À MESA TUDO SE RESOLVE ? (7)
Com tanta perseguição, pouco tempo lhe sobrava para fazer aquilo que mais gostava: dar passeio às pernas e aos olhos pela beira-rio. Hoje, mandou às urtigas, os cuidados de olhar de soslaio para quem lhe ia na peugada e deu consigo a ver as vistas. A Praça do Comércio que continuava a não fazer jus ao nome, não comercializando absolutamente nada e se mantinha firme no primeiro lugar do ranking das "obras dificilmente concluidas em tempo útil", arrebatado recentemente às de Santa Ingrácia, dava ideia de um mega set da sétima arte, dirigido por nomes oscarizados na arte das derrapagens em grande velocidade. Surpreendeu-se uma vez mais, com a largura que rio agora apresentava. Num autêntico golpe de mágica, Cacilhas estava a um palmo de distância da margem onde se encontrava. Aquela tinha sido a solução financeira mais económica encontrada pelo executivo, sendo que assim, as pontes de grande envergadura deixavam de fazer sentido, uma vez que a travessia a nado seria uma opção de grande alcance social e desportivo. É verdade que foi o cabo dos trabalhos para retirar água ao leito do Tejo, mas com a ajuda da população sénior do distrito de Setúbal - com a sua inestimável experiência de vida - e das crianças das escolas da Grande Lisboa - mais os seus baldinhos de praia - a coisa fez-se, pela primeira vez e no âmbito das obras públicas, no prazo pré-estabelecido. Em Alcântara, a canção que pairava nos ares daquele bairro ( "A carga pronta metida nos contentores/adeus aos meus amores que me vou/ p´ra outro mundo... ") trouxe-o ao mundo que o atazanava nos últimos dias. E teve uma ideia: porque não organizar um almoço no "Atira-te ao Rio e Diz que te Encharcas" com seguidores e perseguidos desta história e onde tudo se deslindasse? Jesualdo* (Bibi para os familiares mais chegados) já tinha na cabeça o convite-chave para o repasto: "ou comem todos ou... ".
*Por imperdoável lapso, na imagem não se distingue claramente a figura de Jesualdo. Ele está totalmente encoberto pelo homem de camisa azul e calças negras (à direita da foto) que se encaminha na direcção do Mosteiro dos Jerónimos.
Continua no próximo texto.
2009. Texto e foto de Alberto Oliveira.
22 Comments:
Com a população sénior e as crianças
(todos com pressa)
claro que a obra se acabaria
a tempo de nadar
(para longe, se possível, o Bugio, o meridiano, a Modern,
fazer o caminho
inverso
do Vinho do Porto ...)
Toda esta gente me parece deprimida, com os trabalhos ou os trabalhistas!
Beijos Alberto
De facto o convite-chave está correctíssimo:"eles" andam todos a tentar comer o mais possível, ajudando-se mutua e freneticamente nessa tarefa...
Abraço, esperando a próxima crónica do nosso quotidiano aberrante!
Todos à mesa, sim senhor!
Assim é que é.
Veremos o que acontece no final das "conversações".
L.B.
Matas-me com tanto suspense!
E onde é que foram despejar a água?
Abraço
Foi das clarabóias de santa clara que elas se atiraram, claramente para chamar a atenção do homem que já não as perseguia, directaemnte para o rio.
Não fossem os marujos dos cacilheiros ouvirem o ruído dos seus saltos a rasparem nos pneus das amuradas e teria sido o fim...
No jornal metro do dia seguinte lia-se nas gordas: obras públicas salvas de morte por afogamento.
Pensa-se tratar-se de suicídio em série.
(se não for, que a verdade seja reposta)
:) beijos que os sorrisos já cá cantam :)
Parabéns por outra excelente crónica da vida do nosso quotidiano.
Anna, geneticamente seleccionada para ser uma dadora de medula óssea, perfeitamente compatível para a irmã. Desde o nascimento até à adolescência, Anna tem de sofrer inúmeros tratamentos médicos, invasivos e perigosos, para fornecer sangue, medula óssea e outros tecidos para salvar a vida da irmã mais velha. Toda a família sofre com a doença de Kate. Agora, ela precisa de um rim e Anna resolve instaurar um processo legal para requerer a emancipação médica - ela quer ter direito a tomar decisões sobre o seu próprio corpo.
