O EQUÍVOCO
Não faço a mínima ideia com quem falava ao telefone móvel. Mas era notório o seu nervosismo pelo caminhar descontrolado - em passos rápidos e curtos umas vezes, outras em passadas largas, cadenciadas de marcha fúnebre e tão depressa rodava sobre si próprio ora na direcção de Cascais como se voltava para as bandas de Vila Franca de Xira, gesticulando tão bravamente como qualquer italiano que se preza, de tal modo que, de quando em vez, mudava o braço que sustentava o telefone para dar descanso ao outro. Acrescido a isto, o registo verbal entrecortado e ríspido, não enganava ninguém: estava fulo e não seria difícil adivinhar que o seu interlocutor se limitava a ouvi-lo. Dizia estar "... preocupado. As informações que me prestaram - e que considerei de fonte fidedigna, não correspondem à verdade pois do Homem Diferente e do Cão Incomum nem sombra ou rasto. Daqui, apenas vejo o catamaran do Montijo a fazer a aproximação ao cais do Cais do Sodré. Até de dois pombos-figurantes do cenário que me pintaram, nem penas. Vá lá confiarmos em alguém... " . Fiz questão de aqui deixar parte das falas deste personagem, para que mais tarde não possa argumentar que estas letras não passaram de pura ilusão de óptica. E porque sou um cidadão cauteloso (o que é literalmente diferente de desconfiar das minhas faculdades mentais... ), voltei aos dois textos anteriores. O Homem e o Cão lá estavam; mas agora juntos, a partilharem histórias de vidas e solidões sofridas. Juro que a emoção foi mais forte que eu: entrei no restaurante mais próximo e pedi uma dose de bacalhau cozido com todos...
2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.
26 Comments:
não sei se contigo me meta
mão quero parecer mal
não sei se invente uma historieta
ou se fale no central
atirou-se, foi de carrinho
não controlou o impulso
abalroou o levezinho
devia ter sido expulso?
mas eu não quero ser mau
acompanho-te no bacalhau
O cão Incomum levei-o eu para casa, não resisti.
:)
Não posso deixar de referir a grande criatividade destes textos, tão bem escritos e plenos de um sentido de humor muito agradável.
L.B.
Quem quer bem sempre se encontra:))
[Cada vez mais surrealista, divertida, criativa, ínvia (e estava aqui o resto da tarde...)a tua escrita!]
Ora... dá tudo em águas de bacalhau...
:)
Beijos
Homem! Podias ter dito alguma coisa, que eu não sou comadre que se esgueire a um bacalhau com todos! Nem à meia desfeita, nem às caras quanto mais à posta de post e com todos!
É assim que as coisas (não) funcionam!... É tudo na base do diz-que-disse... Também já ando um bocado farta de ver gente a dizer "eu não disse isso", "eu não fiz aquilo"... Bacalhau cozido com todos era uma boa, dependendo de "todos"...
Tudo bom como sempre
contudo
preferia caras de bacalhau
para todos
Abraço
... se a conversa ficar por aqui não está nada mal
tudo muito fixe, muito fashion, resolvido à mesa, como mandam os mandamentos
As fotos continuam geniais e os textos, surrealistamente interessantes. Gostei de teres posto o foco cá na terra... Aliás, perdoe, sinhorescrivão, o abuso da minha linguagem de tratá-lo por tu... deve ser contaminação dos três risonhos portugueses lá de baixo...
O problema é encontrar tempo para me deliciar longamente com as leituras... mas tudo se acomoda e eu chego lá.
Melhores cumprimentos daqui mesmo
rente ao Tejo
Gostei, claro!
Um abraço.
Pareceu-me que
"...o barco vai de saída
adeus ó cais d'Alfama..."
Pois que vos preste - porque homens diferentes e cãos/gatos incomuns não há por aí aos molhos.
Bjinhos
A verdade desta história é que, sendo uma história impossível, assemelha-se na sua impossibilidade às histórias de vida de cada um de nós.
Se fosses mais humano terias convidado o homem e o cão e partilhavas o bacalhau cozido com todos.
Um abraço.
Como sempre, um texto bem interessante...
Quanto ao restaurante, e estando no Porto, nada melhor do que almoçar na Ribeira....e o bacalhau, prefiro assado na brasa.
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta
Chegada do Alien, que como sabes é sempre uma mesa farta, entro aqui e depois de passar pelo talho nº45 deparo-me com um bacalhau com todos (emoção à flor da pele e rubra)...está-se mesmo a ver que não se pode visitar blogs de amigos fora de horas e fora de portas :))
Vou visitar o Rui...vamos lá a ver a sorte que me espera :))
Um abraço e bom fim de semana!
gosto muito de cães incomuns :) obrigada pelas mensagens carinhosas que tem deixado na minha tradução. fazem-me bem à alma... um grande beijinho e bom fim de semana!
ps.: tenho a mesma opinião sobre os italianos :)
São os dias em que a realidade mexe connosco de uma forma estranha...
É pá...também me emocionei.
O Homem e o Cão
Diferentes e Incomuns (ou não...)
.... Juntos.
Colmato, com:
- Sai uma tulipa e um pratinho de camarões!!!!
... cafezinho e "caracol" com muita fruta.
E passa de abraço a beijo... na testa (rs)
O homem e o cão juntos partilhando, o que só prova que é afinal verdade a mentira que diz ser o cão o melhor amigo do homem.
Alice, a fininha, ligeiramente mais roliça.
é tudo verdade... onde param os omissos?!
beijos
queres ver que o "todos" do bacalhau traz rabo de cão e orelha de gente?
...hoje comi bacalhau guizado com massa
como não podia deixar de ser, lembrei-me de ti
ahahahahah
Felizmente que o teu Cão Incomum existe.
Mas apenas visivel aos olhos do Homem Diferente.
Gosto da calmaria que a foto transborda.
Abraço
ecg
estes textos além de extremamente critivos teem a particularidade de prender o leitor a tentar desenrolar o fio da trama, e , aí está o busilis da questao, são sempre finais (?) totalmente inesperados.
bom texto!
um abraço
ressalvo : criativos em vez de critivos.
desculpe!
Ora bem, caro Legível, não é que também me comovi tanto que marchava já um bacalhauzinho que tenho ali a demolhar (tenho mesmo!) Mas, a estas horas, não dá!
Sigo para outras histórias.
Um abraço.
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