É TÃO BOM VIVER NO CAMPO!
Impôs a si próprio o desafio de passar duas semanas numa casa de campo sem telefone fixo, telemóvel, rádio, televisão e onde a distribuição de jornais e de correio -por motivos que não são para aqui chamados, não se fazia. A vizinhança mais chegada tinha-se transferido para o litoral e os espectáculos culturais ou qualquer forma de entretenimento, centravam-se na cidade mais próxima a cerca de duzentos quilómetros. Explicou a familiares e amigos que não se tratava de uma daquelas doidices que lhe assolavam o pensamento (e a acção) com alguma regularidade e a que eles já se tinham habituado, que não ia fazer um retiro para descanso da mente ou do físico e que estivessem descansados que ele regressaria -afirmação que não lhes arrancou um ah! de alívio mas um oh! de decepção. Deodato pretendia tão só, saber e sentir de facto e em su sítio, das alegrias que estariam associadas à frase que amiudadas vezes escutava: "é tão bom viver no campo!" Partiu numa sexta-feira pela madrugada, carregado de ilusões, de latas de conserva e pacotes de batatas fritas. Regressou no dia seguinte. Tinha-se esquecido do portátil.
Potsdam, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
30 Comments:
Ahah... :)
Bom fds! Bjs
é tão bom vir aqui...past AR...
.relva verde relva
:)
Deodato saltou da cama cheio de vigor. Enfiou-se na casa de banho e fez tudo o que tinha vontade de fazer. Desenfiou-se do pijama dos malmequeres - que achou apropriado levar para o campo - e meteu-se dentro de uma t-shirt que dizia Verde Por Fora e Por Dentro e nuns calções que lhe estavam apertados - e que tinham ainda um ligeiro aroma a naftalina -, fazendo-lhe a pança sobressair um pouco. Pôs o Zé Cid a cantar no portátil e engoliu um pacote de leite com chocolate. De sorriso rasgado, veio à porta da cabana junto ao campo.
- Ah, que bem que se está no... cara%&$! - uma abelha vinha direita a ele e Deodato não era nada fã dessas coisas dos insectos e afins.
- Bom dia! - disse uma voz de caninha rachada. Deo olhou em redor e julgou estar a alucinar. Foi ao portátil confirmar: ainda era o Zé Cid que cantava a das favas com chouriço, mas ele ia jurar que tinha ouvido a voz da Ágata.
- Bom dia - insistiu a vozinha.
- Mau, querem lá ver que venho para o campo para descansar e agora começo a ouvir vozes.
- Sou eu. Aqui.
Depois de muito revirar a cabeça, Deo descobriu uma abelha poisada na mesa da cozinha.
- Uma abelha que fala. Estou mesmo doido.
- Não me conheces? Sou a abelha Maia.
- C'um camandro!
- Eu vivo aqui perto. Numa colmeia-condomínio-fechado - Deo aproximou-se a medo. - Desde que deixei o mundo do espectáculo que me retirei para o campo.
- Então mas a série não era no campo?
- Naaa. Aquilo era tudo cenário.
- Ah...
- Sabes quem é que mora no lago, ali ao fundo?
- Quem?
- O sapo.
- O Cocas?
- Não. O sapo da Maria Armanda.
- Ainda não vi o sapo...
- Vieste para um sítio muito chique, não sabias?
- Não fazia a mínima.
- Mas é. A Mimosa também não mora longe.
- A vaca.
- Essa mesmo. Olha, se quiseres leite, é só pedires.
- Por acaso, gosto.
- Só tens de a mugir, claro.
- Ah...
- E mel também se arranja.
- Obrigado. Por acaso, não sabes se a Heidi vive aqui por estas bandas.
- Oh pá, mora pois. É já ali atrás do morro. Mas olha, ela... como hei-de dizer... bom... eu não gosto de falar da vida das outras personagens, mas... sabes, ela... não vale a pena pensares que... não tens hipóteses, é que ela não gosta... bom, é assim, ela vive com outra mulher! A Candy Candy. Pronto, já disse.
Deo arregalou muito as vistas e lá acabou por sorrir.
- Eu só lhe queria perguntar se por acaso tem um modem WI-Fi que me empreste. Então não é que trouxe o pc e esqueci-me disso!?
dado que o deodato se iria iniciar nos prazeres da vida campestre, chego à conclusão de que decerto não fazia parte de alguns grupos de citadinos que, aqui há uns anos e atraídos pela novidade de uma bienal de arte internacional na província, invadiram uma pacata vila,desfazendo-se em ahhhhhs e ohhhhhhhs e entrando em êxtase ou sabe-se lá que mais, sempre que viam uma vaca ou uma galinha.isto foi-me comentado pela minha humana, que eu cá já não sou desse tempo...
mas, ó legível, e muito cá p'ra nós: o que o malandro do deodato queria era cavar para um sítio onde se visse completamente livre da mulher e fedelhos - e mesmo do bobi, do bichano e do papagaio, sempre a azucrinarem-no com gritos (o papagaio) e admoestações, perguntas ou pedidos (a mulher e os fedelhos)para se entregar com todo o sossego aos paraísos da blogo-esfera.
apesar de nunca mais teres cumprido a promessa de me ires dar umas penteadelas, adicionei-te aos meus links como um dos sítios que me inspiram.
retiro-me para o meu jardim, deixando-te
mimos&ronrons
É bom viver no campo...não tão bom são certos aromas que se sentem no ar libertados por alguns dos nativos...mas é bom de manhã cedo ouvir o galo a cantar o - levanta-te que já acordei há muito tempo.
