AMBIVALÊNCIAS
não
não me descrevas a tua dor
não a saberia sequer ler
os meus olhos apenas têm olhos
para a alegria sem medida
quem sabe até deslocada e
não choram nem sabem
não são depósitos de lágrimas
não são depósitos de lágrimas
repito
não.
sim
dá-me notícias da tua dor
quero analisá-la reconhecê-la
para poder exclamar na rua:
ali vai a pungente dor dela!
adivinhar-lhe os contornos
as derrotas e as misérias
e como me atraem os dramas
e como me atraem os dramas
repito
sim.
...........................................................................................
O autocarro parou. Era tal a confusão de sentimentos que uma parte dele desceu, perdendo-se logo a seguir no meio da multidão que se agitava nas ruas. A outra, permaneceu no carro, sentada no lugar logo a seguir ao da mulher, que continuava a chorar silenciosamente. Há viagens que não devemos iniciar, divididos.
Palma de Maiorca, 2006. Poema, texto e foto de: Alberto Oliveira.
71 Comments:
Querido Legível, fiquei sem saber o que dizer. Deixaste-me sem palavras. Não digo isto para te enaltecer a escrita ou para parecer bem e ser simpática. Não faço isso, não sou assim.
Mas, não consigo dizer nada...
Muito triste, mas muito bom.
E quem é o Alberto Oliveira?
Resta saber qual era a parte que tinha ficado e a parte que tinha partido: a física ou a metafísica. De qualquer das maneiras não interessa, iniciando a viagem dividido a repartição dosd espojos de guerra nunca seria bonita.
Ambivalências duplamente belas : as palavras e a foto!
Parabéns!
beijinho
Mas tu escreves mesmo bem! Vais navegando alternadamente pela prosa e pelo poema. Eu também gosto de fazer isso. Sente-se que tens mesmo prazer em escrever. Verdade?
Abraço.
Licínia
Faz lembrar quando nos olhamos ao espelho e vimos aquilo que julgamos que somos. Estamos em presença de uma ambivalência que oscila entre o que somos e o que queremos ser.
Um abraço. Augusto
Ai que lindo!
Eu também já me deixei ficar muitas vezes em muitos sitios e às vezes reencontro esses pedaços de mim em palavras escritas por outros, em gestos de outros, em beijos de outros, no amor dos outros, na saudade dos outros.
Porque é que não podemos ficar onde queremos, e acabamos por ficar onde temos de estar?
Sábias palavras, Alberto, a complexidade do ir e ficar...nem carne nem peixe... :)
O resultado é esta delicia!
Beijos e boa semana de trabalho!
Van
Bonito.
Excelente texto legivel! Existem mesmo viagens que nao se devem sequer iniciar.
um bj
:-D ...e com este calor vantagem a dobrar!!! :-D
;) digo eu, da boca para fora ;)
beijos, beijos
Van
Uma sombra sem ninguém afastou-se lentamente. Pouco depois, confundiu-se com outras sombras.
O autocarro partiu.
Não havia sol.
é hoje, lindo;)
beijo,
alice
Viva legivel,
... são tantas as curvas que devem ser amaciadas no tempo...para percorrer o labirinto da dor, sem ser belíscado por ela;)
...mais que ambivalência(s) começa a parecer-me ...fixação!?!...fixação que, agora, pretende "desafixar-se" um pouco...?
...depois, tb me parece q havendo quem reconhece nada ter para dizer... talvez devesse usar de silêncio...mas que sei eu?!?
O poema está magnífico, Alberto.
Um grande abraço
Fantástico. Parabéns!
deixo um abraço.
estou bem!... mas será que estou mesmo?... será que não estou triste?... olhe que sim, doutor, olhe que sim!...
nenhuma viagem deverá iniciar dividida, nunca. e chorar é demasiado pessoal, os olhos são olhos, os ombros são ombros, por muito que desejem nunca serão olhos.
886 = um
22334445666 = beijo
833667777 7444232
sem nada a acrescentar... que é para não estragar..
um beijinho
bom dia escritor dividido por "viagens" encantatórias"...:)
linda foto. então até logo.
obrigada. beijos.
Gosto de ler as postagens, gosto de ler um livro... mas aqui, nos blogs, entremeados que são por comentários, de imediato os textos apresentados são esmiuçados por n cabeças. E isso é bom! - o nosso próprio sentir, a nossa interpretação interage com a de outras pessoas, algo que não teríamos tantas oportunidades de fazer no dia-a-dia.
Desde o primeiro comentário (de SEA), percebemos o quanto o post "mexe" conosco.
Já o disse, mas volto a mencionar: é interessante quando mesclas prosa e poesia, pois na maioria das vezes és irreverente na primeira, mas não na segunda. No presente caso, não... e mais não digo, a não ser que gostei demais.
(Mais um texto a ser selecionado!)
