PAUSA PARA GEOMETRIZAR (9)
A chuva batia com violência nos vidros da janela rectangular, acompanhada de quando em vez por clarões dos quais, mesmo cerrando os olhos se percebia a sua presença fugaz, seguidos de estrondos metálicos repercutidos pelos céus, preenchidos de ameaçadoras e negras nuvens. Nas paredes nuas do quarto, as cores trágicas de um calendário com uma reprodução marinha e invernosa de Turner, ameaçando tempestade para breve, marcavam a excepção à regra, quebrando a monotonia do branco esmaecido da pintura que já teria conhecido melhores tempos. Aos dias do mês de Janeiro, tinha-lhes posto fim assinalando-os com uma linha em diagonal bem visível e os de Fevereiro iam pelo mesmo caminho, mas desta vez com um círculo à volta dos respectivos dígitos. Para Março, havia pensado que seria de boa política representativa, a vez dos triângulos. Em Abril, talvez se decidisse pelos losangos, voltaria às linhas em Maio - duas paralelas - e a partir desse mês retiraria o calendário da parede, substituindo-o por um outro - desta vez a imagem de uma obra de Van Gogh - com girassóis enormes e o traço do horizonte alaranjado e escaldante. Nesse, e na esperança vã de os dias renderem muito mais que as vinte e quatro horas da praxe, não assinalaria o fim de mais um dia com símbolos planos geométricos. Por essa altura, dedicar-se-ia aos sólidos: cilíndricas e doces tortas à base de ovos e cones de baunilha atestados de gelado de natas e tiramissú .
2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.
34 Comments:
há que variar
adequar-se
esperar a equação das
horas
receber a possibilidade de multiplicá-las de mãos abertas
há que dar gelados aos dias
comer os gelados todOs
e por fim girar e dar cores
como um
caleidoscópio!! jajajajaja
miles-de-beijos
~
é o que tu fazes,,, ai,
porque me repiiiito...? :)
~
Ah, sim! muito mais atraentes os sólidos cilíndricos doces. Girassóis também gosto...
mas o inicio do texto está o máximo!
Bom fim de semana
Bjs
Acrescenta aí as cornucópias! Faltaram as cornucópias, que podem ser de torrón e amora para eu me refrescar enquanto oiço a trovoada!
Aqui estamos à espera da trovoada, das ondas de seis metros e do que mais se seguirá às marés vivas.
Já me embrulhei num lençol, subi ao farol e berrei, de braços abertos, «abracadabraaa!» mas não surtiu que os dias vão nefastos. Também atirei com uns «incha lááás» viçosos e salerosos mas foi outro nulo.
Não será o fim do mundo, evidentemente, mas lá que parece o fim das sardinhadas
e dos pimentos assados, parece!
SORRI COM ESTE TEXTO..MUITO BOM:)
SUUUUUUUrrisinhos:)
Estou em alternância a assinalar o fim dos dias deste mês (que me está a estoirar as ondas cartesianas). Ora uso um lápis de cor rosa.... ora faço circulos laranja... ora umas setas azuis.
(Completamente desinspirada ou vaziamente oca...eis-me!!!)
Precisa-se benzedura.
Abraço e sorrisos
e bom domingo
absolutamente delicioso.
Uma maneira de colorir as horas....
Ora velozes ou lentas demais....
Brilhante o texto...
Beijos e abraços
Marta
Mas é nessa altura que deves começar a dieta, homem! Olha que é melhor continuar com os círculos e as linhas e os triângulos...:))
Equilibrio na assinetria
Belíssimo
mesmo neste país betonado
Num país como o nosso, todo já em betão, esta beleza fotografada limpa o nosso coração.
Boa semana.
...hoje decidi dar-te música.
Não leves a mal, mas habitualmente desafino. Vai buscar algodões. Doces. Em último caso.
