IMPENETRÁVEL
Quase esbarrou nela quando -ah! a sua incontornavel e quantas vezes desnecessária-necessidade de se apressar ao que levava!, atravessou a rua para ir comprar o jornal. Apressadamente -pois claro! pediu-lhe desculpa pela desatenção, que os seus modos sempre se pautaram pela cortesia, sabe quem, com ele lida de perto. Não deu sequer para atentar com tempo -que tempo era coisa que lhe escasseava no momento (e nos outros!) no rosto, nem se recorda de ter ouvido sair da sua boca qualquer palavra; de desagrado ou de compreensão. Isso foi de manhã.
Ao final do dia e já arquivado o episódio, no ficheiro "sem interesse" da sua memória, regressava a casa pelo mesmo caminho, quando no exacto local onde se dera o casual encontro, a viu. Tomé não acreditava em acontecimentos bizarros, encolhia os ombros a coincidências e de milagres nem queria ouvir falar. A sua máxima resumia-se a três palavras: "ver para crer". Mas ali estava ela de facto; nem mais, nem menos um milímetro afastada do cenário matinal. Aproximou-se curioso, mas sobretudo movido por um impulso que nunca conhecera antes.
Era incrivelmente bela! O longo e sedoso cabelo ornava-lhe a cabeça perfeita de linhas misteriosamente egípcias. O olhar parecia querer perder-se para além da história, quem sabe se carente de ver acontecer outras estórias... de amor. Os lábios carnudos e o peito farto. Tomé, perdeu a cabeça e disse-lhe tudo o que nunca suspeitou dizer a uma mulher. O homem da banca de jornais cortou-lhe o discurso empolgado «Não se esforce amigo; já muitos o tentaram e você não será o último. Fazer falar uma estátua é o sonho de muito boa gente e eu que o diga; por vezes, quando falo com a minha mulher, até parece que estou a fazer a sua figura... »
Palma de Maiorca, cidade, 2006. Texto e foto de Alberto Oliveira.
58 Comments:
onde é que eu já ouvi falar de estatuária e dessa dificuldade em... sei lá!mas tu desculpa lá, essa frase do homem dos jornais...
Li algures num blog, já não sei de quem, algo sobre estátuas, e sinceramente fico cada vez com mais vontade de um dia me casar com um estátua!
Já agora, deixo-te aqui o endereço do meu novo blog, um blog diferente, com menos palhaçada, pois já chega a histeria...
Abraço!
Folheando "As Brumas de Avalon" - edição de bolso da PlanetaDeAgostini - na banca de jornais, Artur não evitou ouvir aquele diálogo. Nada disse, se o livro o fazia rir para dentro, a conversa fê-lo soltar um gargalhar contido que, rapidamente, tratou de disfarçar com um ataque de soluços fingidos.
Esperou Tomé ir à sua vida. Ao homem da banca respondeu que não iria comprar o livro, aquela história era demasiado fantasista para o seu gosto.
Aproximou-se da pedra e olhou-a nos olhos. Sorriu-lhe e, entre dentes, disse: "se eles soubessem...".
Quem estivesse atento poderia ter visto a mulher a piscar-lhe o olho.
há ali um -a a mais...
Quando um dia a estátua lhe responder, isso é que vai ser um problema... :p
Beijinho :)
:)) ...já a seguir! :))
...tem graça que em Palma tambem me aconteceu parecido...havia cada "Olimpo" na piscina! :))
seria do clima?? :)
beijos
Van
Já dizia o ditado "mulher séria não tem ouvidos"...
pois é!
Adorei o post! As usual!
:)
bjs
era esse o nome dela: figura... quando o ouviu, desmantelou-se a frieza de pedra do seu corpo e ficou exposta a pele ao pôr do sol
os homens fizeram ós de espanto e admiração pela sua beleza agora em movimento e nada mais disseram...
foi então que ela desceu sobre eles e os beijou a ambos antes de retirar-se deixando o pedestal
viram-na afastando-se graciosa e o seu corpo de deusa misturar-se no princípio da noite sensual
despediram-se mudos e nunca mais ousaram afrontar a ironia
beijos
muitos
alice
E olha que alguns homens tambem são assim!
Gostei muito.
