"PERNAS PARA QUE AS QUEREM?"
... perguntava-se Li Sai Só, risonho e abastado comerciante de vinhos licorosos na florida e industrializada cidade de Ter Pé Sai Karo, reconhecida pelas suas aromáticas e espirituosas bebidas. Recém-chegado ao Porto por solicitação do seu criador, encontrava-se agora na enorme sala expositória na companhia de dezenas e dezenas de clones seus que apenas se distiguiam pelas posições corporais e no tamanho, uma vez que as componentes faciais a todos eram comuns: do sorriso-em-paz-com-a-vida até aos olhos rasgados, característicos dos povos orientais. Do lado de cá do espelho, Li Sai bem se curvava para não perder qualquer ângulo de visão e não queria crer no que via: ao contrário do que acontecia com os seus iguais, as pernas dos visitantes não se detinham junto a si, ele que se imaginou cercado de questões de toda a ordem e que para as quais já tinha engatilhadas respostas na ponta da língua, resultantes de outras exposições noutros paises. Até que percebeu: apressadas, as pernas dos visitantes corriam ao encontro dos respectivos troncos e cabeças que se encontravam mais acima e do outro lado do espelho.
2008. Texto e vídeo de Alberto Oliveira.
.....................................................................................................................................
NOTA: As pernas que se possam observar do lado de cá do espelho (do lado onde se encontra Li Sai Só), entraram nesse espaço depois de editado este post e, naturalmente, à revelia do autor do mesmo. São as pernas que se conhecem popularmente por "sem pés nem cabeça".