DO AMOR ENTRE OS BICHOS
Assim mesmo, sem tirar nem pôr: letras brancas na tinta preta da protecção de ferro no alto da Calçada do Monte que confina com a rua Damasceno Monteiro. Dou uma mãozinha: ali para os lados do Bairro da Graça e caminho mais rápido para quem queira dar corda aos sapatos e num ápice encontrar-se na baixa lisboeta. E sem pagar mais por isso, deitar um olhar ao Castelo de seu santo(?!) nome Jorge -sem dragão à vista desarmada, e outro ao Tejo, rio a quem calhou na rifa um casamento daqueles como já não se fazem hoje -para o pior e para o melhor, na doença e na morte (cruzes canhoto!) com a atrevida e branca Lisboa. Por sinal, na altura em que aqui estive (no interior da imagem, entenda-se), era uma daquelas manhãs de Primavera que mais faziam lembrar o Inverno e uma capa de neblina tinha descido sobre a cidade, não permitindo grandes turismos visuais. Daí que, a declaração amorosa em primeiríssimo plano ganhe ainda mais protagonismo e remeta para outras núpcias a paisagem de fundo. Nela (declaração), há a clara intenção de fazer crer ao incauto passeante, que está perante os nicknames de dois humanos apaixonados, sendo o primeiro da fêmea e o seguinte do macho. Se partirmos do princípio que gri gri é a fala do grilo e que ferrão é o aguilhão da abelha, ficamos a saber quem é quem. E podemos então logicar que, longe vai o tempo em que os bichos apenas falavam. Hoje, protegem identidades e também escrevem.
Lisboa, 2008. Texto e foto de Alberto Oliveira.
29 Comments:
Deram-me uns bons conselhos.
Os meus respeitos.
Mais uma fábula , posso dizer que fabulosa, já que tem direito a bichinhos e tudo. Claro que, num mundo cão onde vivemos, fica muito bem enquadrada. É caso para dizer que estamos entregues à bicharada mas enquanto a mensagem fôr de amor ... :) se bem que apanhar com uma ferroada não seja lá muito agradável, digo eu! Que para fazer Gri gri me falta o R
beijinhso e sorrisos
Está espantástico!...
Desta vez até eu, desneuronada, percebi a fábula, pois se com ela convivo todos os dias!...
Eles também sabem
E até souberam antes de nós, humanoides!
Portanto.. respeitinho
beijo aferroado pa ti
Terrivelmente fantásticas estas histórias!Parabéns.
um abraço
Bichos, infelizmente ou talvez não, é o que para aí anda... mas a natureza dá lições de sabedoria infinita...
será que as ouvimos sempre?
Pois é, Alberto. A "evolução não pára de evoluir!"
A interpretação da mensagem está perfeita. Permito-me acrescentar uma adendazinha: o anúncio é o tornar pública a união de afectos ou é uma maneira de coagir alguma hesitação de uma das partes? -- Se calhar até pouco iteressará.
Lisboa é linda, cheia de luz ou até coberta de um manto diáfano.
Um abraço
A última vez que estive aí, nesse miradouro, a matar saudades dos sítios onde à tarde ia com o meu filhote(agora por outras paragens) alongar a vista sobre Lisboa, o dia estava transparente e os animais ainda não usavam nicknames...Como os tempos mudam:))
Abraço e bom fim de semana.
:) Um dos miradouros mais bonitos desta nossa cidade!
Ainda por lá andei o mês passado!
A gri gri voava de cabeça nas nuvens e o ferrão bebia uma coca-cola :) mandam-te saudades e beijos.
E eu também :)
Gostei. Romanticamente e fragilmente - por serem insectos e estarem suspensos - animal.
Não sei porque carga de nevoeiro me lembrei dum insecto que mata o macho "ódespois" e aí tudo se inverte, num sádico enleio! Mas realmente, fico aferroada com estes animais que escrevem em todo o lado menos nas aulas de português!
o fabulário infinito das ruas:
:inscrever à parede
dos olhos
poemas
de
amor
~
comentário não eliminado
Esta mensagem não foi removida pelo autor.
(gargalhada)
diria que gri gri é fêmea e ferrão macho, acho que tem mais a ver, ou então os insectos fizeram processo de alfabetização! ehehe
... verdade!!!
a cidade proporciona-nos momentos extasiantes... sem pagar mais por isso
podia ser uma cidade mais cuidada mais viva... mas isso é outro departamento
os bichos são muito criativos e nicks é o que para aí não falta...
o meu vizinho do quarto andar - o Sr. Pavão - tem uma louraça atrás dele a chamá-lo incessantemente: Ó PUPU!!
quando os vejo dou comigo a pensar: que belos posts!!
a cidade casou com o Tejo, mas já nela uma serpente havia dado sete nós, colinas em que nem sempre a neblina deixa ver o amante.
O que é esta história dos irlandeses?
Desculpe incomodar.
e quantas vezes o amor entre os bichos ou dos bichos por nós é mais autêntico do que o nosso por alguém. os animais são mais puros! beijinho grande, legível.
viva legível... a Graça! belo bairro.vou quando posso de electrico 28 até às suas colinas. estive lá bem à pouco tempo a degustar uns belos caracois que estão pelo preço da "morte"! hummmm era exactamente o que faria hoje:apanhar o 28, e escalar a colina do chiado até à Graça.boa semana.
Tens a certeza de que mais adiante não estava escrito "blogspot.com"? Cheira-me que se trata de uma convocatória para um encontro de bloguistas. Tu vais?
Beijinhos.
gri gri ;)))))))
Que bom é chegar a um blog e ler de um fôlego só, acabando a sorrir!
Obrigada.
Bj
Mais uma prosa deliciosa. Grigri e Ferrão (será que foram felizes para sempre?) "Cruzes, canhoto!" Adorei isso.
Beijo.
Olá
Vi cá por vários motivos:
1º - convido-te a vir espreitar uma associação desconhecida de muita gente e tantos lugares que merecem ser visitados , não só pela sua beleza, mas também pela preocupação em preservar o ambiente.
2º - dar-te os Parabéns, pela tua escrita, sempre perfeita e agradável.
3º - queres dar um passeio aos glaciares nas tuas férias de Verão?
Um dia destes à porta do prédio encontrei um grilo, lembrei-me dele agora quando te li...
Deixo-te um abraço com saudades.
A tua capacidade de captar o pormenordas coisasquete passampela..vida eaformacomo os descreves sãoabsolutamente geniais.
Este foi hilariante ehehehe
Beijinhose atébreve.
;O)
Uma grila com um abelhão? Mas que raio é que se passe nessa cabeça?...
Looooooooooooooooooool
no meu luar, para ti ficou um outro casamento de uma cidade com um rio que o Tejo não é
Eu, depois de saber através de umas letras góticas entre o azul e o prateado, que a "Cátia Vanessa amava o o Tózé" e que a " Márisa é uma grande filha da p*", passei a estar particularmente atenta a estas mensagens que fazem das cidades um repositório de pérolas literárias e desabafos quotidianos. A gri-gri escreveu mais uma página...e o amor é tão bonito, assim escarrapachado ao ar livre.
Imagino-te olhando e criando. Seus olhos são perfeitos! Inteligência! Como pode unir tais coisas criativas?
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