Um abraço fraterno.
bom dia, legível,
acabo de ver uma cópia do meu comentário de ontem no blog da querida amiga vanda
como sabes, quando te disse "é hoje, lindo ;)" foi para que soubesses que decidi ontem publicar um comentário teu no meu post
lamento as restantes interpretações e é só por ti e pelo carinho que te nutro que aqui explico isto
um grande beijinho
e bem hajas
sempre
alice
Estamos a organizar um jantar de homenagem ao Fernando Bizarro no dia 24 de Junho, como sou um grande nabo, estou à espera que ponham o anúncio no meu blog, entretando estou a receber as inscrições nos comentários do meu blog com a indicação do numero de participantes.
Um abraço. Augusto
ha viagens que nunca deviamos ter feito.mas já estão...e agora andar para a frente.1bjo
Engraçado...ainda não tinha cá passado, e acabei de colocar um post sobre o meu equipamento dicotómico...ora queremos que doa ora até já não...bxo de extremos que até...algures...em algum momento...se tocam e complementam um ser...
a estes eu sou apenas capaz de dizer: "gostei muito e deixo-te um abraço com carinho!"
Que poderemos nós fazer?
um beijinho
Van
sim ___________ ela virou-se devarinho e pediu-lhe um lenço de papel. Surpreendido, primeiro procurou na algibeira de trás dos jeans; depois, não os encontrando ali, abriu a mochila e saltaram as laranjas e as sandes que levava para a refeição do meio dia.
sim_________ ela riu-se e o lenço era cada vez mais urgente! riram-se os dois
sim___________salvou-a, a senhora idosa que viajava ao lado dele, que prontamente esticou o pacote, pondo à disposição para que o utilizasse
sim___________ tirou um delicadamente e sorrindo para os dois disse: obrigada, que grande alergia me atacou esta manhã, é dos fenos! há demasiado polén, nesta ilha! fungou com força, pediu licença e saiu apressadamente na paragem seguinte
Para sea:
Prontos; então não digas. Fica para uma próxima ocasião que eeu espero pacientemente.
Para fortunata godinho:
... e o Alberto Oliveira e o Legível, são uma e a mesma pessoa.
Para vodka e valium 10:
Ambas as duas.
Mas tens razão; não seria agradável vir aqui assistir à repartição do espólio de alguém por quem já estava dividido...
Para anirac:
Para ti também... embora já estejamos a meio da dita cuja...
Beijo.
Para canela e jardim:
Agradecimentos e sorrisos de boa-disposição.
Beijinho.
Para licinia quitério:
É a verdade nua & crua. Gosto imenso de escrever. Mas a interacção (possível) que se gera depois de editar um post é o que mais gozo me dá. Claro que não acontece sempre, mas as vezes que sim, é gratificante. É sinal que também há gente do outro lado... .
Abraço.
Para augustom:
É uma leitura possível. Se um texto se abrir a outros espaços e discursos é sinal que
o leitor não se confina à mera atitude de leitor.
Abraço.
Para joana:
Porque a vida está assim organizada. Mas podes crer que há quem a fure. A esses, tiraria o chapéu... se o usasse.
Para vanda baltazar:
Somos muito complexos. A maioria das vezes, sem qualquer necessidade de o ser... E algumas complexidades em vez de nos libertar, ainda nos enredam mais e tornam siuações normalíssimas, em situações deveras... complexas.
Beijo... descomplexado. (risos)
Para manhã:
Thanks.
Para sofia:
Pois não; mas ninguém pode adivinhar o que o futuro nos reserva...
(isto ainda acaba numa sessão de fados... )
... mas não é todos os dias que aparecem senhoras a chorar nos transportes colectivos...
Beijo.
Para pilantra:
Parvoíces?! Não sei é como adivinhaste...
... que na t´shirt que ela vestia, lia-se tara perdida.
Para jorgesteves:
Pois. Para não sermos tentados a fazer divisões matemáticamente impossíveis...
Obrigado.
Abraço.
Para vanda baltazar:
Já está mais fresquinho!
beijos.
Para rui:
... nem lua, nem noite, nem manhã; a mulher que chorava, nunca estivera naquele autocarro. O motorista muito menos. A viagem tinha sido cancelada. O autor do texto ainda não tinha nascido. O blog era uma invenção de um maluco qualquer que se chamava a ele próprio Deodato Dardanelos...
50.º comentário
o menino está legível?
é que não consigo ver nada!!!
deve ser miopia "ambivalente"
tudo bem contigo, amigo?
beijinho, jinho
alice
Para a.:
... e tantos equívocos que para aí se fabricam e resultam em desencontros.
Mas connosco, nunca! E como poderia ser, se trabalho afincadamente no teu retrato?!
A propósito: o fundo já está resolvido (e pintado) no tal azul que tínhamos combinado. Embora suspeito, afirmo-te que está um espanto! O retrato própriamente dito é que... é coisa demorada. Mas já está esboçado...
Abraço azulíssimo.
