O BISNETO DO CÃO ANDALUZ
Sei -infelizmente, como as coisas funcionam. Se tenho a barriga a dar horas, se preciso urgentemente de ir alçar a perna na jante do fiat uno do vizinho do rés-de-chão ou se estou carente de um afago, lá chegam as palavras d´ordem a chamarem-me à realidade canina : "a pata no ar Dali!" ou "dois latidos longos e um curto... cão que nunca mais aprendes!" e "rebola e abana o rabo, cachorro!". O meu quotidiano está codificado em gestos largos e frases curtas e, é o meu dono quem decide até onde posso ir, na minha sede de conhecimentos e aventuras. No passado domingo um fox-terrier vagabundo, convenceu-me a ir ao encontro do desconhecido (uma viagem do Arco do Cego ao Restelo!!) e logo o meu imaginário disparou em direcção a cenários fabulosos, preenchidos de ossos de todas as cores e cadelas para os faros mais requintados. O meu amo, conhecedor do que se tramava, pelo bufo do Floreca (o gato siamês capado que habita o reduto familiar) olhou-me nos olhos, de homem para cão e disse: Dali: comigo, não te falta nada; do veterinário de renome até a trela extensível topo de gama, tens tudo o que deve ter um cão com sorte. Só te peço uma coisa. Não te estiques. Que para decidir por ti, estou cá eu.
Não aguentei mais. Ontem, à sorrelfa -já ia adiantada a noite, peguei no telefone do hall e disquei o número do João Botelho "Olá João! Fala o Cão-Dali-S., ´tás fixe?. Olha, eu sei que o Buñuel esticou a bota há uns tempos largos e que tu agora estás livre daquele filme "A Filha do Arroz Carolino". Ando há uns tempos a magicar que, com a prática que adquiri no meu blogue (Do Ladrar Dali) bem podia escrever um guião para cinema. Queres ajudar-me a sair do meu triste anonimato e a catapultar-me para a ribalta?Um longo silêncio e finalmente do outro lado do éter a voz do Botelho: "Ó Salvador! Tu tem dó! Mas agora até saio na rifa ao pessoal dos blogues?! Catapulto-te, catapulto-te, mas é com um biqueiro no rabo que só páras na Andaluzia...
Nuremberg, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
25 Comments:
Zarrão chupava um resto de granizado de limão junto à Maestranza, quando o viu. Seria um cometa, uma estrela cadente diurna? Por falta do que fazer, foi investigar. Passou por sevilhanas trajadas a rigor e não conseguiu suster um pensamento libidinoso, acompanhado de um latin que, traduzido dá: que barbaridad. O estio da tarde já estava de partida, e o caminho pelas ruas desertas era já suportável. Ainda assim, Zarrão suou as estopinhas atrás de tão estranho rastro, que rasgava o céu andaluz. Virou, contornou, circulou até se ver perante a Giralda. Não ligou ao gótico, nem ao barroco da catedral - a maior do mundo, ouviu um cão-guia-turístico informar uma matilha japonesa, que tudo fotografava por entre latidos agudos - o que lhe interessava, e que mais ninguém parecia ver, era uma coluna de poeira que se levantava na lateral do edifício. Aproximou-se pata ante pata e não evitou o susto, quando o viu. Um cão todo enfarruscado e com uma marca de sola de sapato tatuada junto à cauda, tossia com dificuldade.
- Onde estou? - latiu o cão-cometa.
- Bem vindo a Sevilha! - latiu Zarrão, cheirando o ET.
- Xiça, o gajo cumpriu o que prometeu...
- Quem?
- O Botelho.
- Quem é esse?
- É um gajo que filmou um filme, mas não o realizou... uma história de apitos em ouro, deixa.
- Cheira-me a bola...
- Fui eu - latiu o outro, envergonhado - Não me conseguiu controlar na aterragem e descuidei-me...
- Enfim...
- Sou Dali.
- De onde?
- Não, pá, o meu nome é Dali.
- Ah! Prazer, sou o Zarrão.
- Zarrão?
- Sim, o cão Zarrão.
bom fim de semana...
É mesmo verdade, amigo! A tv1 esteve a transmitir uma tourada!
Um abraço.
um "sonho" surrealista.
acho que este texto tem uma mensagem qualquer subentendida.. com algo de verdade que eu não saberei decifrar.. mas de qualquer maneira.. entendo que até os cães podem sonhar!
tanta gente que julga que sabe o que é melhor para outrém.. que age como tal.. que castra os outros com caprichos de eu é que sei.
não desistir será o caminho.. persistir.
beijinhos e bom fim de semana :)
carta sonâmbula.
...dO Outro ladO...
:)
Há cão que parece gente.
Ironia muita!
Nonsense q.b.
Entre tantas e tantas e tantas escritas ainda há assim...lufadas de ar fresco!
Vida de cõ é lixada.
