Monday, June 12, 2006

HISTÓRIA de ARREPIAR em TEMPO de CALOR



















Passeava tranquilamente no fim de tarde estival, pelo lado de dentro do passeio acanhado -que os passeios portugueses que se prezam, são por norma acanhados e onde mal cabem um transeunte em andamento e um veículo estacionado. Estava feliz porque não era exigente e lhe bastava aquela simples aragem que se fazia sentir, depois de um dia de calor tórrido e caminhar sem destino pelas ruas que conhecia de olhos fechados. Nem reparava nos sacos de lixo que se amontoavam fora dos contentores cheios e colocados em sítios menos próprios e fazia o possível por conter a respiração para não inalar o cheiro nauseabundo e o pó que andava pelos ares, por via da ligeira brisa quente que se levantara. Nem a falta de arvoredo protector para uma caminhada higiénica lhe tirou o sorriso, quando entrou na rua mais concorrida. A sua lógica simplória, dizia-lhe que para existirem lugares mais amplos, arejados e verdejantes, outros teriam forçosamente de ser o contrário desses. Não caminhou por muito mais tempo. Subindo o passeio, um carro apanhou-a pelas costas, matando-a. Aquela formiga tinha os dias contados; nas janelas, imensas bandeiras verdes e vermelhas adejavam, preludiando alegrias efémeras.
Almada, 2006. Texto e foto de: Alberto Oliveira.
Interrompi momentaneamente o tempo de lazer para escrever este texto, porque a formiga me pediu para o fazer, caso morresse de morte-macaca. Atendi-lhe a solicitação uma vez que uma formiga morre de "morte-formiga"; não de "morte-macaca". O que é estranho e carece de investigação. O lazer continua.

34 Comments:

Blogger mfc said...

'(...) preludiando alegrias efémeras.' Como todas as alegrias, aliás.

12/6/06 10:20  
Blogger Sea said...

Sim. Convém deixar algo para a posteridade. Morte macaca pode ser algum fenómeno que atinge as formigas.... :)

12/6/06 11:27  
Blogger Sofia said...

;)

continuação de boas ferias e de boas caminhadas!

12/6/06 12:27  
Blogger manhã said...

e que viva o lazer, o lazer das cigarras que cantam, o lazer de quem oserva pacatamente as formigas, o lazer enfim, vale por si, tens toda a razão, o resto são invenções de poetas trabalhadores!

12/6/06 13:26  
Blogger Maria P. said...

Pobre forminga, e como sempre a desgraça de outros,é graças para outros, assim tivemos o prazer de uma prosa inesperada!

bons passeios:)

12/6/06 14:54  
Blogger alice said...

eu toda contente a pensar-te de volta e afinal foi apenas um aperitivo para matar saudades

depois comento, lindo

espero-te bem ;)

beijos

li

12/6/06 18:01  
Blogger sotavento said...

Acho bem que contraries a velha máxima "de formigas não reza a história"!... :)

12/6/06 18:41  
Blogger isabel mendes ferreira said...

e ainda bem............adorei o "acrescento"....

:)..........já lhe disse como o "gosto?"...

12/6/06 19:25  
Blogger Pseudo said...

Não consegui deixar de esboçar um sorriso devido ao final, desculpa-me.

12/6/06 22:10  
Blogger Teresa Durães said...

eheheheheh realmente, a interrupção foi efectuada no momento oportuno!

Essa falta de precisão da formiga espanta-me porque são tão organizadas não sei como foi capaz de tamanho deslize. Seria, de facto, uma formiga? Ou antes um bicho da seda? Um escaravelho? Um outro insecto qualquer menos preciso?

12/6/06 22:52  
Blogger 919 said...

poder-se-ia dizer que era um carro, assim, de marca "leão surdo"?...

13/6/06 00:40  
Blogger Lyra said...

ahahahahhah texto a lembrar velhos tempos .

13/6/06 00:55  
Blogger Non said...

Venho a sorrir desde um comentário teu algures na blogoesfera e ainda não parei.

:D

13/6/06 02:51  
Blogger Sombra said...

Bem, para o passeio ser estreito para a formiga, imagino o tamanho do cão... 8)

Beijinho :)

13/6/06 10:13  
Blogger alice said...

bom dia, coisa boa

como é que tu de férias tens tempo para fazer uma crónica sobre o estado dos passeios de portugal?

e ainda devidamente documentada com anexos de rara higiene?

mas existes, certo?

beijinhos,

li

13/6/06 10:34  
Blogger Licínia Quitério said...

Olha, tu avisa as outras formigas tuas conhecidas, porque elas têm fama de seguidistas. Trabalham, trabalham e nem dão pelas cigarras vestidas de bandeira a cantarem alegremente pelas varandas.
Muito bem! Mesmo em férias, sempre atento ao carreiro.
Beijinhos.
Licínia

13/6/06 11:10  
Blogger Fortunata Godinho said...

E se vivessemos como a formiga, trabalhariamos como ela? Formariamos guarda? Amealhariamos?
Tal como acontece connosco, não saberiamos o dia de amanhã... Como diz alguém que me é muito querida: Tudo, TUDO, é relativo. Depende do ponto de vista.

13/6/06 15:20  
Blogger musqueteira said...

Viva Legível... a vida de formiga não é nada fácil!... Ontem, em pleno Bairro da Graça pelas 17 horas enchia a populaça nas ruas e travessas daquele bairro...imensos fogaréus. Dei comigo a pensar como será vida do "Homem do Lixo"?Não deve ser fácil... e nem tão pouco sei qual a sua renumeração?!... Há vidas de arrepiar.

