Monday, May 07, 2007

PÔR O NOME AOS BOIS...

















... o que não é o caso, pois qualquer pessoa menos distraida percebe de imediato que não há comparações possíveis entre um barco e um desses animais cornuptos sendo que, pelo que ouvi, até alguns desses -especialmente aqueles que são corridos em espectáculos de rara beleza e sentimentos cristãos, são "baptizados" pelos ganadeiros. Adivinho que alguns de vós franziram o nariz chegados aqui e pensaram "... o homem está equivocado! os bois das corridas, não são bois, são touros." E daí? para mim que não sou especialista, ambos são corpulentos , têm cornos e passemos à frente que a noite vai alta. Ao barco da imagem que faz a travessia Cacilhas-Lisboa-e-volta ("volta" em minúscula porque não é nome de terra, de barco ou de boi: significa "regresso"... ), denominaram-no de "Martim Moniz", aquele que, segundo a lenda, forçou com o próprio corpo uma das portas da cidade de Lisboa mourisca, permitindo assim que as hostes de Afonso Henriques entrassem por ali adentro sem pedir licença aos infiéis. Ainda segundo a história (ou a lenda?!), aquilo foi um ver se te avias de tal modo que Lisboa se expandiu para além do castelo originando grandes dificuldades de gestão aos sucessivos edis que dela foram tomando conta?! até aos dias de hoje.
Perguntarão os estimados leitores: "E que temos nós a ver com isto? Mas que raio de texto é este sem pés nem cabeça, onde os barcos se confundem com bois e os infiéis se assemelham a vereadores?!. Eu explico. Alfredo, aquele que há uns textos atrás foi espezinhado por um cavalo furioso (vim a saber depois, que dava pelo nome de Orlando... ), postado na base escultórica da estátua equestre de Don José, Na Praça do Comércio em Lisboa, fugiu espavorido às arremetidas do equídeo tomando o primeiro barco que lhe apareceu no Cais do Sodré. Que era este: o "Martim Moniz". Satisfeitos?
Almada, 2007. Texto e foto de Alberto Oliveira.

39 Comments:

Blogger PDA said...

Não. Pagou bilhete? Porque é que não apanhou antes o barco ali junto à estátua e teve que se cansar a correr até ao Cais do Sodré? Porque é que não deu de comer ao cavalo, em jeito de amestramento, e foi com ele para casa? Hum....

8/5/07 16:48  
Anonymous Anonymous said...

eu gostava muito de ter um boi chamado ernesto. vê lá tu que havia uma feira agrícola aqui na minha terra. e vinham muitas vacas e cabras e outros fofos de quatro patas. e eu fiquei muito amiga de um bói e baptizei-o de óscar. ia lá vê-lo todos os dias e dava-lhe comida. era um bom amigo. beijinho.

8/5/07 17:02  
Blogger Rui said...

Estava ele posto em sossego desassossego - característica muito sua -, quando sente um estrondo na porta. Foi ver.
Um corpo franzino, sujo e de cabelo hirsuto, tomava balanço e arremessava-se sem dó nem piedade contra a sua porta, ombro esquerdo à frente.

- Elá! O que é que se passa aqui?
- Por São Jorge! Vossa mercê tem que me permitir guarida.
- Olham'este, a falar difícil...
- Por Deus, não sendes Vós cristão?
- Vamos lá a ver, o que é que você quer, afinal?
- Guarida, como lhe pedi - o homem falava apressadamente e olhava constantemente para trás.
- Foge de alguém?
- De alguém não, fujo do Demo encarnado numa besta.
- Cum camandro, que cena mais marada, esta.

Nisto, um troar fez-se ouvir ao fundo da rua.

- É ele, é ele! Por São Jorge, guarida. Peço-lhe!
- Mas... mas... ele quem? - nisto, uma massa escura dobra a esquina a alta velocidade. Pelas ventas saem-lhe nuvens de vapor de água, que lhe escondem o olhar vidrado. De cada lado da neblina, duas pontas de córnea bem afiadas. Um boi imenso corre na direcção deles. Apenas tiveram tempo de fechar a porta. O estrondo foi imenso. A porta vacilou nos ferrolhos, mas não cedeu. Dois altos, no local onde a cornadura se enfiou, formaram-se do lado de dentro.
O homem benzeu-se e o dono da casa não consegui conter 1dcl de urina, que lhe escorreram pelas pernas.

