
Com a rotunda barriga aterrissada sobre a toalha azul que não o impedia de sentir a frialdade da areia, as mãos a apoiar o queixo e o olhar divorciado do sobe-e-desce das oceânicas ondas, perguntava-se agora porque razão tinha enfiado a família na carrinha wolkswagen e rumado à Fonte da Telha. Nem a meteorologia previa um domingo de sol à bessa, nem os valores da temperatura máxima se situavam -pelo menos, ao nível dos derradeiros dias de uma Primavera à séria, que de primaveril só tinha tido o nome. Pior ainda, a decisão de zarpar fôra tão rápida, que Amândia -sua dedicada companheira, nem tempo tivera de comprar rissóis e cervejas para os adultos e picolés para a gurizada. (Valeu a solidariedade do autor do texto, e a passagem pelo local, oferecendo duas loirinhas do seu harém privado -que se distiguem na imagem, para os mais encalorados.) Lentamente, deixou-se vencer pelo sono. E sonhou que jogava futebol (o seu esporte favorito), a areia da praia era agora um gramado cor da esperança e driblava toda a família -qual Ronaldinho Gaúcho, para logo a seguir rematar ao gol. Era um celebrado e bem pago artilheiro... Saiu na hora, antes mesmo do apito final, para receber a ovação da torcida. Na cabina, depois de uma revigorante ducha, vestiu seu terno azul de campeão. Foi neste momento do sonho que, com ternura, Amândia o acordou "Vamos andando Indalécio, que não tarda nada, cai uma carga d´água que até os cães a bebem de pé." Ele piscou os olhos, olhou o céu cinzento, sorriu e disse "Que bobagem! Sonhei que era consultor da Vodatronix e embora não ganhasse ainda uma nota preta e tivesse muita dificuldade em apanhar o bonde para Sete-Rios, peguei um trabalho certo... " Ela sorriu condescendente "Mentes tão mal, mas de fato fica-te a matar esse sotaque."
Quarteira, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.