Huuummmmm....que tragédia!!!
Se isto acontecesse na vida real, como será que todas as mães reagiriam?
(a minha era só a ponte do rio-Kwai-que- remédio, estas são "reais" e tomara estar nelas)
Bjs
desta vez sem perseguição, mas com uma óptima crónica sobre Lisboa
ah e quando marcares o almoço avisa os seguidores :)
um beijo
Ai se ele sabe que lhe andas a tirar fotos!... o tal da camisa azul...
Depois diz que te encharcas! lol
é uma estória divertida
.
obrigada por este bocadinho.
Bjs
Bom fim de semana
Já ri...já bati palmas...tudo isto, sozinha e defronte ao monitor.
Ai se o chefe entra, até vou imaginá-lo num Lisboa-Cacilhas a nado...rs
Tu, tens o dom da graça (isto soa a divino mas é graça de bom humor...rs) e dom da escrita.
Conclusão: és divino!
Voluntario-me para espiolhar, do alto da minha alegre casinha tão modesta quanto eu, o jantar no "Atira-te ao Rio e Diz que te Encharcas" e depois conto-te tudo...rs
Bom fim de semana
Beijos e sorrisos... muitos
Suponho que tens um stock de personagens para resolver a memória destes episódios, que já os misturo com obras e planos urbanísticos em derrapagens de tempo e não só.
Eu sou sénior e juro que não tive nada a ver com isso, rrsss
Bom fim de semana.
Caro Alberto
Sem desvalorizar textos anteriores, muito imaginativos, considero esta edição de qualidade superlativa.
Só quem gostar muito do Tejo, de Lisboa, de Cacilhas_Almada (naturalmente) poderá com tanta irona e tremenda paixão escrever sobre este rio que nos atormenta e jamais nos deixará indeiferentes.
Outro dia li que o "zelo" posto nos promotores imobiliários em edificar/escondendo a margem do Tejo parecia compreensível e justificável por se estar perante uma "falsa" margem. Lisboa já estaria na foz, numa zona mal definida de rio/mar. Daí um certo desprendimento, uma certa distancia.
Eu não concordo.
Há tanta gente a assear à beira rio, sempre que é possível.
Ora!
Um abraço
A Tate junto ao Tejo, bela ideia ...
Sócrates à mesa no estimado
Atira-te ao mar
a ser escutado pelo Tejo
vitima organizada
em campanha por uma farta
gamela absoluta de ameijoas
ocultas.
Boa maré o seu texto
como sempre
alguma vez comem todos?!
com sempre divertido
abraço
Parece-me uma boa ideia. Podiam começar por uma "sopa sem nome"...
é só uma sugestão.
O fotógrafo é que, realmente... nem digo mais!
Gostei de Cacilhas aqui tão perto graças ao trabalho certamente voluntário. Mas então e os grandes investimentos que ajudariam a ultrapassar a crise? Olha se a moda pega!...
Bom domingo e um abraço.
e eu que julguei,num primeiro lançar de olhos à imagem do post anterior, que o jesualdo estava a tentar fazer-se passar pelo cristo-rei!
afinal, há os que metem água, os voluntários que a tiram e, ainda, os que a sacodem do capote.
segue-se, então, "jesualdo & seguidores" no atira-te ao rio? e qual é o preço do bilhete?
pensando bem, espero que sejas tu, legível, a deslindar-nos o caso.só por uma questão de confiança...
aguardamos o próximo episódio.
marradinhas da bicharada, um abraço da Humana
que bela ideia
tirar o rio ao tejo
não fosse
tal façanha impossivel
seria por certo
arte contemporânea
em relampejo ;)
Comidinha para todos ;)
Abraço.
p.s. dava um bom filme...
Ainda que mal pergunte: toda essa maravilhosa verborreia é fruto da inspiração provocada pela contemplação da foto? Se a resposta for sim, há que reconhecer aquilo que há muito é uma evidência: há olhos que vêem mais do que outros, ó lá se há!! ;)
de regresso ao sublime
e imperdível
.
um beijo
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