Tuesday, May 15, 2007

TEXTO SEM SOMBRA DE...

















Aterrorizada pela moto-serra que o homem lhe apontava ao tronco, a árvore levantou instintivamente os braços ao céu e tremendo, conseguiu balbuciar "Mas... o que quer de mim? sabe perfeitamente que não tenho dinheiro comigo e os meus bens partilho-os por todos de igual modo, sem olhar à condição social de cada um... " Não se mostrou particularmente condoído o trabalhador camarário que continuou a avançar, de potente e perigosa lâmina em riste, para o indefeso vegetal lenhoso. "Não tens hipótese nenhuma de te safares minha cara! Eu sei que fazes imenso jeito ao pessoal (até eu já me sentei à tua sombra em dias de grande calor, se bem te lembras... ) mas recebo ordens e nada posso fazer por ti nem pelas tuas amigas que estão a seguir."E dito isto, sem mais delongas, iniciou a sua macabra tarefa.
Da janela do terceiro andar, o brilhozinho nos olhos do meu vizinho Gurmecindo era bem visível. Uma ligeira deficiência no braço esquerdo (que não o impedia de conduzir nem de se deslocar a pé... ) era suficiente para conquistar um lugar marcado para estacionar o carro à porta de casa. Amanhã sem falta, estaria caido na Junta de Freguesia para tratar da papelada. Quando regressei a casa ao fim da tarde, ainda havia manchas de sangue no local onde estivera a árvore.
Algures em Portugal, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

39 Comments:

Blogger Samartaime said...

Isto hoje está completamente macabro! E não gostei nada desse gurmecindo! Espero que o carro do lixo o leve esta noite!

16/5/07 23:21  
Blogger Pyny said...

Pobre arvore!

17/5/07 00:10  
Blogger D. Maria e o Coelhinho said...

Olha não queres ir espreitar a carta que escrevi ao malandreco do meu Coelhinho ?



D. Maria

17/5/07 00:12  
Blogger isabel mendes ferreira said...

alegórica e brilhante fotografia.......

_____________________bom dia.







beijo.

17/5/07 09:31  
Blogger Fortunata Godinho said...

Quando o meu Pai cortou o Caramachão do nosso jardim, fiquei de rastos. Não entendia, não entendia. Ainda hoje olho para o "banquinho" de tronco com que ficámos e esmoreço... Porquê? Porque só faz lixeira, disse a minha Mãe, e porque está a ficar tão grande tão grande, que está a rebentar o chão todo. Enfim...

17/5/07 09:40  
Blogger Teresa Durães said...

coitada da árvore
bom dia

17/5/07 11:13  
Blogger manhã said...

a verdade é que sempre que estaciono o carro levo com uma substancial m.... de pássaro em cima. Nã me importo nada de lavar o carro. Nada. Adoro acordar com os pássaros de manhã.

17/5/07 11:47  
Blogger Maria P. said...

Talvez um dia sinta a falta, senão do fruto, pelo menos da sombra...

Beijinho*

17/5/07 12:20  
Blogger un dress said...

acrediTo

...


T
T
T



beijO*

17/5/07 15:09  
Blogger un dress said...

o gurmecindo é mais um
sacana...não, nem isso,
um sacaninha.impeditivo...


gosto dos pássaros ~~~~~
mesmo dos que fazem cócó na cabeça...

ou seja...Todos.

também sei que as árvores...
não gostam das cidades...

essa,

na próxima semente, nascerá da floresta que imaginou...


beijO ~~~~~~

17/5/07 15:15  
Blogger PDA said...

...quando vi a fotografia perguntei-me "mas que faz um castor no meio da cidade e empoleirado numa árvore?!"

17/5/07 16:46  
Blogger Maria said...

Esse diálogo pode ter ocorrido em Almada city onde desde há algum tempo, e para que o metro de superfície tenha lugar, se têm abatido dezenas de árvores. Mais uma vez o progresso a ditar as ordens.

17/5/07 18:21  
Blogger Sofia said...

Tadita da arvore. E pela cabeleira vê-se que ainda era nova. Não há justiça!!!!


;))))

bjs

17/5/07 18:48  
Blogger 919 said...

Espectacular esta foto! Apanhou-me tão de surpresa, que ainda nem li a muito provavelmente espectacular história que lhe pintaste!...