Bjs
não quero de modo algum, deixar atrasar o que o seu comentário me sugeriu e, com isso, tirar-lhe a expontaniedade (?)é que era neve, amigo, era neve ralinha, sabe ?! esquiar, adonde?! só se o fizesse no mar! tá bem pensado, sim. Quanto ao ser convidado - sem que boda houvesse, não havera de haver convidados. para variar seria Vocência um intruso, diria mesmo um espreita. E assim me fico.
pois... mas às vezes por detrás de uma estátua aparente... esconde-se um coração de verdade...
o amor é assim... ultrapassa as barreiras!
às vezes pareço uma, sinceramente...
e apesar de bela ela distante, fria indelicada. Sendo simplesmente a mais bela sempre teve tudo o que queria. No entanto ele, refeito do choque não sobreviveu no frio, precisava de mais, do calor dos afectos.
Desta vez de olhos abertos, ele esbarrou em fraca imagem plena de ternura.
bjs
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(adorei simplesmente o teu :) )
Uma bela história... Com um final feliz... Dessa não sabia eu. A sua mulher que não saiba do blog, pois corre o risco de encontrar as malas à porta.
Mas a história de Tomé e Cleopatra só encontra paralelo nos nossos Castelo Branco e Betty. Não sabemos, neste caso, quem é a estátua. Mas se fossem os dois não se perderia nada, digo eu. As estátuas é que não haveriam de gostar.
Boa semana
Salve salve!
Quantos jardins de estatuas não encontramos por ar... No fim quem fica paralisado somos nós.
Lindo post, magnífico.
Meu caro, já havia passado por aqui, mais me faltou coragem para comentar, a beleza da sua escrita assusta.
Fiquei feliz com sua visita ao meu blog e quanto a ameaça não esperaria menos de você hehe
Es sempre bem vindo, será uma honra, eu, sempre estarei por aqui.
Bem hajam.
[s]s
Um blog surpreendente... :) gostei bastante
Rico,
Será q era mesmo uma estátua... ou uma mulher à espera de ser acordada pelo seu príncipe encantado... se calhar o teu Tomé tinha alguma razão...
beijocas
...pois não sei se hei-de rir, se hei-de ralhar.
A história está com a qualidade habitual. Genial.
Quanto às mulheres estátua - deve haver várias versões e várias voltas a dar-lhe. Com engenho e arte tudo se consegue. A vida é um desafio, ou não?
beijos
Que engraçado mas e verdade...nunca tinha pensado !
bjos
;)
e se eu quiser penetrar?
beijinho,
alice
que engraçadinho...
capacidade de abstracção! é tão bom conseguir filtrar só o que interessa
;)
as estátuas aturam cada uma!... cada vez que passam esses Tiagos devem rogar quinhentas pragas a quem inventou essa mania de fazer gente de pedra!...
Pois é, e quantas vezes não somos nós a estátua, a pensar que os outros é que não se mexem?
ainda bem que te identificas também com os meus textos. devemos ter universos internos nalguns pontos semelhantes. Não serás peixes por acaso? ;)
beijinhos
Às vezes uma estátua esconde tanta coisa!
1 beijo e vom fim de semana.
Para seila:
O que há mais para aí é gente a falar de estatuária. Inda hoje de manhã no quiosque dos jornais. Ouvi perfeitamente o homem a dizer para alguns clientes «Precisamos aqui no Largo é de uma estátua para alindar o sítio. E cá pra mim ficava aqui muito bem era uma estátua do senhor Deodato que é o orgulho da nossa terra»
Este homem dos jornais, foi o mesmo que disse a tal frase. Pensas que eu invento? Não senhor; escrevo o que o povo declama.
Para m. & c.:
É. A estatuária está na moda, está visto.
Casar com uma estátua?! Mas... as estátuas não se mexem, nem falam e olha que no inverno não deve ser muito agradável dormir com um pedaço de mármore ao lado.
Tomei nota.
Abraço.
Para rui:
O sorriso ainda lhe bailava nos lábios quando atravessou a rua em direcção ao café onde tomava habitualmente o pequeno-almoço.
Entrou, sentou-se ao balão e pediu um café a escaldar e um donut. Olhou o bolo circular e pensou como diabo conseguiam fazer aquele buraco no meio, tão certinho. Era preciso ter muita pontaria... Artur, era especialista em estar a falar de alhos e mudar repentinamente para bogalhos.
Para rui:
Era do Artur ou do Tomé, esse "a"?
