Sunday, December 21, 2008
Friday, December 12, 2008
O BALÃO RESISTENTE
Foi aquilo a que se chama um espectáculo deprimente. Houve momentos em que temi pela vida do pobre balão, que a teimosia e a maldade humana parecem não ter limites. Sem poder referir os promotores de tal evento - que muito convenientemente se escusaram a dar a cara e os nomes, registo a actuação deplorável no terreno, a quem foi dada a incumbência de fazer elevar nos ares, um balão que qualquer patego percebia de olhos fechados não pertencer àquela história. Que a manter a atitude, defraudando as expectativas do público que se encontrava no local, de tudo o ameaçaram: com governos musculados, pálidas oposições, ministros de um governo republicano com o rei na barriga, deputados absentistas, banqueiros trafulhas, a recessão atrás da porta, carne de porco irlandesa, enfim, uma panóplia recheada de mimos natalícios e com a cereja em cima do bolo fazendo lembrar os tempos da velha senhora: injectando-lhe nas entranhas montes de ar quente que cá para mim devia estar a ferver. A tudo, o estóico balão resistiu. Ou seja, não subiu. Um homem a meu lado, baixando a voz confidenciou-me "Sei o que se passou. Foram arrancá-lo - de manhã e pela força, a um livro de banda desenhada".
2008. Texto e vídeo de Alberto Oliveira.
Friday, December 05, 2008
O ELEVADOR AMARELO
Confesso que os preferia azuis - aos elevadores, para quando chegados "lá ao cimo" se confundissem com o céu da mesma cor, naturalmente em dias mais claros que este em que vos escrevo: cinzento, molhado e frio. Também por isto, os elevadores azuis apenas deviam funcionar em dias de estio e sem a previsão de uma única nuvem na chegada ao topo da viagem. Ao sairem da máquina, os passageiros sentir-se-iam gratos por terem alcançado o ponto de confluência entre o azul-terreno e o azul-celeste, pelo módico preço do simples título de transporte de um transporte público. Depois e no meio de oh!´s de espanto e ah!´s de deslumbre, cada um decidiria do seu destino: dar um passo em frente e passar umas férias em tal paraíso azul-altíssimo ou regressar à terra-baixa com um sorriso amarelo num elevador da mesma cor. Maria da Luz do Espírito Santo - do seu nome de guerra Mariluz, prescinde do ascensor e sobe em esforço a calçada íngreme a penantes, pois a sua fé é inabalável: der por onde der "lá no alto" deve estar tudo azul à sua espera. Manecas Olho d´Lince e Arnaldo Mão Leve sabem que "para baixo todos os santos ajudam" e quando atingem os Restauradores olham enlevados o Castelo de São Jorge iluminado por uma larga fatia de sol como que enfeitiçando turistas louros e desprevenidos.
2008. Texto e vídeo de Alberto Oliveira.