Thursday, January 28, 2010

PAUSA PARA ADORMECER (6)







Gosto muito da minha tia Matilde porque quando lhe peço para me contar uma história para adormecer ela não se faz de rogada. Aconchega-me bem o cobertor junto ao pescoço e não perde tempo «Once up on a time... » Esqueci-me de vos dizer que a minha tia trabalhou muitos anos em Londres e por vezes não se lembra que sou uma menina pequenina portuguesa que ainda mal começou a desvendar as dificuldades da língua materna e se eu não lhe fizer um sinal abrindo muito os olhos (já lhe expliquei que embora me chame Margarida ninguém me trata por Daisy... ) ela vai por ali fora lançada como se estivesse ainda em Lexington Street a falar com os vizinhos. Foi o que se passou ontem à noite com a história da Gaivota Carlota e do Bancário Macário. Então voltou atrás e emendou para «Era uma vez... » Confesso que até onde consegui ouvir - que os olhos se teimavam em fechar - a história me pareceu um bocado confusa e triste. É que nem o Macário tinha ar de quem consegue reanimar um banhista em dificuldades respiratórias na Costa da Caparica e muito menos uma princesa dum sono profundo, nem que Carlota abraçasse a causa monárquica ou caísse nos braços dum anónimo bancário. Pelo aspecto, seria fêmea para outros voos. Bem salgados.
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A minha tia prometeu-me duas coisas: uma, que me levava a ver a Casa das Bonecas em Cascais. Essa já a cumpriu mas acho que se "enganou no caminho". É que a Paula Rego faz bonecas demasiado grandes para a minha idade. A outra, de me contar uma história mirabolante de seguidores e perseguidos. Não tenho a minha tia na conta de mentirosa mas uma vez não são vezes...

2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.

27 Comments:

Blogger uminuto said...

ups descobri de onde herdaste esse teu lado de contador de histórias :)
assim sendo, e com a Tia Matilde não é mentirosa teremos brevemente uma mirabolante história de seguidores e perseguidos ...
um beijo

28/1/10 15:06  
Blogger Fá menor said...

Assim como quem não quer a coisa... hein?!... e os seguidores e perseguidos estão de volta!!!

Há estórias que aparentam ser canções de embalar, mas quando damos por isso estamos num filme de terror...

Bjos

28/1/10 15:23  
Blogger MagyMay said...

Voltaste Margarida, mas voltaste (rsrs).... os perseguidos e os seguidores quando "entram na pele" são assim, por mais pausas que se façam, renascem qual fenix!!!...

(excelente o texto, Legível... e a foto... tudo, carambas!)

Sorrisos e abraços

28/1/10 16:14  
Blogger bettips said...

Nã... isto aqui é mesmo Portugal e a sua "patine" - mais conhecida em certos lugares como sujidade, desmazelo - nada de londrinices, nem bacons nem angels. Desde que meta maqueiros e bancários - ou macários, sicários e banqueiros -, é de cá, a historinha é a mesma, a da carochinha.
Velha como a raça "quem quer casar com a Carochinha que é de finanças anafadinha?". Vês? já te lembraste de quem é o João Ratão, cozido inteirinho no caldeirão...
(como vês eu podia ser tua sister Mathilda")
Bjinhos

28/1/10 23:31  
Blogger lélé said...

bancários, macários, carlotas e gaivotas... Isso não é aquela música "uma gaivota, voava, voava, f...d...p... ninguém a parava...", muito ouvida por altura duma fuga em massa de prisioneiros de Alcoentre?...

29/1/10 00:31  
Blogger Ruela said...

Right!

haha!


Abraço.

29/1/10 00:41  
Blogger manuel gouveia said...

Histórias de embalar em português não faltam... são um pouco confusas e os maus estão sempre inocentes!

29/1/10 16:56  
Blogger batista said...

como nos faz falta uma tia Matilde!!!

um abraço fraterno.