Para luz:
Eu acrescentaria " e se lhe cair em cima"...
(a falta que fazem aqui os bonequinhos... é aborrecidíssimo imitá-los. Eheheheh ahahaha. Tás a ver? se isto alguma vez é precido com um riso?!?)
beijinhos.
Para vanda baltazar:
Ainda havia desses quando lá estiveste? Não dei por tais esculturais mancebos. Também não é menos verdade, que quando chego
à piscina, as atenções viram-se todas para mim e os "olimpos" que por ventura lá se encontrem, batem em retirada complexados...
(é muito difícil tentar passar despercebido, que hei-de fazer?!)
Beijos e óptimo fim de semana!!
Para joana:
... o homem da banca dos jornais, olhou surpreendido e ripostou «Pois ó minha senhora; a minha Etelvina tem os cinco sentidos todos graças a deus e é muito séria! Vai levar o "Record" e o "Diário Económico"?!»
bjs.
Para alice:
Tomé chegou a casa e "nem água vai, nem água vem". Domitília, estranhou o silêncio do marido «Vens mudo? o gato lá na companhia comeu-te a língua, não?! ou foi alguma gata que te deu uma patada?»
E ele, "moita carrasco". Sabia que não valia a pena responder, pois se contasse à mulher que uma estátua o tinha beijado, haveria história para três meses.
Depois de jantar, não lavou os dentes como era habitual; quis manter o hálito dela com sabor a mármore branco de Carrara.
muitos beijos.
Para sofia:
São? Assim como?!
Espera lá, deixa-me ler o post que já não estou bem recordado o que é que a tal mulher-estátua é...
...prontos, já li. Eu não, que gosto imenso de falar. A menos que esteja a comer; e é feio falar com a boca cheia. O que me fui lembrar! Lá vou buscar umas bolachinhas...
beijos.
Para seila:
Neve ralinha? neve-bébé, é?!
Eu ??!! um intruja?! olha que não sou nada mentiroso... só em casos de força maior...
Espreita? Mas não senhor! A espreitar alguma coisa, só se fossem os comes.
Gostei imenso do tratamento; desde que fui a um baile de máscaras no Palácio de Belém, que não me tratavam por Vocência.
Disponha sempre cara amiga!
Para poca:
É pois. Não que eu tenha assim uma grande experiência no assunto; é mais pelo que oiço dizer...
Para sea:
Não quero acreditar nisso.
Para inbluesy:
... com os afectos esbarrados e tremendo de calor, beijou apaixonadamente o homem da banca dos jornais que lhe perguntou se não queria levar também carne de vitela para estufar. Que não, agradeceu e ainda conseguiu apanhar o barco que fazia a carreira "Rossio-Marquês de Pombal". Nessa noite, antes de se deitar tomou o pequeno-almoço e adormeceu calçado. Um costume que lhe tinha ficado do Nepal; onde nunca tinha estado...
bjs.
Num repente, Artur bebeu o café de um gole - queimando duas dúzias de papilas gustativas - e dirigiu-se ao balcão com o donut a rodar no indicador direito.
- É para embrulhar, sff.
Solicito, o empregado rasgou de um rolo um papel com o logotipo da pastelaria ("A Távola Quadrada"), mas ele interrompeu-o.
- Vai embrulhar o meu donut nesse papel?
- Vou sim.
- Não faça isso, embrulhe-me noutro.
- Qual prefere?
- Ora, papel de fantasia.
Para jl:
Se a minha mulher soubesse (dum momento para o outro) que eu tinha um blog, o diálogo seria mais ou menos assim:
- Ouve lá! Tu tens um blog?
- Tenho pois! E não é nada mau; está cheio de letras e fotografias.
- E tiraste a carta para conduzir isso?! e tem cintos e erebégues?
- Um blog não é um carro. Quanto muito um veículo de comunicação.
- Não é um carro,mas é um veículo! Tás-me a gozar e eu a ver. Amanhã deixa-me dar uma voltinha, tá?
A quem eu punha as "malas à porta" das televisões eram esses de tais Betty & Castelo Branco...
Bom fim de semana!
Para bill:
Realmente (dizem os meus críticos mais azedos) que não sou um perfeito rapaz e, acrescentam, nem flôr que se cheire.
Não é verdade, garanto com a convicção que me é característica. Nunca assustei ninguém que por aqui passasse e tenho documentos comprovativos.
