NAQUELA MANHÃ ACONTECEU UMA NUVEM
De muito cedo - por via das primeiras sensações emanadas das papilas gustativas, que Gustavo dos Divinos Paladares (filho de pais ligados ao negócio da restauração) detestou castanhas. Tinha bem presente o momento, que aconteceu quando, ainda menino, a sua tia Cesaltina das Doces Receitas lhe meteu uma na boca, descascada e crua. Nunca mais esqueceu o sabor acre da segunda pele daquele fruto, jurando (aos cinco anos já demonstrava firmes convicções) nunca mais lhes tocar. Apesar das constantes solicitações e desafios (no lombo de porco assado e acompanhado pelas ditas, pedia "sem castanhas e mais batatas") e admitindo que nos dias mais frios do ano, os carrinhos fumegantes contribuiam para dar um certo colorido às zonas pedonais urbanas, chegou aos dias de hoje mantendo a promessa. Naquela manhã cinzenta e a adivinhar chuva, na praça daquela cidade apenas três pessoas: a vendedora dando as costas ao fotógrafo na faina da assadura, a menina sentada no banco e baixando o olhar ao cenário que a imagem nos revela, e ele, convicto que tinha ali alguém do mesmo sentir e paladar que o seu. Por isso não se conteve "então pelos vistos, também os teus olhos não sorriem às castanhas?!" A criança ergueu a cabeça e não se mostrou surpreendia pela interpelação não se esquecendo contudo, dos avisos paternos de não alimentar conversas com homens com castanhas a estalar nos bolsos... o que não era o caso. "Não senhor. Estou apenas à espera que a nuvem que sái da caçarola aumente de tamanho e não permita que os pombos façam os voos programados e me caguem a roupa como é habitual."
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Nota: Não pretendendo enganar ninguém, e antecipando-se a algumas vozes que porventura afirmem a pés juntos que "há mais gente no cenário", o autor confirma o que deixou expresso no texto e acrescenta que não será a primeira vez nem a última que alguns figurantes abandonam (sem a devida permissão) outros textos que já são passado e se passeiam por aqueles que o autor trata no presente. O assunto está a decorrer nos canais de justiça competentes e será tratado com a celeridade do costume.
2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.
35 Comments:
Gustavo dos Divinos Paladares não sabe o que perde. Uma castanha, de preferência crua, é das melhores coisas que podem existir. :)
Que jeito dava à criança uma miniatura de vulcão islandês! Dá deus vulcões a quem não tem pombos!
Uma coisa te garanto... o Cão Incomum por aí não anda, que neste momento está deitado aos meus pés.
Ah, estas nuvens! Ainda bem que nem tudo é estrago!
Esperemos então, que o tráfego aéreo dos aviões de penas seja cancelado, a bem da limpeza da roupa.
Quanto aos figurantes fugidos são, de facto, uns grandes figurões.
L.B.
O Gustavo dos Divinos Paladares acabou de aprender que se as castanhas não são frutos que se comam, ele há crianças que tb não são flores que se cheirem...principalmente as que se enfiam em casacos à espera de nuvens acastanhadas.
Olá Alberto
Hipóteses de interpretação:
H1:
O miudo é um sonso.
Comeu castanhas que se desunhou. Está a rebentar de flato e deseja ardentemente que a nuvem de fumo aumente para poder livrar-se do seu metiorismo com duplo objectivo: aliviar-se e espantar as aves «merdalejas»
H2:
O miúdo é isco da justiça para justificar os mitos:
Primeiro: Há merda, a justiça mete-se;
Segundo: Por haver merda a justiça atrasa-se a resolver;
Terceiro: Houve recurso? -- Avisou-se: ia ou não ia haver merda!
H3:
A melhor:
O texto está óptimo e eu também adoro ir a Évora degustar comida alentejana e beber do bom tinto da região.
Um grande abraço.
"Assim como chegui, assim abali!"
Não posso deixar de dar razão ao Gustavo: Que tia é essa que dá castanha na boca ainda munida da segunda pele?!
Só uma tia da onça!
Ou dos pombos!
muito bom.
Está perfeita a analogia!
Acho que já se pode mudar o ditado: não há fumo sem vulcão!
... há gente muito azarada
tão pequena e já com um trauma desses
mas afinal, quem é que foi o estúpido que programou os pombos para lixarem a criança?
..I see dead people...tipos que saem de textos e entram noutros?? O fumo da nuvem já está a começar a fazer efeito!
Consegues sempre arrancar-me um sorriso!
De castanhas assadas gosto, do cheiro também, mas da tal 2ª pele, quando cruas, não...
De pombos a borrarem-me a cabeça também não! :-))
Abraço
Fiquei com o comentário para mim. Mas é de todos. Não é difícil de encontrar.
Estou a ver onde se formou...
Abraço.
Dizem que a cagada de pombo dá sorte.
Mas ainda não descobri a quê?!
Será à segunda pele das castanhas?