Música que incomoda depois de uma noitada bem passada e que faz apetecer meter o galo numa caçarola.
Também é bom dar umas caminhadas pelos campos, levantar a cabeça para o céu e respirar o ar puro…mas sempre com atenção em olhar para o chão porque a fornada do dia pode já ter saído.
Entrar num café sentar-se numa mesa e em pouco tempo já todos o conhecem desde sempre..."É TÃO BOM VIVER NO CAMPO!"
amigo legível, a pacata terrinha é vila nova de cerveira. mas isto já se passou há muitos anos, não sei se tu, ou a tua pintura já andariam por lá...
mimos & ronrons
querido deodato:
é no campo que estás bem.
nada de mal te pode acontecer por lá!
não percebi isso do portátil,
porque ao terceiro dia...
já não precisarias dele.
esse sr. dr. ruela é um alarmista!
mas que espírito mais urbanóide...
talvez influência daquelas artes
do demo que pratica!!
vade retro!!...hihihihihi
e lá me vou na minha vassourinha!
bons ares te desejo!
ps.
e deixa lá o portátil que só
te transtorna e obriga a
escrever o que não queres...
/também por artes sabe-se lá de quê!!!
hihihihihihihihi
Não consigo entender o Deodato. No dia seguinte? Eu tinha voltado nessa mesma noite!
E eis que ao 28ª dia Deodato ressuscita, agora em versão campestre...
espírito mais urbanóide
espírito mais urbanóide
espírito mais urbanóide
;)))))))))))))))))))))))))))))))un dress
Deodato...é muito timorato.
Mas há corajosos, é ver tanto turismo "de habitação"... seus móveis de família, suas paisagens, seus cozinhas cordiais e seus cofrezinhos.
Campo e comodidade.
Cavar já era.
Abraços
Percebo bem.
Já me tinha esquecido o quanto me fazia rir a tua ecrita...
Mas conheço e bem essa historia... a historia da casa no campo, rustica e com essencial, risos...
Bom fim de semana
Bjo
O Deodato até é capaz de viver sozinho na cidade, mas no campo não suporta o isolamento!...
Li um pouco do teu trabalho e achei interessante... escreves sobre o que te rodeia; o que tu atentamente captas! =o)
Continua!!
não é não....esperança não é palavra vã....:)
parecia um campo inglês....
mas não é ... ...
será?
eu vivo no campo....dentro de mim.
beijos. seguros!!!!!
Existe um pouco de capacidade de adaptabilidade por parte do Deodato)))
Bom Domingo
Bjs Zita
Vim ver a paisagem... Deixei lá a minha salpicada com as tuas palavras.
Olha... tb vivo no campo, e tb cá tenho o portátil! Já a TV tá na casa de banho para com o piaçaba mudar de canal. Tenho de ter por aqui algumas tecnologias para volta e meia fazer concorrência às asneiras de tanta pasmaceira!
Cumprimentos mixed by Jameson 12 anos!!
Realmente, viver uma experiência de isolamento sem ter com quem a comentar, deve ser de doidos! :-P
E se calhar também te esqueceste do desodorizante corporal e do telemóvel e do pijama de mal-me-queres (Rui dixit) e do último romance do José Rodrigues dos Santos e, pelos lidos, do repelente de insectos.
Um homem tem de transportar sempre o seu kit de sobrevivência.
Recebe um ósculo com aroma de rosmaninho da
MARIA PAPOILA
Vivenda 75
Condomínio Fechado das Glicínias
22334 GIESTAS-DE-CIMA
OOOOOOOOOHHHHHHHHHHH :))))))
coitado do Deodato. Entendo-o.
De vez em quando assola-me essa necessidade . O retiro, o silêncio mas se passo muito tempo calada a língua cola-se ao céu da boca e depois é uma chatice quando se proferem as 1ªas palavras. pareço a vaca mimosa da história do Rui ...
É difícil "desligar" sobretudo quando ficam para trás coisas (leia-se pessoas) que nos prendem . Queremos descansar delas e acabamos por passar o tempo livre a pensar na falta que nos fazem. Uma voz do outro lado ajuda um bocadinho.
mais uma vez uma história que me faz rir e ver o quão ridícula por vezes sou.
Beijinhos e sorrisos (dia 6 está quase :) )
Este texto de uma efectividade crua e pura leva-nos a meditar que na maioria das vezes um puro sonho ou devaneio idílico/bucólico não se apraz com a realidade vivida.
Um abraço
Pepe
E tinha rede para a net sem fios?
:P
eheheheheh!
ehehehehe do portátil e se calhar do acesso à internet, aposto!
Eu tb estive uns dias ausente, nao num campo verde e solarengo como o da tua foro, mas no campo dos estudos, que me estao a fazer cabelos brancos.
Regressei e vou ler-te do principio ao fim.
bjs
sem portatil, sim...
mas e as moscas...
yayaya
abrazo europeo
ganda rui...
ai o campo, também tenho a nostalgia e o sonho do campo mas com portátil, claro!
Como te entendo.o silêncio é bom.mas a fazer alguma coisa.
Bj
Adoro isto, mas há ainda melhor mais pra cima... vou voltar lá pro teu lado mais canino... e me lambuzar daquela baba divertida. Pois, cá pra nós, eu acho a vida no campo linda, nos comerciais que não durem mais de 30 segundos.
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