- Vossa mercê está branco como o leite das cabras.
- Era... um... - a voz teimava em lhe escapar - touro... enorme... - as suas palavras foram abafadas pelo som de mais um embate na porta.

- Não é um touro qualquer, este bicho é o Miúra, nunca ouviu falar dele?
- Miúra... acho que não... - ainda não tinha percebido que estava numa poça da sua urina.
- Bicho temível. Quase me apanhava. Valeu a sua porta, que é resistente. Muito melhor que a do Castelo.
- Do Castelo?
- Sim, que essa nós ainda conseguimos forçar, mas esta...
- Nós quem?
- A Reconquista!
- Hã?
- Deixe-me apresentar: Martim Moniz, ao seu dispor - e estendeu-lhe a mão. Lá fora, Miúra tomava balanço para mais uma marrada na porta, desconhecendo o facto de se tratar de uma porta blindada.

8/5/07 17:09  
Blogger M. said...

Satisfeitíssima... :-)

8/5/07 18:29  
Blogger bettips said...

Ora, começaste com os cornuptos, os bois, os vereadores e isso, julguei que ias falar-nos da situação no campo "Grande" que é a tourada na câmara! Mas não, o hábito não faz o monge, a cavalo dado não se olha ao dente (nem à pata), os cães ladram e os bois passam...ai não é? A caravana? Só se for de camelos! O que disse o Martim?
"Aos infiés, Senhor, aos infiés, que não a mim que sou o que sabeis!"
Beijinhos e abraços (sem bolinha...como eu confio em ti!)

8/5/07 19:03  
Blogger Samartaime said...

Muito pouco satisfeita! Não consegui fugir e ainda aturo fiéis e infiéis! Caramba, que esta fita deve ser em 55 partes e nunca mais se fina!

8/5/07 19:28  
Blogger D. Maria e o Coelhinho said...

VEM }A NOSSA TOCA DESCOBRIR O AMOR !!!!





D. MARIA

8/5/07 20:40  
Blogger APC said...

Ehehehehe... E de tudo se faz um post delicioso, se a imaginação não falta e as palavras sabem sê-lo!
É como do vinho... Até da uva ele se faz, e fica bom! :-)
Ah... E como prometi avisar, aqui está o aviso! O aviso de quê? Ora, o aviso. Se o teu barco pode ter o nome de um não-boi, o meu aviso pode não ter nome nenhum. É-o, tão só (não é "tão sozinho", mas "tão simplesmente")!
Abraço! :-)))

8/5/07 21:05  
Blogger Alda Serras said...

Ora aqui está uma expressão que não conhecia: pôr os nomes aos bois!

8/5/07 22:10  
Blogger Beatriz said...

Tens um desafio no meu blog! Assim que puderes, passa por lá! Contamos contigo :)

bjs

8/5/07 22:15  
Blogger bettips said...

Olha "bell": é chamar os bois pelos nomes, é assim que eles respondem!
Alberto, meu amigo, desculpa tomar-te tanto tempo de olhos e lugar de palavra: queria repontar o meu respigo (é o que dá não ir às fontes e basear-me na memória que está fraquita). Assim, transcrevo a parte do Canto 3º dos Lusíadas, estrofe 45, D. Afonso Henriques falando directamente ao Salvador (do mundo católico, claro):
- "Aos infiéis, Senhor, aos infiéis,
e não a mi, que creio o que podeis!"-
Batalha de Ourique tida como ganha aos Mouros em 1139.
Pardon, Monsieur, mas não gosto de inexactidões, só a brincar! Abç

8/5/07 22:38  
Blogger sotavento said...

E o Sebastião, onde fica?!... :)

8/5/07 23:36  
Blogger Maria said...

... os caminhos de Deus são insondáveis ... :-) (ou qualquer coisa assim ..)
Beijos

9/5/07 00:07  
Blogger Martim Garcês said...