30/1/10 03:06  
Blogger Rosa dos Ventos said...

A Carlota tem nome monárquico, olha a Carlota Joaquina que foi doida toda a vida sem deixar de ser rainha...
Essa Gaivota precisa que lhe contem estórias de reis e rainhas para ganhar vontade e inscrever-se na Causa Monárquica!
Quanto ao Macário Bancário dará uma óptima personagem quer de perseguidor quer de perseguido...
Como as coisas estão!
Mas isto sou eu a alvitrar, apesar de não me chamar Matilde e nem sequer conhecer Londres.
Espero ansiosamente pelas próximas cenas!

Abraço

30/1/10 17:19  
Blogger Justine said...

Mas a tua tia anglófila anda a contar-te histórias de terror! É mais didáctico e provoca menos pesadelos levar-te todos os dias à Casa das Bonecas...

30/1/10 17:45  
Blogger Marta Vinhais said...

Há sempre histórias mirabolantes...
Em que sempre se duvida do fim ou desejamos ser nós a inventá-lo...
Aguardo a nova história de seguidores e perseguidos...
Obrigada pela visita
Beijos e abraços
Marta

30/1/10 21:42  
Blogger oxalá said...

Talvez por isso, Margarida, as histórias da Casa das Bonecas não sejam para meninas da tua idade. Quando fores Daisy pensarás que já viste aquela gente em todas as esquinas da praceta.

Abraço!

31/1/10 08:05  
Blogger Unknown said...

Olá Alberto

Eis uma narrativa que começando com um «Once up on a time...» corrigido para o português manteve a eficácia narrativa e as bem colcadas remissões para o seu exterior, boas e a preceito.

Bom.
Muito bom.

Quanto à Casa das Histórias da Paula Rego, a visita é meritória por duas razões (Digo eu por já lá ter estado):

1ª Pela obra;
2ª Pelo espaço e pelo enquadramento

Recomendo vivamente:

Visitar, ali ao lado, a Casa do Conde Castro de Guimarães, frente à entrada da Marina.

Saudações.

31/1/10 15:33  
Blogger Há.dias.assim said...

Com uma tia assim tens o futuro garantido.

31/1/10 16:22  
Blogger Rui said...

Estava a Gaivota Carlota a lamber a mais recente ferida quando, mesmo a seu lado, pousou com estrondo a Águia Vitória. Noutro contexto, o pequeno coração da gaivota teria-se sobressaltado mas, com tanta ferida por sarar, nem se assustou. Também não havia razão: a Vitória só queria conversa.
- Então Carlota, que ar é esse?
- Ora, ar de quem está à espera da prima Vera.
- Até Março ainda falta...
- Não. Da minha prima Vera. Combinei aqui com ela, para depois irmos beber umas cervejas com o Macário.
- Achas que há lá Carlsberg?
- É capaz, porquê?
- Ainda temos de beber uma juntas.
A imagem de uma bola a bater numa mão fantasma assaltou o espírito de Carlota e nessa altura sim, ela assustou-se.

31/1/10 18:46  
Blogger Arábica said...

Uma vez não são vezes, como tu bem dizes Alberto e há sempre uma primeira vez para tudo: até para as histórias grandes daquela casa.
Também uma primeira vez para estrear o meu novo nick, quase como se estreassse um vestido. Todo o cuidado é pouco.
Não por ser novo e temer amarrotá-lo...mas...e se eu fico colada à história? :)

Beijos, sorrisos e muitas viagens a Cascais :))

31/1/10 21:25  
Blogger Rui Fernandes said...

Não sei de onde vem essa ideia de histórias "para adormecer". As que eu conheço, mas contava minha avó materna que tinha fama de feiticeira lá na aldeia perto da propriedade, eram como certas substâncias que amainam a consciência e desatam os sentidos. Outras feiticeiras, anos mais tarde, muitas mais histórias me contaram, todas na piedosa intenção de me fazerem adormecer. Sempre que pressentia história, tinha já cama ali ao lado não fosse acordar estatelado no chão. Eram histórias que se presavam, acontecidas sempre num pretérito imperfeito. Eram histórias em todas as línguas, a certificar a sua vocação universalista. Eram histórias de animais em que os homens falavam.