Dó
Na Primavera o amor anda no ar
Lá-
Na Primavera os bichos andam no ar
Fá
Na Primavera o pólen anda no ar
Sol
E eu não consigo parar de espirrar
No Verão os dias ficam maiores
No Verão as roupas ficam menores
No Verão o calor bate recordes
E os corpos libertam seus suores
Dó Lá-
Eu gosto é do Verão
Fá Sol
De passearmos de prancha na mão
Dó Lá-
Saltarmos e rirmos na praia
Fá Sol
De nadar e apanhar um escaldão
Sol Lá-
E ao fim do dia, bem abraçados
Fá Sol
Dó Fá Dó
Patrocinado por uma bebida qualquer
No Outono a escola ameaça abrir
No Outono passo a noite a tossir
No Outono há folhas sempre a cair
E a chuva faz os prédios ruir
No Inverno o Natal é baril
No Inverno ando engripado e febril
No Inverno é Verão no Brasil
E na Suécia suicidam-se aos mil
Um abraço e sorrisos afinados :)
E que bem se estaria debaixo da sombra de um girassol do Van Gogh a apreciar o calor de uma tarde de Verão :)
como me soube bem vir à praia numa noite fria de fevereiro, querido legível :) e o van gogh de calções foi imperdível :) beijinho grande*
Ai está um belíssimo exercício de passagem da dimensão cartesiana -- Penso, nunca d'EXISTO! -- para os volumes -- Experimento, logo EMOCIONO-ME!
Belíssimo texto, Alberto
Um abraço
as formas
o calendário...
os mesdes que correm
Gogh...
girassóis...
só faklta o Grito lá paar Agosto
vou fazer um calendario de sobretudo preto
yayay
abrazo serrano
e como neste preciso momento a chuva bate na minha janela rectangular e as paredes escuras do quarto são iluminadas por fortes relâmpagos...pegunto-te tens aí um pouco de cor para afastar este inverno do meu descontentamento?
um beijo
Estou como tu com o "mal du temps" e com o pressentimento que Maio vai ser muito curto e depois virá o Verão que te derreterá os lápis de cera e será cruel e tórrido e infernal e ficaremos expostos aos olhares dementados dos extra-terrestres sem forças para reagir nem vontade de dar uma escapadinha até ao mar nem para apanhar conchas e os ninhos começarão a cair das árvores que é um dos sinais da vinda do Anti-Cristo com o seu cortejo de máscaras e vestidos talares concebidos e confeccionados por Ana Salazar e rematados por Luís Figo que agora diz ser filho do Ratzinguer conforme apurou o magistrado de Aveiro que mandou tirar uma certidão para os devidos efeitos. Suspeito que não haverá mais pausas para as pausas e não nos podemos queixar senão ainda nos acusam de sermos queixosos. Fui ali e já vim porque tinha duas ou três coisas que acho que me esqueci - senão lembrava-me! O que seria?
Vamos lá a ver se o tempo melhora hoje que estou a ficar sem paciência e passo os dias em casa a inventar trabalhos domésticos e em guerra com os livros que teimo em comprar e teimo em não ler. Queria ir lá para fora, que a argila fosse terra fofinha que se pudesse lavrar e não barro peganhento. Olho para o meu calendário de parede e ele nada me diz como diz uma canção se não me falha a memória é uma canção de antigamente de quando eu ainda gostava de ouvir canções. E já não andava de calções. Não aguento o mau tempo, não aguento estas breves ameaças de sol descoberto que me enervam até à flor da pele, até ao fruto da pele "e benedetto è il frutto del tuo seno", caraças! Estou mal do tempo, sofro do tempo, por quanto mais tempo aguentarei esta dor do tempo?
Para todos os companheiros de navegação que por aqui gostam de deixar comentários:
O meu computador
ficou doente
foi ao doutor
que complacente
lá decretou
será uma gripe
talvez viral
se fosse a si
ia com ele
ao hospital.
Fui. Exames e mais exames, quem sabe uma intervenção de barriga aberta. E uma espera dramática.
Beijo, abraços e sorrisos.
As melhoras do doente, rápidas!
Um abraço.
Chegou Junho e, com o novo semestre, um novo calendário. Agora, brilha o sol do outro lado do vidro e um calor ameno parece libertar-se do calendário Pirelli.
Que incómodo haver no mundo homónimos! Deveríamos ser todos heterónimos uns dos outros. [vou arranjar aqui um espaço para dizer "porra!", "chiça" e outras merdas que me sabem bem desopilar a bílis, ou o que isso seja].
