NÃO AO CULTO DA PERSONALIDADE
É conhecida pelos seus próximos, a pouca simpatia que Alberto Raminhos nutre por aqueles que não conseguem construir uma frase sem que invoquem o pronome pessoal eu. "Eu fiz duas semanas de férias nas Ilhas Caimão!" apressou-se a informá-lo o seu vizinho Elias Balsemão quando ontem, Alberto se limitou a cumprimentá-lo no elevador. Uma parvoeira rematada, pensou, uma vez que não lhe tinha perguntado onde tinha estado nas tais duas semanas em que nem deu pela sua falta e, nem lhe ia alimentar o ego com frases do género " Isso é que é sorte! E aquilo por lá deve ter umas paisagens fabulosas, não?!". Elias depressa percebeu (pelo menos para este tipo de diálogos tinha a percepção apurada) que Alberto lhe tirava o cavalinho da chuva porque retorquiu "Pois no que me diz respeito, passei duas semanas na Nazaré e não encontrei nenhum crocodilo... Tenha um bom dia." Esclarece-se que o vizinho de Alberto é o Presidente da Junta de Freguesia onde ambos residem e além da tal profusão de eus que semeia sem cerimónia no Boletim da Junta, em cada página há, pelo menos, uma fotografia onde se destaca a sua figura, sem falar daquela tipo-passe que acompanha obrigatoriamente?! o editorial assinado por si como não podia deixar de ser . Além disso, o seu nome figura em placas alusivas a inaugurações diversas tais como a do parque infantil na Praça da Junta , do espaço- sede da Associação da Terceira Idade Os Fantásticos Jovens de Espírito ou de um painel de azulejos -de temática enigmática, assinado por um artista amador local junto ao mercado. Dizem os seus opositores (?!) políticos que, se fosse naqueles tempos conturbados em que a democracia ainda não tinha nascido neste país, o retrato de Elias Balsemão estaria bem visível em tudo que fosse sítio: da escola primária até ao café do senhor Raimundo.
O veículo passou rápido, mas Alberto Raminhos ainda conseguiu apanhá-lo na objectiva da sua máquina fotográfica. Não era todos os dias que o seu nome se passeava pelas ruas da freguesia.
Praga, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.
23 Comments:
Imprevisível. :-) O olhar atento de sempre.
O Elias nunca deixaria o seu nome passear-se assim pelas ruas!... Nunca ele correria o risco de ver seu nome acompanhado sabe-se lá bem por quê ou por quem!...
Alberto quê?!!!!
querido amigo recebe o abraço sincero
já vão rariando os amigos antigos por estes lados :)
rareando (?! estas dúvidas ente és e is...)
...
temática enigmática...fixo este perturbador pormenor
capaz de acender qualquer imaginação
e quase.quase vejo o enigma
eu...
eu...
eu...
:)
abraÇo.beijO
Esse Raminhos teve um momento de fraqueza. O Elias é que sabe. Tal e qual um autarca que eu bem conheço que sonha ser retratado abraçado à sua própria estátua que um dia, reconhecidos, os munícipes erguerão.
LICÍNIA É O MEU NOME!!!
EU fico sempre encantada ao passar por aqui, desta vez a imaginar quantos Elias...
Beijinhos*
Hmmm, o Alberto tem um pouquinho de vaidade!!! :)
Mas não em demasia, porque para pessoas cheias de "eu's" já basta o Elias! :)
Beijinhos
ai quem me dera um veículo que me transportasse!
(e ao meu nome também!
-com letras de luz a piscar em todos os tons do arco-íris!
~pi ~pi ~pi...)
recolho-me a sonhar, então.
com licença!...
Váš pohodlný nákup - Elias só conseguiu ler a frase depois de muito apurar a vista e ajeitar os óculos na ponta do nariz. O mistério fez-lhe o sangue ferver. Sentado perto de si, no café Café Teira, Alberto Raminhos tinha um saco de plástico pendurado nas costas da cadeira: para além do seu nome em letra maiúscula, o que era já uma afronta para o presidente da junta, ainda tinha aquela frase enigmática junto.
Aquele sonso do Beto Raminhos anda a gozar comigo, anda, anda. Elias ficou tão perturbado que o descafeinado lhe soube a cafeína. Agora, anda a passear sacos de plástico com o nome dele... e com frases esquisitas... se ele pensa que goza comigo, está lixado. À porta do café, pôs-se ao telefone:
- Macaco? - disse ele baixinho, tapando a boca com a mão. - Tenho um serviço para ti (...) - Sim, eu sei que eles andam a apertar com vocês aí no Porto, mas o trabalhinho é cá em baixo (...) não, não tem a ver com outros seguranças, é bem mais simples que isso, bem mais simples (...) um par de pernas partidas (...) naaaa, o gajo não vai dar luta (...)