Coitado do Orlando. Já imaginaste se por acaso os funcionários da Transtejo estivessem de greve e o tipo tinha de ir a nado? E se porventura, durante a travessia a nado levasse com uma barbatana dum golfinho? Isso é que era galo!

Obrigado pelas palavras que postaste no meu espaço. Até breve

RaSp

9/5/07 01:16  
Blogger APC said...

Eu vi, ali em cima, o Rui, não vi? :-)))

(momento...)

Ah (depois de ler), é ele mesmo, em mais uma das suas belas escritas, a meter-se contigo! :-)))
Ai, como sois amiguinhos!!! I like it! :-)))

9/5/07 04:26  
Blogger isabel mendes ferreira said...

por mim sim. satisfeita.



o surreal que existe nas comparações de um inquieto revelar são-me claros.


(gosto especialmente deste teu discorrer sobre as ondas da palavra)


beijo.

9/5/07 08:05  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Está uma verdadeira "delícia" este teu post__________um agradavél momento de boa leitura______duma excelente escrita

Beijinhos com carinho

9/5/07 12:53  
Blogger Teresa Durães said...

e eu aqui mesmo a teclar no campo grande vendo a boiada a passar e sonho, não com o cacilheiro, mas com o Catamaran (que em vez de representar heróis duvidosos que fogem de Lisboa levam nome de escritores não vereadores)

terei de andar de vara?

9/5/07 13:46  
Blogger Sofia said...

Tu és o maximo!!!!!

9/5/07 14:49  
Blogger Maria P. said...

Satisfeita q.b.:))

Muito feliz por ter a honra de receber as tuas rimas.
Beijinhos.

9/5/07 19:27  
Blogger Maite said...

Caro Legível

Ufff! ainda bem que o Orlando se salvou...temi pela vida dele, a sério :) Ora ainda bem que há a outra margem (sempre dá jeito em momentos de apuros como é o caso)
e o barco, claro.

Fugindo à analogia com a decadente situação lá prós lados da câmara... e ao lembrar a tal lenda do Martim Moniz ocorreu-me que hoje em dia a zona está "infestada" de infiéis :)(contra a vontade do D. Afonso Henriques, tenho a certeza - não por razões xenófobas mas porque era simplesmente um conquistador e estava a inventar este "nosso cantinho", Portugal, digo). Eu chamo-lhe o "melting pot" Lisboeta :)

Tenha um excelente final de tarde

9/5/07 19:52  
Blogger rach. said...

surrealismo à portuguesa, é o que é.
cheira-me a "História do Cerco de Lisboa - o cerco à câmara". Isto ainda vai estrear no D.Maria
beijos do alentejo

9/5/07 22:18  
Blogger sonhadora said...

desejo-te uma boa noite e deixo-te beijinhos embrulhados em abraços

9/5/07 22:33  
Blogger un dress said...

também eu fujo espavorida às arremetidas do dia a dia.

que invariavelmente me apanha, algema e encerra pra dar de comer aos bichos que referes: infiéis et alter...

(digo sempre - até ver, a imitar um amigo louco que tinha e encontrava sempre a percorrer incansável as ruas.
até ver...!!)

e pra já nem corro pró barco ou se corro - aconteceu uma vez, ele já tinha partido e nem o nome vi...


ps: ah. que fique claro que adoro cavalos, bois, cabras e todos os bichos da arca. com a excepção dos morcegos.


beijO.albertO :)

10/5/07 00:36  
Anonymous Anonymous said...

Legível


deixo aqui um convite

http://doutono.blogspot.com

fuser

10/5/07 09:35  
Blogger 919 said...

pois são muitas novidades juntas!... então o Orlando, que não era Alfredo, foi de Martim Moniz, que não era vela!... coitado do Martim!... já se vislumbrava nessa época o futuro, que é hoje... não há pejo algum em espezinhar o irmão!...

Ah, mas o RUI, que é RUI, volta em grande estilo! Lindo!