O tempo, como Catilina, continua a abusar da minha paciência. Nem as botas de elástico, compradas há 10 anos na feira do Cartaxo, que eu ensebo com desvelo todos os Invernos, me safam desta lama colagénea que me coturna os calcanhares. O melhor é ficar em casa a ler os postes dos amigos. Qual quê! Então não é que dão para engripar! Engripar ou faz de conta. Que isto de vírus é como armas nucleares: encontram-se por tuta e meia aí em qualquer esquina na Praça de Espanha. E o gajinho, que anda para aqui a fazer pausas, a entreter o pagode porque não sabe o que mais fazer, vem agora com a cantilena do coitadinho .... ai e tal!... que foi vírus, que o portal saiu à rua sem cache-col, é um supônhamos, ou que andou aí a transar na net sem meter a camisinha e tantas vezes a cantarinha vai à fonte que quem anda à chuva molha-se. Eu cá não vou em cantigas. Eu acho que ele pegou nele e mais a sua cara metade e foram os dois tergiversar para um qualquer paraíso fiscal, talvez a Madeira, que o tio Alberto João já nos afiançou que o temporal só incomodou os pobrezinhos madeirenses e não mexeu nos hotéis dos turistas ricaços. Que isto dos dilúvios é como as revoluções populares (É um à parte estúpido, eu sei!, mas eu gosto de provocar as tecnologias de gravação e reprodução de voz de todos os tempos!).
Ora, tudo o que ficou para trás, dito ou escrito, não tem nada a ver com aquilo ao que aqui venho. Mas já que me dei ao trabalho de escrever, aí fica escrito e dito. Pode ser que um dia investigadores futuros da estratigrafia da imbecilidade humana descubram este pedaço e, tomando a parte pelo todo, desenhem um curioso retrato da humanidade do século 21. É um enviesamento, eu sei, porque entre o humano e eu não há nada em comum. Talvez só o aspecto simiesco e esta tendência para falar, dizer pouco e pensar nada. Ora, o que eu queria dizer tinha a ver com pausas, vírus e com o carácter do Beto. Sim, que hoje em dia não se tem o hábito de avaliar os comportamentos, mas sim o carácter do indígena. Oito séculos de protecção da inteligência popular foi no que deu: nada com os avanços da ímpia ciência ou com a falácia dos direitos humanos, mantenhamos os hábitos que na pureza do espírito santo, dos mártires e das virgens o Santo Ofício nos proporcionou. Pela calúnia, pela denúncia anónima, pela insinuação, pela aleivosidade repetida, façamos os nossos autos-de-fé sobre o carácter dos ímpios. Que isto de saber de caracteres é muito nosso, muito tuga, muito chunga. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. E trucas! Ai andas no Hospital à espera de exames? Aposto que te vais baldar às taxas moderadoras (se calhar, preferias as tascas emborcadoras!). Vociferas contra a triagem de Manchester porque te deram uma braçadeira azul, não é? Estás-te maribando para os computadores com as motherboards com os buses todos queimados, com as CPUs que deram o berro, com as placas de som com surdez histérica, com as RAMs com as interfaces todas esbeiçadas. O teu é que te importa. Coitadinho, tem uma gripinha. E que tal se lhe desse um escalda-pés, senhor doutor? Ó Beto! Compra mas é outro computador que te fica mais em conta do que andares a ir e a vir todos os dias a visitar o pobrezinho internado. Para nosso descanso e sossego. É que nos fazem falta os teus deliciosos disparates.
Que incómodo haver no mundo homónimos! Deveríamos ser todos heterónimos uns dos outros. [vou arranjar aqui um espaço para dizer "porra!", "chiça" e outras merdas que me sabem bem desopilar a bílis, ou o que isso seja].
O tempo, como Catilina, continua a abusar da minha paciência. Nem as botas de elástico, compradas há 10 anos na feira do Cartaxo, que eu ensebo com desvelo todos os Invernos, me safam desta lama colagénea que me coturna os calcanhares. O melhor é ficar em casa a ler os postes dos amigos. Qual quê! Então não é que dão para engripar! Engripar ou faz de conta. Que isto de vírus é como armas nucleares: encontram-se por tuta e meia aí em qualquer esquina na Praça de Espanha. E o gajinho, que anda para aqui a fazer pausas, a entreter o pagode porque não sabe o que mais fazer, vem agora com a cantilena do coitadinho .... ai e tal!... que foi vírus, que o portal saiu à rua sem cache-col, é um supônhamos, ou que andou aí a transar na net sem meter a camisinha e tantas vezes a cantarinha vai à fonte que quem anda à chuva molha-se. Eu cá não vou em cantigas. Eu acho que ele pegou nele e mais a sua cara metade e foram os dois tergiversar para um qualquer paraíso fiscal, talvez a Madeira, que o tio Alberto João já nos afiançou que o temporal só incomodou os pobrezinhos madeirenses e não mexeu nos hotéis dos turistas ricaços. Que isto dos dilúvios é como as revoluções populares (É um à parte estúpido, eu sei!, mas eu gosto de provocar as tecnologias de gravação e reprodução de voz de todos os tempos!).