17/5/07 23:03  
Blogger Fátima Santos said...

tens cada vizinho!!
mas indo ao assunto, se me permites, pergunto:
que faz a cabeleira fulva entreos barços da árvore moribunda?
(tu e amiga Sota confundem-me com tanto e tão desajustados pelos!)

18/5/07 00:08  
Blogger Martim Garcês said...

No Jardim das Amoreiras, em Lisboa, Junto à Mãe d'Água e ao Aqueduto existia uma grande tília, uma árvore que tinha concerteza mais de 250 anos. Devido à incúria dos pseudo-jerdineiros que por aí andam com as armas que descreveste nas mãos, este magnífico exemplar cresceu demais para um dos lados. Inclino-me a dizer que a deixaram crescer para aquela pernada. Resultado, o seu proprio peso e a falta de conhecimentos destes BURROS ditaram-lhe a sentença. Aqui há uns 4 meses ao passar por lá, dei-me conta de que essa pernada havia rachado e que rangia já, apresentando um perigo real para os transeuntes quando a primavera chegasse. (porque apesar de não parecer, as folhas pesam. E muito!) Eu, crenta na boa vontade das pessoas, fdesoquei-me à esquadra do rato e apresentei o caso. Pensava eu que a árvore seria devidamente cintada à altura da racha e depois podada devidamente, deixando os jardineiros que o tempo tratasse do resto. Uns 4 anos e a monumental tília estaria de novo em forma e com sombras para dar. No dia seguinte, quando ali passe, fiquei desolado. A hárvore tinha sido decepada a cerca de um metro de altura do tronco.
Hoje jaz ali um troco oco que serve de caixote do lixo, de amparo para os muitos canídeos que por ali andam sempre e os rebentos espontâneos que saem agora da base do tronco nunca foram aparados, na esperança de que um dia estivesse ali a mesma tília que um dia foi decepada sem dó nem piedade.

Viva a Lei do menor esforço!
Viva os interesses pessoais!
Morramos todos e quem vier no fim que feche a porta!

18/5/07 02:00  
Blogger Sea said...

alegorias, caro legível :)

Um beijo

18/5/07 09:53  
Blogger Lu said...

Fiquei com pena da árvore!!!! :(
Esse Gurmecindo é mau, deve ter sido ele que mandou cortar a árvore! :p O pior é que existem muitos Gurmecindos nesta vida!!! :(
Beijos

18/5/07 11:47  
Anonymous Anonymous said...

Venha ouvir o Encontro da Terra Brasilis.

beijos

fuser

18/5/07 12:04  
Anonymous Anonymous said...

...pecado" (sobre o título)

adorei ler, legível ;)

um grande beijinho para ti

e bom fim de semana!

18/5/07 14:24  
Blogger bettips said...

Ah se os dedos das árvore pudessem apertar quem lhes faz mal...poupava-se trabalho! Um dia, pararemos à sombra dos carros, seremos despojos de alcatrão...Não adianta falar no aquecimento global, na poluição do ar ...ao tempo que aprendemos que as plantas libertam oxigénio! Fazes bem em dar voz aos humildes, sem voz, todos. Abç

18/5/07 15:31  
Blogger mixtu said...

tadinha...
sem sombra de ... pecado,

abrazo europeu (seja lá isso o que for)yaya

18/5/07 16:14  
Blogger Teresa Durães said...

O Tarzan vivia nesta árvore que foi cortada...

18/5/07 16:23  
Blogger Sofia said...

Bom fim de semana para ti tambem! Já há noticias fresquinhas do oriente.

bjs

18/5/07 18:35  
Blogger Maite said...

Caro Legível

Eu cá tenho uma dúvida! para onde é que está a apontar aquela seta, mesmo?! Se a vista não me falha está a apontar para os grelhados a carvão :)))) Está tudo explicado...o trabalhador camarário deixou-se comprar por umas quantas febras assadas nas brasas e aposto que o Gurmecindo está metido no negócio obscuro até ao pescoço.

Tenha um excelente final de tarde

18/5/07 19:47  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

O corte de uma árvore__________é um acto brutal - cruel

O teu texto sem sombra de dúvida_______magnifico!!!