10/5/07 22:21  
Blogger Fátima Santos said...

mas que razões me dais, senhor, que apenas me destes em recordar a capaelinha branca desidratada nas paredes de tanta construção a afogá-la. e mais me deu em sentir odores de comeres distantes assim moambas em dendém e outros. e me pareceu que estava eu desajustando meus sentires ao ler-vos, senhor que me passava avista em largo anterior de calçados e outros vestires, mas isso foi antes que hoje movem-se por ali crianças e pessoal de muita cor na pele e nos tecidos que os vestem.
homem estatelado entre portas de castelo. sim recordo, mas porque raio chamaram esse nome a um barco? terá o pobre dado à costa e a história não conta?

10/5/07 23:13  
Blogger passarola said...

não... não estou satisfeita... orgulhosamente tourinho de signo, não gosto nada que me confundam com um boi...... ;)

11/5/07 00:08  
Blogger Nia said...

..E também podem ser "corpulentos e terem cornos" e não serem nem bois nem touros...podem ser homens.Ah!Pois....é aí nessa situação de "cornos" e não da "corpulência" que os homens perdem o nome e passam a ser "bois" pois não é?!
Por causa dessa do perder o nome, no talho os bois também perdem o nome, deixam de ser "bois" e passam a ser vaca quer dizer...eu explico....Quando se chega ao talho não dizemos "queria uns bifes de boi" dizemos "queria uns bifes de vaca" mas afinal podem ser de boi...ou não?Já estou baralhadinha de todo! :)
Vou continuar a ler o resto.Já cá volto.

Nia

11/5/07 01:22  
Blogger Nia said...

Já li tudo agora.
Conheço esse Martim Moniz ...quer dizer...o outro o da lenda...não esse esse.
Mas "esse esse" o barco é que dava jeito que levasse uns certos vereadores mar fora ou rio dentro...dáva dava. (Agora de repente deixei um acento e tirei um acento por não saber ao certo para que lado me virar e ter preguiça de me levantar para consultar um prontuário ortográfico.
OLHAAAAAAAAAAAAAAA mudei de "casa" (à força),agora estou no http://niaf7.blogspot.com/
No Tic-Tac Avariado II

11/5/07 01:32  
Blogger Kalinka said...

Gostei da história dos barcos e dos bois e do Martim Moniz.

O mar sempre de fundo...
o mar que traz paz...
MAR
...MAR

CONVIDO-TE PARA LERES POESIA (da boa - Fernando Pessoa) SOBRE O MAR e, algumas fotos que captei em Março, de férias pelo sul de Portugal.

Bom fim de semana.
Beijitos.

11/5/07 09:33  
Blogger esse said...

Por falar em animais...

Aqui na minha aldeia sucedeu algo parecido ... tínhamos um frango...um franganito...que encantava todos por causa do ito e até conseguia ser poupado do arroz... mas em ganhando corpo cresceram-lhe umas cristas... que não houve quem se atrevesse a pegá-lo e então passou a cantar de galo ...e tanto cantou que se esqueceu da razão por que fora poupado do arroz, esqueceu-se, coitadito, que estes animais , os de cá e os daí, têm memória curta!

11/5/07 10:43  
Blogger Sea said...

e ficou entalado em alguma porta?

11/5/07 12:53  
Blogger Maria Liberdade said...

Eu só conheci o Miura, do Miguel Torga.

11/5/07 14:30  
Blogger manhã said...

chegando lá à outra margem não terá sido corrido por uma parelha de bois os quais enfrentou gritando Olé Touro e assim se safou da má entrada na história?

11/5/07 20:05  
Blogger Espaços abertos.. said...

Mundo de infiéis que se julgam bons samaritanos...neste caso chamam-se os bois pelos nomes)))

Bom fim de semana
Bjs Zita

11/5/07 22:43  
Blogger n©n said...

Obrigada pela participação no cadáver!
Espero que tenha gostado da experiencia...

12/5/07 03:04  
Blogger o Reverso said...

gostei da explicação, mas vou tomar uma aspirina.

13/5/07 20:15  
Blogger tb said...

Há algumas vantagens em chegar fora de um tempo real. É o de ir a rir satisfeita assim tipo dois em um. O teu maginifico post e o delicioso comentario do Rui do qual já sentia saudades (falo da sua escrita, evidentemente) :)
beijos

13/5/07 21:23  

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