Ora, tudo o que ficou para trás, dito ou escrito, não tem nada a ver com aquilo ao que aqui venho. Mas já que me dei ao trabalho de escrever, aí fica escrito e dito. Pode ser que um dia investigadores futuros da estratigrafia da imbecilidade humana descubram este pedaço e, tomando a parte pelo todo, desenhem um curioso retrato da humanidade do século 21. É um enviesamento, eu sei, porque entre o humano e eu não há nada em comum. Talvez só o aspecto simiesco e esta tendência para falar, dizer pouco e pensar nada. Ora, o que eu queria dizer tinha a ver com pausas, vírus e com o carácter do Beto. Sim, que hoje em dia não se tem o hábito de avaliar os comportamentos, mas sim o carácter do indígena. Oito séculos de protecção da inteligência popular foi no que deu: nada com os avanços da ímpia ciência ou com a falácia dos direitos humanos, mantenhamos os hábitos que na pureza do espírito santo, dos mártires e das virgens o Santo Ofício nos proporcionou. Pela calúnia, pela denúncia anónima, pela insinuação, pela aleivosidade repetida, façamos os nossos autos-de-fé sobre o carácter dos ímpios. Que isto de saber de caracteres é muito nosso, muito tuga, muito chunga. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és. E trucas! Ai andas no Hospital à espera de exames? Aposto que te vais baldar às taxas moderadoras (se calhar, preferias as tascas emborcadoras!). Vociferas contra a triagem de Manchester porque te deram uma braçadeira azul, não é? Estás-te maribando para os computadores com as motherboards com os buses todos queimados, com as CPUs que deram o berro, com as placas de som com surdez histérica, com as RAMs com as interfaces todas esbeiçadas. O teu é que te importa. Coitadinho, tem uma gripinha. E que tal se lhe desse um escalda-pés, senhor doutor? Ó Beto! Compra mas é outro computador que te fica mais em conta do que andares a ir e a vir todos os dias a visitar o pobrezinho internado. Para nosso descanso e sossego. É que nos fazem falta os teus deliciosos disparates.
Curioso! Esqueci-me de tirar o papel químico!
cones de baunilha, ai! E umas quantas gelatarias a meu gosto!! Com ou sem geometria!
Acho melhor desistir dos losangos; dá muio trabalho.
Ernesto, o avô
Estás atento? Amanhã inauguras a época dos triângulos. Equiláteros, isósceles ou escalenos? Dúvida atroz. E se for o de Pitágoras? Com muitos numerozinhos dependurados. Geometrias àparte, desejo que as entranhas do teu PC (eu não disse PCP)tenham já sido suficientemente vasculhadas, desparasitadas, recicladas, para que possas voltar EM GRANDE, que a gente já não pode passar sem estes teus desafios à nossa imprescindível insanidade.
Até breve.
Mau tempo por aí tb?
Venham os bons dias!
Abraço.
Não produzimos é?
Mandriamos?
Já te questionaste, paraste uns segundos e perguntaste a ti mesmo como se sente o comentador que nada tem para comentar?
Pois! Disseca a tua consciência...
(alastrei...brincadeirinha, só!)
Abraço grande...sorrisos...boa semana
Então já lhe tiraram os pontos?
Já consegue fazer xixi sem argália?
Beijos e risos :))
Adorei o texto, está fantástico!... Ok, não percebi nada, mas isso que importância tem? Nenhuma.
Sempre me causou enorme confusão ir comprar roupa de verão em Janeiro, quando faz um frio de rachar e parece que o mundo inteiro se uniu para nos tramar!...
Se tivesses um Magalhães, não o levavas ao doutor... "madavazio" para o lixo e compravas um computador... Só inventam moda!
Excelente, a tua geometria - também muito pouco euclidiana, como alguém disse da minha...
Gosto de linhas e planos. De projecções e icoságonos (e outros ágonos) e até mesmo de quadriláteros e triângulos. Há um pentágono que me chateia, mas vamos esquecer isso.
Mas a minha preferência, em horas de aflição, vai mesmo para a esfericidade das bolas de Berlim, para o cilíndrico das tortas, para o cónico dos gelados, e por favor tiramissu da frente que já não posso com fome!
deliciosa
mente incorrigíveis
TU e o TEXTO
.
um beijo ( levando uma colherada de doce para a ceia )
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