PROJECTO PARA UM QUASE BEIJO

Não garanto nem prometo algo com as minhas letras. A quem por aqui procurar caminhos de perdição ou de enlevos, aconselho vivamente a consulta de outro operador turistico.


Defensor fervoroso da dança, mau grado o volume da pança, com desembaraço dificilmente acertava um passo. Não distinguia o mambo do tango e pasme-se! até, o cha-cha-cha do café-café. Maneava a cabeça qual salamandra, desconhecia o golpe da perna malandra. Enfim, mexia os pés assim, sem eira nem beira, qual galo doido preso em capoeira. Sem requebro de anca, mas a grande panca que tinha pela dança, morava plena no seu coração. Sózinho, era o rei do salão.
2009. Texto e vídeo de Alberto Oliveira. Música: "chilloutxis"
... não seria personagem relevante para figurar neste primeiro texto do novo ano, não fosse ter sido visto - por populares bem agasalhados, nas proximidades do Mosteiro dos Jerónimos, no estado que a imagem documenta. Porque na verdade, estivesse o cidadão composto (que é como quem diz, vestido) ninguém se daria ao trabalho de tentar adivinhar a cor do tal apêndice. E quase me atrevo a afirmar que nem sequer fariam reparo no seu olho direito, também azul, porque sabemos de fonte segura que um olho nu vale o que vale, mas um pénis despido já se presta a considerações mais aprofundadas ou até, quem sabe, científico-valorativas. O homem em causa, para além da ausência de vestes, apresentava o corpo retalhado, da alma não havia sinais visíveis e no rosto uma indescritível máscara de espanto. Um lisboeta mais afoito chegou mesmo a interpelá-lo «... se devido à sinalética-cromática-corporal não seria um monárquico convicto perdido no tempo?». O nosso homem nem se dignou responder, continuando a sua marcha quase automatizada e o olhar perdido em frente na direcção do Centro Cultural de Belém.. Dizem os que já lá foram, que é a última aquisição de Berardo e tem o título "Futebolista sem chuteiras".