Beijinhos com carinho
BFSemana

19/5/07 02:25  
Blogger APC said...

Ao que percebi, o vizinho tinha uma deficiência no braço que não o impedia de andar a pé... Estranha coisa, essa! :-S
E a árvore... Pobre árvore!.. Acabada de vir do cabeleireiro, foi dinheiro tão mal gasto! :-|

Um abraço e bom fim-de-semana.

19/5/07 17:58  
Blogger Gi said...

Hum... então é aqui que pára o malvado :)
Depois do surrealismo da batata este não lhe fica atrás. Quem ler isto e não souber do que se trata também deve pensar ser um comentário meio surreal. Tu percebes e eu estou a rir portanto daí nenhum mal deve vir ao mundo.
Bom Domingo e um beijinho.

20/5/07 20:22  
Blogger esse said...

O dia em que a árvore levantou os braços ao céu! Teria sido muito fácil dar uma safanão ao homem e virar, contra ele, a moto-serra...Mas a árvore sabia que isso seria apenas lembrado como um simples acidente de trabalho. Lembrado durante um ou dois dias ...e depois tudo continuaria igual...ela continuaria ali , em frente à janela do Gumercindo, e outras árvores iriam no lugar dela...A capacidade que aquela árvore tinha de prever o futuro era rara...assim, levantou os braços e deixou-se crucificar durante dias...foram precisas várias dúzia de moto-serras e uma grua para a arrancarem do solo que a vira nascer e crescer...teve tempo de se despedir de cada pedrinha, de cada bichinho e até deitou um olhar de tristeza a Gumercindo, antes de tombar vitoriosa...Chamem-lhe instinto ou sexto sentido ou o que quiserem, mas aquela árvore sabia que uma morte pode provocar a mudança... A partir daquele dia, todas as árvores deixaram cair as folhas e nunca mais se renovou o oxigénio...tinha começado a Era da Asfixia em Portugal.

21/5/07 11:35  
Blogger esse said...

Pronto..que mania a minha de mudar o nome às pessoas...é Gurmecindo!!

21/5/07 11:38  
Blogger augustoM said...

A brincar, a brincar, levantas um problema muito sério. E o mundo vegetal não é um ser vivo? Se o é onde está o respeito que nos deveria merecer? Não me digam que ele existe para servir o mundo animal, só se for para o cão alçar da perna e fazer xixi.
Um abraço. Augusto

21/5/07 14:23  
Blogger CaCo said...

O grito no gesto de uma árvore que não desiste de viver, mesmo com a morte da Primavera depois de secar as árvores, uma a uma, nas pedras da paisagem.

21/5/07 15:37  
Blogger tb said...

os valores que se alteram egoisticamente.
Texto excelente, como sempre! :)
beijinhos

21/5/07 16:37  
Blogger Peg solo said...

eu a pensar q ias disertar sobre problemática da depilação...
pois não, em vez disso falas de arvores! ja não ha pessoas a zelar pelo bem estar da penugem humana e nao só!

21/5/07 17:39  
Blogger Maria said...

Deixei uma palavra para ti no meu Além.
Beijos.

21/5/07 21:24  
Blogger JPD said...

Durante muito tempo foram concedidas licenças de construção presumindo e figindo acreditar que as confinantes áreas de lazer seriam preenchidas de jardins e árvores frondosas.

Mais tarde, onde estaria a solução, criaram a figura do PDM para evitar o derradeiro disparate e tornar mais racional áreas residenciais, o que fosse...
Falhou também.

Por isso custa tanto assistir ao abte das árvores que ainda vão continuando de pé!

Um abraço

Excelente texto.

21/5/07 22:29  
Blogger Luz said...

Mas como é que conseguiste equilibrar a minha cadela em cima de uma árvore? Cara chapada (quer dizer, focinho, ou área lateral... :p)
Bjs ;)

24/5/07 14:55  
Blogger passarola said...

oh... sofri tantas vezes ao ver cortarem os longos belos braços das árvores que habitavam por baixo da janela da minha anterior casa... mas felizmente deixaram-lhes sempre as pernas... depois era esperar uns anitos para me darem sombra outra vez, mas menos mal... :)

29/5/07 23:31  
Blogger inominável said...

gostei do ninho que se encaixa nos ramos...

10/7/07 08:10  

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