13/6/06 18:42  
Blogger isabel mendes ferreira said...

(bom....querido L. vim agora da Nannarela...e....ahahahahah/lol...)


_________________posso dizer um segredo:

A D O R O -------------TE.


HAVE FUN...

beijos.

13/6/06 21:28  
Blogger Teresa Durães said...

a propósito de nnannarella... eheheheh aquilo está a melhorar!

13/6/06 22:07  
Blogger batista filho said...

Entre um lazer e outro umas palavritas deixadas por cá nos ajudarão a ver algo de qualidade. Mui bom. Continua assim que agradecemos.
Um abraço fraterno.

Ps. Minhas condolências pela desdita da formiga.

14/6/06 00:16  
Blogger nnannarella said...

Ó pa elas...
Bom, mas venho por outro motivo.
Eu intuía que tu haverias de levar nexos àquele caos, cujo a Efemerum acabou de assimilar a um cenário decadento-hollywodesco. De tal forma que a caótica Durães até se transformou em ordenada contabilista.
Profundamente grata, também por esta preciosa história de arrepiar, pois tenho uma inclinação especial para meditar sobre crimes e mortes ( e quanto mais singulares e horrendas, melhor, tipo as da condessa Barthory).:)

14/6/06 00:44  
Blogger augustoM said...

Como a formiga é parecida com as pessoas, a diferença de tamanho, é uma desvantagem ocasinal.
Um abraço. Augusto

14/6/06 14:24  
Blogger Rui said...

Projectada contra a esfera armilar, a formiga Deolinda, sentiu uma dor nas costas.
Azar o meu, com tanto pano onde bater, logo foi na esfera...

Nessa mesmo noite, Deolinda embalou a trouxa e dirigiu-se para as termas. Ia uns dias a banhos.

14/6/06 15:18  
Blogger Luiz Carlos Reis said...

Triste final para um inseto! Efêmeras são as atitudes alheias ao trabalho!
Abraços!

14/6/06 17:53  
Blogger Miguel J. T. V. said...

Tá demais, pa variar! E já agora permite-me que acrescente que esse aperto físico na bela lisboa espelha cada vez mais e melhor, o aperto e o atropelo espiritual com que cada vez mais se vive, e já não é só nas grandes cidades, certo?!
Terá de haver um boom de delinquência (ou problemas) juvenil e mal estar mental para que alguém se sinta e se digne a mudar algo...

Cumprimentos!!!

14/6/06 18:47  
Blogger alice said...

s
a
u
d
a
d
e
s

li

14/6/06 19:35  
Blogger 索菲娅 said...

bem...ouve lgvl, com esta categoria de comments (e falo da feminina!!) acho que o melhor é arranjares um post sobre a carochinha e o João Ratão, (e deixares a formiguita, coitada!!e daí talvez não, sempre se manobram as coisas e ela vai de madrinha!!) ou estarei eu a "entreler" coisas!? ehehehe o que eu me divirto com a troca de piropos e mimos por aqui!! é sempre um prazer ler.te e ler os outros que cá passam!! bxox (ah e bigada pelos olhos bonitos, qualquer dia deixo.te ocupar o lugar do meu gato em dias de trovoada!! lol estou a aparvalhar, mas tenho que seguir a onda certo?!) ;)

14/6/06 20:52  
Blogger claudia said...

então cheguei até você... acompanho com interesse seus comentários no blog da Alice e, sabe-se lá o porquê, apenas hoje cheguei ao seu blog. Vou ler com cuidado e o tempo que as boas coisas exigem para serem bem apreciadas. Um beijo pra você. voltarei sempre... Além do blog linkado a este comentario tenho um outro, mais antigo e que foi a "ponte" do meu encontro com minha querida amiga alice: www.mentirashistoricas.zip.net

beijos pra vc!

15/6/06 03:03  
Blogger segurademim said...

... escrita de outros ambientes...

... agora, nem o tempo está assim tão quente, nem a história é de arrepiar... porque com este fresquinho esses embrulhos não deitam o cheiro, dos dias tórridos... e depois, já nos habituámos a conviver com o lixo nos passeios e a desviarmo-nos pela ocupação que os carros fazem dos ditos

sobre formigas, tenho a declarar que exterminei um carreiro inteiro, com gruta própria

sem pingo de arrependimento

15/6/06 09:20  
Blogger Fátima Santos said...

ai homem que me fizestes arrepiar!! não com este sueste muito frescote que assopra por aqui, mas com o remorso, face à tua temática narrada de forma tão humana formigana?!)por andar eu a matar agregados famíliares inteiros desse animal, calcando com o pé, arrasastando para o diluvio da mangueira e a derrocada da vassoura (veneno não por modes do canite)! fasta pra lá essaa boca que já n´ão estamos no tempo em que os animais falavam (ou estamos?!)
continuação de bom ripanço! :)

15/6/06 12:47  
Blogger alice said...

hoje é feriado

e vim cá!

quando voltas?

beijinhos,

alice

15/6/06 14:50  
Blogger isabel mendes ferreira said...

...........:)

obrigado pelo prazer continuado....



:)


beijo.

15/6/06 18:46  
Blogger inBluesY said...

o nosso 1 arrufo .

tiraste os posts para me apoquentar ? logo a formiga o meu animal de estimação !?

16/6/06 22:26  

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