ESPAÇO PARA ESCREVER

Para o escriba dar largas à imaginação - quando esta não lhe falta ou a musa não se faz de rogada - o espaço onde se colocam as letras é fundamental. Não precisa ser uma vasta área onde o negócio do imobiliário floresça como por artes mágicas e encha as contas bancárias daqueles que tudo sacrificam para que não fique de pé um único deserdado da sorte sem habitação, ou tão pouco, nas antípodas, uma nesga de terreno onde cresçam em sintonia, batatas, cebolas e nabiças para consumo próprio dum cidadão prevenido. A imagem de hoje, em que dos pés dos anónimos transeuntes, preocupados em atravessar a avenida antes que se esgote o tempo do sinal verde-dos-peões-com-esperança-em-sinais-melhores, até ao limite inferior da foto, creio ser o exemplo-modelo da extensão de vazio onde tanto se pode escrever um livro de poemas excêntricos como a história concêntrica de um país à procura da sua identidade e sem um polícia por perto para lhe indicar a localização do edifício de perdidos & achados. Hoje (há dias assim), sinto não ter aproveitado em pleno - cobrindo-o de palavras impossíveis - o chão da avenida que tive à disposição . Talvez os leitores que por aqui passam, o queiram acabar de preencher sem recear os sinais.
2009.Texto e foto de Alberto Oliveira.