A falar verdade não me lembro de nenhuma. Ainda hoje sou assim: sempre que me contam uma história, faço uma pausa para adormecer.

Mas, em abono da verdade, em uma coisa solenemente me comprometo: se me contarem uma história de seguidores e perseguidos, prometo não adormecer.

31/1/10 22:12  
Blogger Joana said...

Histórias para adormecer a esta hora... segunda, de manhã... ai que ainda me vêm mais saudades do fim-de-semana!... snif! snif!

Boa semana!

1/2/10 09:27  
Blogger São said...

Ñão perceber a língua talvez até faça adormecer mai rapidamente, rrss

Da pintura de Paula Rego, me desculpe quem a admira muito, não gosto.

Feliz semana.

1/2/10 12:51  
Blogger MagyMay said...

Eh pá, eh pá, eh pá!!!!
...acabei de ler o teu comentário lá no "Ti and Ci" e mesmo com o chefe aqui nas "minhas costas" não resisto e cá vai:

.. Legível Alberto de Oliveira... Eu gosto de ti, prontos!!! gosto!!!

1/2/10 14:16  
Blogger Leonor said...

histórias sem virgulas nem pontos nem fio condutor que nos levam de um lado para o outro sem darmos pelo caminho e entretanto quem fica sao as personagens fora do tempo e do espaço e dessas sim lembramos na manhã a seguir

(que bom era ouvir essas hist+orias noutros tempos, noutros espaços)

Boa semana!

1/2/10 18:49  
Anonymous Anonymous said...

da última vez que fui a lisboa com a intenção de visitar a casa nova da paula rego, fiquei entalada no hospital de são josé... mas o que interessa é que vou lá na próxima ida a lisboa :) gostei muito da tua tia. podias emprestá-la de vez em quando :) beijinho grande*

1/2/10 20:07  
Blogger Arábica said...

Com tanta passarada no teu encalço como podes tu fazer uma pausa para adormecer?? :))) beijos com piu piu piu :))))

2/2/10 11:52  
Blogger Alien8 said...

Ó miúda, eu, se fosse a ti, não confiava muito na tua tia!

Quer-me parecer que aquele Macário é Correia, e a gaivota voava, voava, tão veloz que a imagem ficou borrada.

Mas eis que descortino dois baldes ou coisa parecida, que bem poderão ser de tinta. Assim fica tudo resolvido. Ou não.

O Legível anda por aí, e ele é que sabe. Dá-lhe um abraço meu. E aproveita para lhe cravares uns rebuçados.

3/2/10 01:34  
Blogger Arábica said...

Oh Legível "aquilo" ontem foi um bando de golos ou quê...?!!!! :))

3/2/10 08:34  
Blogger Alberto Oliveira said...

Para arábica:

Não conheces os dois ditados portugueses que dizem "uma andorinha não faz a primavera" e "quem num túnel aos pombos dá milho, arranja sarilho"?

3/2/10 10:29  
Blogger Licínia Quitério said...

A tia Matilde é a que foi dona de restaurante muito afamado? Não? Ah, pois. Esta é inglesa. Eu até gostava que ela me contasse histórias para estar acordada. Sim, porque de histórias para adormecer estou já um bocado farta. Talvez seja porque ando um bocado asténica, mas o que é certo é que não consigo ver um debate televisivo até mais de meio sem cair nos braços do senhor Morfeu.
Cá por mim, acho que a Carlota, a voar assim tão baixinho, se arrisca a ser personagem de um texto underground em que o Macário se apresente em versão hip-hop do conde Drácula.

E prontos, disse.

Abraços.

3/2/10 13:01  

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