Se a miúda dissesse o que sabia e que o Florêncio lhe tinha pago para ficar calada, coitada! A justiça até corria, mas para a esmagar como se fosse uma formiga!...
Também não morro de amores por castanhas... nem fumaças...
Núvens, sempre as haverá no horizonte! Mas sabemos que por detrás delas está o sol, resta-nos a esperança de que ele acaba sempre por brilhar.
:)
Bom fim de semana
Bjos
O paladar de Gustavo dos Divinos Paladares seria ainda mais divino se tentasse segunda experiência e ele ganharia mais se juntasse à beleza de Évora o sabor das castanhas assadas.
Bom final de semana.
...e de como se descobre mais uma utilidade para as castanhas - ou o seu fumo!
E por falares em canais, só espero que o tal fumo não me impeça de levantar voo para a cidade dos ditos:))))
Abracinhos de Abril!
Nunca ninguém teve artes (ainda..) em persuadir o Gustavo a experimentar uma castanha assada, quentinha, sem segunda pele...passavam-lhe as convicções!
Abraço e Abraço e Abraço
Também nunca tinha pensado no fumo desta forma...
O que não deixa de ser interessante...
Obrigada pela visita...
Bom fim de semana..
Beijos e abraços
Marta
ESTOU DE VOLTA. MUITO OBRIGADA POR TUDO.
quer dizer, eu saio daqui a pensar, que eu até comia uma castanha, crua, assada, cozida ou de qualquer maneira, mas lá que o texto tem criatividade, lá isso tem, com ou sem castanhas, nuvens e afins.
bom domingo!
e como gostos não se discutem, afirmo aqui o meu gosto por castanhas venham elas com traje crú, cozidas ou assadas.
E pobre criança vítima da cruel actividade dos pombos!
mais uma vez curvo-me face à tua criatividade :)
um beijo meu
Hoje
é só UM/DOIS
grande(s) e sério(s)
ABRAÇO(S empre)!
tambem não sou de castanhas...
nem com o javali...
cozidas... ainda vai...
e nunca comprei aos vendedores...
e passo... passo largo lá no Paço...
mas é de mestre esperar a nuvem...
é que eu já fui borrado (apagado) por tais cousas
yaya
abrazo serrano
E às vezes surgem nuvens de fumo...
Estou completamente safa: gosto do cheiro a castanhas assadas, mas comê-las nem nuas :))
Risos e abraços.
pois eu fico com a esperança de que a ausência de nuvens de fumo leve certos passarões a abalar cá do território. já apanhámos com demasiada merda que por aqui fizeram.
marradinhas da bicharada do "pequeno jardim" e um abraço da Humana.
Ora aí está um tema aliciante - "Gostar ou não gostar de castanhas".
Há quem goste delas cozidas, de mistura com sementinhas de erva-doce.
Há quem as prefira em puré, para acompanhamento de pratos de carne.
Há as castanhas piladas, caídas em desuso, talvez pelo seu aspecto decadente.
E mais, e mais, que não vou citar, não porque me falte erudição, mas para por respeito pelo tamanho do comentário que se quer preciso e conciso.
Mas, voltando ao tema - No seu sentido figurado(um de vários) castanha quer dizer pancada, batida, espancamento, porrada, and so on. Penso que pouca gente será adepta do género, a não ser uns quantos que sublimam seus desejos nos tormentos do corpo.
Há os ditos populares, como: "estalar-lhe a castanha na boca", o que não deve ser nada agradável se, como se presume do dito, se tratar de castanha assada, no ponto em que se chamam de quentes e boas.
EStando quase a terminar o anunciado preciso e conciso comentário, desvendo-te, Legível, um segredo: eu sou uma das tais personagens que, farta de morar noutra história, veio até à praça, cheirou deliciada a fumaça de assadura e escapuliu-se, arcadas abaixo, sem que dela conseguisses captar imagem.
E agora, vais processar-me, vais??
Pensei que havia uma nova crónica...
Não faz mal....espero...
Até já???
Beijos e abraços
Marta
Gosto de castanhas assadas, nuas e cruas. Mas simples, sem misturas de carne ou verduras...
E gostei do seu belo texto, dos pombos mal educados que não procuram o w.c. A menina poderá ter frio,ou estará com fastio...das castanhas...
ainda ontem as comi com rojões e gosto mais delas que deles!
abraço
Estás feito com a celeridade :)
Confesso uma certa falta de interesse pelas castanhas, embora as "quentes e boas" às vezes me atraiam e faça umas excepções.
Também eu pediria mais batatas...
Gostei particularmente da fala da menina :)
Um belo fotopost.
por pouco tempo que tenha - quando o tenho não consigo deixar de prender.me ,com um sorriso rasgadíssimo nos lábios - cá estou plantada na leitura das tuas deliciosas crónicas .o tempo passa e tu ,cada vez vez ,mais apurado
sensacional
.
um beijo
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