A CONSTRUÇÃO
Cuidadosamente, alisou o pico da torre mais alta do castelo de fantasia que um dia tinha sonhado que havia de construir. Com este gesto, deu por terminada uma obra de reduzido orçamento, sem derrapagens, acabada antes do prazo previsto, envolvendo materiais não poluentes e mão de obra quase a custo zero. Quase, porque o envolvimento no trabalho lhe custou um corneto de morango que naquela altura costumava saborear e uns valentes pontapés numa bola com os primos que o acompanhavam nas idas à praia. Ergueu-se e recuou uns passos para poder ter uma visão mais abrangente do que acabara de produzir. Esfregou das mãos os últimos grãos de areia fina e húmida e vi, nos olhos de menino que nem sete anos teria, um sorriso de satisfação. De repente -quase sem me deixar tomar fôlego para pôr um ponto final nesta história com um final feliz (pelo menos por uma vez, com mil demónios!), apareceu em cena um homem com uma fita métrica na mão e com o aspecto que qualquer fiscal não deve ter para enganar os prevaricadores que, abeirando-se da criança, a questionou com palavras duras e das quais percebi que "... é proibido construir a menos de (?) metros da água -seja ela do mar, do rio, do ribeiro (acho que não falou da água das torneiras das banheiras das casas de banho... ) e que por tal, o castelo de fantasia tem de ser imediatamente demolido." A expressão que vi na cara do garoto não deixava margem para dúvidas: estava ali um futuro autarca em potência.
Quarteira, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
30 Comments:
:)
Abaixo os burocratas que teimam em regulamentar os sonhos!
Ahahah...
Mas este está mesmo uma obra de arte, que injustiça!!! :)
Bjinhos
caramba, Legível, nem deixas a criança sonha!!! ahahahahaha
Ainda me chamam de mordaz! Dá-me a tua morada para trocar pela minha lololol
Ao pé de ti sou uma sonhadora !!! (ingénua?) lolol
bem-vindo e bom fim-de-semana!
yayaya
5 metros de linhs de água
muito mais de rio...
mas já não há fiscais de hidraulica
menino esperto, e só com 7 anos já pensa em ter um castelo, certamente com muits loiras...
abraço europeu, perto de um coreto, esperando a princesa e depois as estrelas...
Um regresso em cheio! Com seria de esperar.
Bem-vindo senhor das rimas:)
Um abraço*
Viver num mundo que seja simultaneamente de sonho e realidade?
Difícil...
Ora viva! Cá estás de novo. E com castelos que não respeitam o PDM. Será autarca, sim, o menino, e só não autorizará castelos no ar que esses desfeiam a paisagem.
Beijinhos.
os castelos de fantasia são um atentado aos bons costumes...
ainda assim moram muitos e muitos castelos nas cabeças dos meninos...
e depois um dia...os meninos ficam dentro da vida ` à séria` !
e pronto...requiem: aos castelos na areia...ou no ar...
ainda bem que voltaste!
/ construidor de palavras em castelo !! :)
abraÇo
Olá Alberto
Regressaste em grande forma: excelente qualidade do texto e belíssima ironia.
Tudo o que respeitar aos autarcas está adequado.
A avaliar pelo sorriso que salientas, o que verdadeiramente está em jogo é um PINEXECUTIVE, isso sim: um Executivo de Projectos de Interesse Nacional (puro sangue!...)
Um abraço
... nem sete anos... + 12 (e entra na maioridade) + 4 (para acabar o curso de engenharia, primeira parte do curso de autarca) + 4 (para aprender inglês técnico e mandar o fax) + 2 (para estagiar na merdaleja) + 2 (para angariar votos e comprar os empreiteiros mais renitentes) + 1 para desfazer a autarquia = está quase lá!...
O meu tempo de reacção foi...imediato, ao passar num amigo e encontrar-te! Vivam os sonhos na areias que fazemos todos...
Esta entrada é, de novo, um fenómeno de (in)comunicabilidade entre o que lemos e o que julgamos ler! Enfim...uma controvérsia nesta história de meninos, donde saem autarcas-cantores, autarcas-construtores e tudo o mais! Abraços e bem chegado sejas!
agora é a minha vez de ir de férias: um pouco de Escócia com passagem por Portugal (Lisboa e o meu Aveiro)... falamos de Berlim no meu regresso (digamos que passei todo o Agosto a fazer de guia da cidade a amigos e sobrinha! e que estou algo cansada)... mas adorava trocar opiniões contigo sobre a cidade... se quiseres adiantar-te: sofianet@net.sapo.pt
PS- depois do teu comentário, agora sei que não és o anónimo da çedilha!!!! :) O que eu e a Idinha nos rimos com aquilo!!!! coisas de gajas ;)
Já me lixaste a cabeça com esta!
Mas não te preocupes, compadre: os castelos de areia são eternos mas os autarcas passam-se.
ora seja muito bem reaparecido ainda mais com esta obra efémera a alindar a semelhante que são os nossos andares (os sonhos?! esses não!)
um abraço e, digo-te: tens literatura (rs) em atraso
autarca? coitadinho...
digam o que disserem ninguém merece tão novo tal vaticínio! :)
O regresso com a subtileza e a ironia de sempre. Adorei.
com este remate....sinceramente não sei se lamente ou ria...
fraterno abraço.
Ah, o castelo é muito bonito.
E afinal o que aconteceu à bela e económica, dentro do prazo construção aqui exposta?
Fraterno abraço
Amigo, qual Sísifo, talvez a criança reconstrua nouto local novamente.
Assim estou eu, tive tanto trabalho e a D. Maria está pior novamente.
Coelhinho
mas essas o mar vai apagando e são belas, e das outras horrendas que não há água que leve? uma granada?
:)
Gostei do momento que aqui passei....
Beijo Silencioso
Muito bom!!! O castelo e as personagens!! Bem vindo de volta!! :)
É o que acontece normalmente com os sonhos e as fantasias, esbarram com prepotência da realidade.
Um abraço. Augusto
Já cheguei! Viva!!!! ;)
E talvez pelagrande construção recebeste um prémio lá no Oriente! Parabens!
bjs
Não sei se estaria ali um autarca, do que não restam dúvidas é que estava ali um artista.. PARABÉNS, UM ABRAÇO, ELL
Caro Legível
Um castelo de fantasia magnífico assim como o seu arremesso de palavras
Saiu o fiscal da areia directamente para a esplanada do apoio de praia. Debaixo de um chapéu de sol com o reclame de um laxante, duas fileiras muito brancas e regulares de dentes, apresentavam um brilho sinistro. Foi para lá que o fiscal se dirigiu.
- Já tramei o puto - disse ele com indisfarçado orgulho.
- Naaaaaa - sibilou a figura dos dentes. - Eu já o tramei antes.
- Foi?
- Fui eu que lhe concedi o empréstimo para a construção do castelo - e riu-se baixinho.
- ahahahahhahahah - riu o outro com gosto. - Vocês, os banqueiros, são lixados.
Adorável texto, este. Inteligente e muito bem construído, para não variar!
De resto, feito de resquícios de um Verão que chega ao fim, qual construção de areia que o vento sempre leva.
Bem regressado sejas, à realidade. Perdão, à virtualidade. Ou à realidade da virtualidade? Ou será à virtualidade da realidade?!
Jisas... Preciso de férias! :-S
teste
teste.
... ó pá! não tens vergonha nessa tola?! a fazeres comentários a ti próprio??? Tens de fazer um teste, tens. Mas é à caixa dos pirolitos...
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