Começo por desejar um excelente Fim de semana prolongado. O meu tem por finalidade descansar fisicamente e fazer umas arrumações de Outono.
Na minha teimosia de fazer um 3º post sobre a letra F, faço destaque a um evento artístico que teve início a 29 de Setembro e termina a 31 de Dezembro, na Estrada Nacional (EN) 10, junto ao Seixal. Acolhe o Drive In Art 2007, que já vai na sétima edição. As trinta telas de enormes dimensões (2 m por 1,85 m) foram pintadas por vinte artistas, jovens e muito jovens (dos 15 aos 30 anos), e podem ser avistadas nos dois sentidos da EN 10 no troço entre as Paivas e o Fogueteiro. O vencedor (ah pois, isto é um concurso!) ganha 500 euros. Se o público não vai à arte...
CÃO DE FAMÍLIA ANDALUZ É CHIQUE.
Beijokas.
ao cão pouco se lhe dava que fosse uma simples personagem non-sense e que
na elaboração da trama do filme, todas as idéias de preocupação racional,
estética ou outras com assuntos técnicos, fossem rejeitadas como irrelevantes.
lera...lera...
blá blá blá...
pois ele, cão, de convencional e supostamente racional tinha... quase tudo!!
de facto era o cão mais tradicional e convencional de todos os tempos!
exactamente nos antípodas do surreal do cão andaluz que supostamente seria...,
reflectiu ele,
enquanto bocejava pela enésima vez aplicando a sua normalíssima pata rumo ao pneu...
a olhar de lado o rosto imbecilóide do idiota do dono metido a master...
abraÇo.beijO :)
Nem o cão está feliz com a vida que leva.
Que tal mudares de ração ou se lhe pintasses o pêlo de louro platinado, podia ser que não pensasse.
Gostei, gosto sempre. Já me aborrece este gostar permanente. Ou escreves muito bem ou sou fácil de contentar.
Prefiro a primeira hipótese.
Um abraço
... foi assim como que uma viagem ao passado ou uma película a rebobinar...
Quer dizer que, se eu quiser ir até Sevilha, rapidamente e sem ter de entrar num avião e passar por aquele pânico, basta ligar ao João Botelho?... Dás-me o número de telefone do Dali, se faz favor?
Fiat Uno! Será que alguém tem alguma coisa contra, espero que não:)
Beijinho Senhor das Rimas*
...E bom fim-de-semana:)
Boas referências literárias, sr. tecnicamente perfeito ;)
Da-li atrás e daqui, lá te enxerguei a pluma. Finíssima como convém a uma técnica perfeita, de "esbulhar" o milho sem ferir a maçaroca. Com este chien et le chat sauvage, não admira que vás por aí afora. Até já me entretive a imaginar se não serias piloto, de aviões, claro. Muito gôsto e muito gósto (isto para que se veja a diferença do gosto que me dás e do verbo que me surge das tuas trangalhadanças!). Fica em paz e catapulta-nos sempre. Cá estaremos para ser catapultados. Abraços
Grande verdade num texto excelente!
Interesante historia.
Allí mismo a los pies de la Giralda, hace algunos años, una gitana tomó mi mano derecha, me leyó la suerte. Después me pidió la otra y yo, inocente de mi, se la di. Al terminar me pidió ocho mil de las antiguas pesetas. Y yo, más ignorante todavía se las dí. Estùpida de mí.
En Andalucía puede ocurrir tudo.
Um cão "dali" , daqui e de qualquer lugar tem direito a sonhar :)
Surreal q.b, com o nome do mestre a condizer claro está.
Perco-me por aqui. Completa. mente (risos)
Acho que em miúdo devias ser pior que o meu neto :)
Beijinhos
Não vou associar trelas ou rédeas curtas, a blogs. Não vou. Não vou.
Até porque não tem associação possível. Por isso não vou, não.
E, tendo dito que não vou... Vou!
Beijinhos, Leg!
(o canito é uma delícia).
Caro Legível
Então não é que é mesmo parecido. Nem é preciso fazerem-lhe teste de ADN. Vê-se logo pelo bigode que pertence à mesma família. :)
E depois essa mania de querer catapultar-se para o sonho só vem confirmar as aparências :)
Tenha um excelente final de Domingo
enorme beijo...digo eu . sem enganos.
:)))))
e outro tb gigante para a Segura!!!!!!!!!!!!
Um texto bastante irreverente e ironizado,cheio de surrealismos.
Bom início de semana
Bjs Zita
eheheh esse cão Dali é que não sai! nem com histórias de arroz carolino. vai um conselho? que comece a pintar...quem sabe!
Rolei, Sr. Legível. Estou sem palavras... como pode-se ser tão canino e, ainda assim, absolutamente legível? Perdoe, mas não resisti ao trocadilho!
Isto aqui é mesmo melhor que a Salve Rainha e o Padre Nosso juntos!
A+
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