhos de carneiro mal morto" - se bem que a use amiude, nunca avistei nenhum nessas circunstancias...
Em relação ao texto, não sei bem que comente. É das tais coisas: podia dar um micro-metragem by Mr. Woody Allen - ia arrasar concerteza.

14/1/08 12:09  
Blogger Luz said...

São mesmo 22... Nem é preciso pastor, eles não vão mesmo a lado nenhum... :)

Bom ano!!! Bjinhos :)

14/1/08 13:53  
Blogger pin gente said...

eu estava a ficar aliviada com a anunciada mudança...
já não digo nada!

14/1/08 14:45  
Blogger isabel mendes ferreira said...

como eu gosto de ler este AUTOR!!!!


.


prontoS....sei bem que não sei "brincar" como o Legível...mas

.

é um re.prazer entrar por aqui adentro e ficar...marginando sorrisos.




obrigada.


abraço.


(extensível)

14/1/08 15:35  
Anonymous Anonymous said...

Gostei do gran final. Que morte santa! Afinal não é toda a gente que tem o privilégio de partir rumo ao infinito embalado na suavidade poética da contagem de mé-més.
Aguardo com ansiedade a nova série. Espero não perder, especialmente os episódios da guilhotina. Sei de antemão que ficarei impressionadíssima ao ler a descrição das cabeças a rolar no asfalto, que será chocante a parte dos corpos decapitados e estendidos pelo chão misturados num manto de pétalas de sangue que os carrascos, generosamente, espalharão pelo chão. Aguardo que o tema promete emoção!

:)))

14/1/08 18:12  
Blogger tchi said...

Guardador de sonhos
:)
:):)
:):):)

14/1/08 19:46  
Blogger Concha Pelayo/ AICA (de la Asociación Internacional de Críticos de Arte) said...

Aquí decimos : "mirar con ojos de carnero degollado" que significa lo mismo.

Subrayo la diferencia entre aquéllos pastores auténticos: los de capa parda, perro y pavor al lobo que aparecía en cualquier momento, y que se prestaban a protagonizar cualquier historia de lobos, con estos pseudopastores modernos, de los de a "nosecuántos" euros por cada oveja (que les da el gobierno). Dá risa por un lado y por otro dan ganas de llorar.
Saludos amigo.

14/1/08 23:24  
Blogger Vanda said...

ai ai :)

Andas tão tétrico!!!!!!!


:) cadeira eléctrica??? para quê??

Não bastará assistirmos aos telejornais???? :)


Beijos méééééééé´;))

15/1/08 00:25  
Anonymous Anonymous said...

quatro dias depois, os carneiros fugiram para outras pastagens, por falta de um pastor que lhes contasse estórias. o menino anda aonde? volte, sim? olhe que eu estou muito necessiatada dos seus versos... beijinho grande, legível.

15/1/08 10:38  
Blogger Bichodeconta said...

Cá para mim já alguns fugiram ou morreram, não os encontro a todos..Um abraço

15/1/08 14:48  
Blogger Cereja said...

psst
Olhe, desculpe...
Não estão lá os 22... mas dá muito trabalho ligar para esse número. Pode fazê-lo por mim?

PS: gostei mesmo muito do texto (apesar da sua antipatia para uma certa pessoa).

15/1/08 18:54  
Blogger Maria P. said...

This comment has been removed by the author.

15/1/08 22:26  
Blogger Maria P. said...

Fui eu que apaguei o comentário anterior!Desculpa...
Enganei-me a contar os carneiros...
1
2
3
4,5,6
7
8
9
10,11,12
13
14
15,17,
18
19
20,21,22...ufa! Estão todos...

Beijinhos e sorrisos*

15/1/08 22:29  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para play girl:

Fiz o que me pediu. Disseram-me que tinha ligado para o Matadouro Municipal e que não tinham nada a ver com o assunto. Achei suspeito...

Antipatia? Nem pouco mais ou menos! Apenas um retrato satírico.

15/1/08 22:57  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para maria p.:

"13
14
15, 17 (?!)
... estão todos!" (?!)

Andam-me a fanar carneiros e eu a ver...

15/1/08 23:02  
Blogger manhã said...

decididamente contar carneiros não deve ser tarefa prioritária para quem vai em trânsito! aguardamos com expectativa a próxima crónica!

16/1/08 00:42  
Blogger bettips said...

A esta hora, quem devia contar carneiros era eu e espatifar-me entre lençóis.
Gosto de ti quando zurzes o poder instalado.
Ou o fabuloso destino de Amélia Bale que por aqui anda.
Ou outra, dessas tuas cabeças cortadas e escalpes.
***
Por mim, até podiam ser todos Eduardos. Este anda por cá, olha se lhe dava para pôr a boina basca e apoiar outro jardim qualquer!!!
Pois que fiquei varada por ver que a fundação também mete bico no Tropical e lá está a placa. Se eu fosse rico, tinha hobies ou bobies assim! Ou até uma plantação de pastores.
Abçs

16/1/08 04:09  
Blogger Rui said...

Fagundes mastigou a erva com fastio. Havia dias assim, cinzentos no céu e dentro de nós - mesmo quando se é carneiro. Bateu-lhe a saudade dos tempos de borrego e berrou o Fado Carriche, da Aldina Duarte. Ou talvez fosse saudades da Dolly, que uma vez tinha visto numa revista que alguém atirou para a beira da estrada, e por quem ficou imediatamente embeiçado. Que seria feito dela, por onde andaria? Sem respostas, saiu-lhe um fado da Maria da Fé, Primeiro Amor.
Uma lata de Coca-Cola Sem Cafeína passou-lhe a milímetros da lã e trouxe-o de volta ao pasto. - Malditos automobilistas, pensou ele. - São uns animais!
Aborrecido, achou que a dormir é que se estava bem. Foi até ao alto do monte e acomodou-se. Para chamar o sono, começou a contar pessoas.

16/1/08 18:03  
Blogger nana said...

" Pastor de rebanhos inquietos e contemplador de ocasos indecifráveis teria sido a sua vocação "

...


também queria uma (essa) vocação prometida....


senta-te, sim - é-me bom que te sintas bem em minha praia marulhar.


x

17/1/08 08:41  
Blogger tb said...

demorei tanto temp oa ler a história que entretanto nasceu mais um... :)
jinho

18/1/08 15:16  
Blogger Maria P. said...

Fui apanhada! Ohhhh....


Beijinhos:)

18/1/08 18:48  
Blogger L.Reis said...

Esta histórias tem uma grave imprecisão técnica: a cerca! Ninguém nunca, mas nunca mesmo, contou carneiros parados. Para se contarem, os carneiros têm que estar a pular a cerca...obrigatoriamente!
Ora quem inverte as mais sagradas leis da vida, pondo o contador em movimento acelerado e os mamíferos ruminantes lanígeros, de chavelhos recurvos, parados, arrisca-se a desenlaces catastróficos e sanguinolentos, como se pode comprovar pela prosa junta.
Depois queixa-te, quando um dia acordares, e verificares que tens que começar a escrever histórias sobre o reino dos céus, porque mandaste paa lá todas as personagens...

20/1/08 11:43  
Blogger batista said...

há de se ressaltar que o coitado não teve um sonho... mas sim um pesadelo! - pois que um sonho pra ser entendido como tal - tem que ser bom! - caso contrário -, é pesadelo!!!

mas de sonhos e pesadelos, de cães (pastores ou não!) e carneiros -, certamente (des)faz-se vidas.

um abraço fraterno, Contador de Histórias!

21/1/08 11:35  

Post a Comment

<< Home