Assim Elias tratava da saúde de Alberto, sem saber (e sem querer saber) que o saco de plástico não era mais do que o saco de um supermercado Checo, no qual a sua sobrinha lhe tinha trazido uma embalagem de vepřová pečeně s knedlíky a se zelím, de uma recente visita a Praga, e que Alberto agora o usava para transportar os álbuns de fotografias das férias na Nazaré, que tanto gostava de mostrar aos amigos.
Belíssimo relato das "pequeninas feiras de vaidade" das férias, do egocentrismo, de tantos detalhes que alimentam a ânsia de destaque de uns relativament aos outros.
A fotografia está um achado.
Muito bem Alebrto
(Relativamente a enigma da foto da edição anterior dei-me conta da PUB ao C&A. Porém, achei a escultura tão fora do vulgar e tão bela que achei que a «enigma» fosse outro)
Um abraço
curiosamente... um nome semelhante a quem escreve nestas bandas. Será pura coicidência (ou narcisismo tal como o outro??)
ehehehhe
Beijos
Um estado de ânsia revelado por uma sede incassiável de publicidade barata,existe tanta gentinha da " alta sociedade" infelizmente.
Bom início de semana
Bjs Zita
Muito bem postado!
ai que me vais crucificar! passo o tempo todo comigo e com eu. sorry! prometo que não te chateio com as minhas férias, aliás falando nisso, até foram espectaculares nas ilhas Maurícias no Oceano índico.eu...
curioso, muitas placas, as 1ªas que vi com os nomes dos alcaides dos ayuntamientos foi na Figueira... Santana Lopes...
mas virou moda...
ainda não vi foi "esta tampa de esgoto foi arranjada pelos trabalhadorse vicinais do alcaide Costa"
abraço monárquico
A partir desse dia Alberto Raminhos promet(eu) a quem o quis ouvir, deixar de usar frases como "vós haveís comido" e perguntar simplsmente: Você já com(eu)? Ou ser mais comedido quando se referia à morte dizendo apenas
falec(eu) ao invés do dramático "foi levado pela cruel ceifeira". o Eu de Alberto ganhava assim novos contornos , acabavam-se os pedadelos - D'Eus - passou a ser visto todos os Domingos na missa. Chegava um pouco atrasado é certo mas havia de se habituar a arrumar à primeira o camião no átrio da igreja. Aquele que lhe mudara a vida.
P.S. quando eu disse vocação para a escrita deveria ter dito "também". dava a sensaçãoq ue estava a excluír alguma o que não corresponde à realidade :)
Beijinhos
Parece-me uma marca de bolacha. Tipo Óreo. Mas 240 x? Fizeste bem em captar a imagem, está bem legível. Podias emoldurá-la, tipo universalista, vá para fora cá dentro...(o)culto desta personalidade faz-nos bem: actua, por assim dizer, nos neurónios esparramados do calor. Abç
:)))
olha, sabes que mais, Albertos há muitos! ehhehehehe
beijos
Las guerras se ganan más por el ego que por las armas.
Somos vanidosos -condición humana es- y contra ella luchamos. ¿Luchamos?
Agradecida por su visita.
Saludos.
Ramo das mudanças?
Um conto parido de uma excelente imaginação que, coabita com uma não menos excelente arte para a escrita.
Textos destes lêem-se com um sorriso nos lábios, pela mensagem implícita e pela arte com que é passada.
E claro… o Rui com o seu “vepřová pečeně s knedlíky a se zelím” fez-me reler o texto. Inicialmente não me tinha apercebido que fora escrito em Praga.
Obrigado ao Alberto Oliveira (raminhos) por este momento.
Abraço.
Caro Legível
Já vi que o tal Balsemão não é para brincadeiras quando se trata deste culto (pelo menos onde pode). E já não bastava a desfeita no elevador em que Alberto Raminhos lhe tirou o "cavalinho da chuva" (é lá coisa que se faça!!!) :) tinha agora que levar com o nome dele a passear-se pela SUA freguesia!!! "Onde já se viu tamanha ousadia?!!!!" Isso era demais e, já exxxxcessivamente irritado, mandou, logo ali, sequestrar o camionista (sim! porque a camioneta vai sem condutor) Um perigo!!! :))
Tenha uma excelente tarde
Post a Comment
<< Home