
Podem-se contar pelos dedos as vezes que me sirvo deste lugar para tribuna de sofridas e numerosas infelicidades ou de raras e tímidas alegrias. Mas hoje é uma daquelas ocasiões em que não posso -nem devo, calar o veemente protesto, o grito que detestaria ver afogado na garganta. Mas vamos ao caso. É certo que não sou cliente assíduo do café Águia d´Ouro, mas das vezes que lá tenho ido, coisa alguma se passou que merecesse a pena ser relatada, na relação entre o proprietário do estabelecimento e a minha pessoa. Ontem, depois de almoço, ao preparar-me para degustar o cafezinho da ordem, eis que Demétrio -o dono da loja, me barrou a passagem à entrada da dita cuja. "Lamento mas não pode entrar." O tom não admitia réplica e o físico do homem ocupava praticamente a acanhada porta do café. Surpreendido, quase gaguejei "Mas... nem ia a entrar de cigarro na boca -aliás nem fumo, estou decentemente vestido... o que se passa para tomar esta atitude?" Olhou-me da cabeça aos pés "O senhor ainda não reparou na cor e nas palavras da sua camiseta ou está a fazer-se de engraçadinho?" Só então caí em mim (diga-se, para ser exacto, sem prejuízos de maior para a minha integridade mental) porque de facto, a t-shirt era verde e tinha estampada a frase "só eu sei porque não fico em casa!". A ele não disse, mas para vocês que me leem e em quem confio, aqui vai: não fiquei em casa porque ontem a minha senhora não estava para amar e até me disse "Ó homem! desampara-me a loja! vai para a papelaria que tens lá um empregado que, por te saber tão mole, já deve ter saido antes de ter entrado." E eu fui. Para a minha Papelaria A Leoa de Prata. E o Demétrio que experimente lá ir comprar o Record ou o selo para o carro ou... Não entra lá mais. Garanto.
Lembrei-me de escrever sobre este tema porque no defeso, ninguém fala do desporto-rei. E o futebol merece que dele se escreva, se debata, se escalpelize e não seja esquecido. Não deixemos o futebol ficar mudo e arrumado a um canto até à próxima época. E eu já tenho saudades dele...
Lisboa, 2008. Texto e foto de Alberto Oliveira.