Você veio ter ao sítio certo; para sorrir um pedaço e depois, mais lá para a frente, peguntar «Mas o cara nasceu mesmo assim, ou tem dificuldade em trocar peças avariadas?!»
Abraço.
Para helder ribau:
Obrigado. Iremos dialogando.
Para mulhergorducha:
Rica:
o meu Tomé é uma pessoa cheia de dúvidas, introvertida e... distraida. E pelo que vi, não acredita muito nas suas potencialidades.
Nem se pode dizer que seja tímido... não. de tal modo que até se declara a uma estátua...
... que bem poderia ser a tal princesa encantada. Na minha opinião, nunca se perde nada em tentar, para não haver arrependimentos mais tarde.
Beijocas e um óptimo fim de semana!
Para mc:
Rir, claro. Não é bonito mas na vida real as pessoas (homens e mulheres) falam assim... sem adornos, quando as vidas são feitas de rotinas azedas e sem outras expectativas futuras.
Para estes, a vida não é um desafio e não há muitas voltas a dar. A maior parte das vezes, só quebrando amarras...
O que para aqui vai; não é suposto este espaço ser de sorrisos? Calma Legível...
beijos e bom fim de semana!
Para as velas ardem até ao fim:
Eu também não. Mas no decurso da escrita, vou pensando nisso e noutras coisas, distraio-me e é o que se lê. Paixões delirantes por estátuas impassíveis.
beijos.
Para jorgesteves:
Não é tal. O tempo está azul e sem nuvens.
No desejo de arranjar finais diferentes, por vezes saem alguns menos... poéticos. Mas reais.
Abraço amigo.
Para alice:
Quando aniversariares, posso oferecer-te um cartão descodificador de passwords de estátuas impenetraveis.
Vais fzer um brilharete na Grécia e em Itália. Aqui não vale a pena; já viste o que era penetrares pelo Marquês de Pombal adentro? Só com dois cartões descodificadores. Por causa do leão...
beijos.
Para segurademim:
Claro! Pensas que sou parvo?!
E tenho outras capacidades... como por exemplo, executar o triplo salto-mortal à rectaguarda... sem olhar para a frente!
Para lélé:
Porque é que não criam uma associação (ou um sindicato) que lhes defenda os interesses?! Eu se fosse estátua, não perdia mais tempo...
... como não sou, posso perder todo o tempo deste mundo. E pelos vistos os Tiagos-Tomés, também...
Para sonia:
Há identificação, pois. Nos textos e... no clube.
No outro caso, sou mais para as carnes, embora o peixe também marche. Balança(o)... sem cair.
beijinhos.
Para amigona:
Sobretudo o trabalho do escultor.
para sofia:
Um beijo também para ti e um óptimo fim de semana!
Para pilantra:
Mas olha que a gaja é um osso duro de roer. E depois tem aquele olhar que parece querer dizer "Vai mas é falar com o Camões!»
Se fosse a ti, levava uns cd´s daquela música boa que tens, um farnel à maneira. Que aquilo é coisa para uma boas horas...
Abraço!
Para manuel:
Para a surdez que ela demonstra ter, só com os bombos de Lavacolhos!!
Abraços.
Para rui:
- Temos diversos; prefere com estrelas e bolas de Natal ou com treinadores de futebol?
- Não me fale em treinadores de futebol!! Não tem com animais selvagens... ou fantásticos?
- Por acaso tenho! Chegou agora uma remessa desse papel de fantasia com dragões a deitarem fumo pelos olhos, de contentamento... e águias e leões a lamentarem-se da sua pouca sorte!?
Alberto Albertto :)
desculpa, se te tirei do sério.
Ó se sei que a vida não é só poesia...
Havia uma pontinha (ou muito) de preconceito no meu comentário.
Velhas guerras, não totalmente resolvidas. Das quais não tens culpa, obviamente. Desculpa.
Fico à espera da próxima história.
Beijos
Bom fim de semana
Para mc:
Qué isso mulher?! Foi apenas um comment a explicar porque escrevo também coisas menos... agradáveis. Diria que um comment pedagógico e que não era direccionado para ti em especial. estavas apenas no sítio e na hora... .
Vem aí mais um post com leitura (ou frases) mais leves.
beijos um óptimo sábado!
indeed... My dear Legível... indeed...
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