Para alice:
Eu vi! Eu li! E estava tão bem acompanhado e bem-disposto; aos pés da menina-poeta!
Até me imaginei um gato, vê lá tu!
Beijos muitos, linda.
Para musqueteira:
Viva Musqueteira!
Palavras certeiras e experimentadas, cara amiga.
Malvado Dédalo, que arquitectando o labirinto bem serrazinou a vida ao Minotauro até Teseu o matar... e isso dói.
Para amok_she:
São demasiadas questões para tão pouco tempo... disponível.
... à última então (que sei eu?...) só tu poderás responder.
Para jpd:
Caro José:
Lisboa é pequena enh?!
Abração.
Para maria p.:
Sempre simpática Maria. Obrigado.
Para lélé:
... na verdade não estás nada bem. O teu aspecto leva-me a concluir que estás sã que nem um pero* daí que precises de fazer uns exames mais detalhados e repouso absoluto. Podes correr a maratona mas não te levantes da cama a não ser acompanhada. À noite podes sair sem problemas, dançar e beber umas margarittas.
A consulta são cento e cinquenta euros.
*Neste caso, uma pera.
Para inbluesy:
Se a mulher que estava sentada à minha frente soubesse que a tinha apanhado na fotografia, lhe chamei olhos aos ombros e escrevi este post melodramático...
Um também para ti
Há quem diga que tenho alguma. Eu duvido um pedaço; sou muito crítico de mim mesmo e isto aqui é uma mera diversão interessante; apenas isso. Há outros locais (reais) onde me aplico à séria...
Para poca:
Não estragas nada Poca. O espaço também é teu...
Beijinho.
Para mendes ferreira:
... com muitas dúvidas, bastas vezes. Que os tempos nunca foram de certezas absolutas. Dividido... ná. São muitos anos a virar frangos como se diz popularmente.
beijos.
Para batista filho:
Revelas-te um leitor atento da blogsfera em geral (pelos comments que assinas em diversos blogs) e do meu em particular. Agradeço as tuas visitas, pela simpatia que demonstras e pelos desenhos que fazes dos meus posts.
Um abraço fraterno em direcção a esse lado do Atlântico.
a continuares assim, não vou ter grande coisa para dizer... também era dia mau... confesso...
Para alice:
Alice:
Está tudo bem. Agradeço os teus cuidados, mas não percas tempo na tentativa (louvável e amiga) de explicar que não tens nada a ver com algumas situações (pontuais) criadas por gente que procura protagonismo?! da pior maneira possível. A minha conduta em relação a essas pessoas é apenas uma: apagar os comentários desse género que são facilmente reconhecidos. Replicar, é dar importância e oportunidade de voltarem à carga.
Beijinhos.
Para augustom:
Infelizmente não me vai ser possível estar presente nesse acto. Desejo sinceramente que o mesmo decorra condignamente.
Abraço.
Para as velas ardem até ao fim:
Não convém sair a meio de uma viagem, claro...
bjs.
Para phi@:
As coincidências virtuais tocam-se quando menos se espera. No real também é assim, não é verdade?
beijos.
Para seila:
Fico muito satisfeito quando te agradam os meus posts. Não exactamente pelo que escrevi; mas porque penso que estás bem.
Abraço.
Para ana maria:
"Pedidos de desculpa pela intromissão" não são aceites neste lugar. Ele é teu e de todos que aqui quiserem vir... sem intenções menos claras.
Bem-vinda!
Para vanda baltazar:
Podemos sorrir; que é uma das melhores armas que conheço e não necessita de licença de porte...
beijos.
Para segurademim:
Ficaram a olhar para senhora idosa a afastar-se; ela de lenço na mão (sem o acenar num adeus previsto) ele, bem-disposto e dividido como de costume. Deram o braço e foram também à vida, que é como quem diz, deram corda aos sapatos do blog para fora...
Agora li o comment e vejo que não faz sentido...
Com o "a continuares assim", queria dizer... a escreveres assim e que, no dia em que li o post, era dia mau para conseguir comentar algo.
sorry...
Para alice:
72º comentário. Já estou legível...
beijos.
Para sea:
Ele há dias assim; em que não se pode sair à rua de manhã, passear à tarde e regressar à noite...
74.º comentário
a
d
o
r
o
t
e
Há inúmeras viagens nas quais embarcamos contra a nossa voz interior, seja na forma do bom senso, seja na das emoções... E dói. Muito.
Olá,rapaz d'ouryo.:)
Esta cena do teu Livro de Ocorrências, contada de forma lírico-descritiva, em duas metades, conheço-a também. Já estive no papel da mulher sentada e no do homem que se divide.
O choro imprevisto de alguém, com quem nos cruzamos no anonimato das ruas, dói tanto quanto se esquece depressa. Mas uma coisa é certa: perante ele, o cliente do hotel não precisaria de dicionário, mesmo que estivesse na Polónia.:)
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