DESPORTOS URBANOS I
As pessoas apressadas passavam e nem desviavam o olhar, surpreendidas pela cena de violência que se desenrolava nas suas barbas ou -em última instância, procurando intervir, separando os dois contendores e evitando um banho de sangue. E percebia-se porquê; àquela hora, coisas mais importantes haviam para tratar. O pequeno-almoço, que raramente o tempo disponível permitia tomar em casa e que seria substituido a correr por um café e um salgado e a chegada a horas ao emprego feita quase sempre no limite. Depois, já libertas da pressão destas prioridades, punha-se em dia a jornada europeia de futebol, as telenovelas da três e da quatro, o filme na grande superfície ou o caso mateus.
Ele foi o único que susteve a marcha -o que lha valeu alguns encontrões e impropérios da massa humana em andamento que não gostou de sentir um grão na engrenagem e ali ficou especado e incrédulo perante o bárbaro espectáculo. Depois, já refeito do choque inicial , estendeu um braço na direcção do monstro armado de enorme cacete que se preparava para dar o golpe de misericórdia no adversário, que caido por terra e já desarmado da navalha de ponta-e-mola implorava perdão. Lembra-se apenas de ter sentido uma dor inexplicável no ombro e de acordar no hospital. Sem ter provado o sabor do café, do salgado e de não ter aparecido no emprego. Ele há manhãs que não se pode sair de casa tarde, porque apenas se reflecte no assunto à noite...
Viena, 2006. Texto e foto de : Alberto Oliveira.
26 Comments:
"um grão na engrenagem...": óptimo!:)
beijos
Bom dia Leg :))
Boooooommm :)) ler-te foi um festival de sorrisos e risos, ir contigo pela europa fora :)) deve ser giro, deve, a folhas tantas ainda tentas apanhar o eléctrico para a Graça ;))
Gostei muito e conforme tu previas, também gostei muito da Tunisia, dos sorrisos doces deles, do seu bem receber, da pequena amostra de deserto a que tive direito ( e como eu queria mais e mais e mais) de Matmata, de Tozeur, das muralhas de Hammamet, daqueles entardeceres, daqueles amanheceres :)) só conheço uma forma de o dizer: quero lá voltar com mais tempo e perder-me por lá, até que um camelo qualquer, ao virar da esquina me encontre e corra a telefonar ao consulado, a dizer do meu paradeiro :))
Tinhas razão :))
um beijo (ainda) sorridente,
Van
Só com a fotografia dei uma gargalhada!!!!!!
Depois o texto!!!!!! ahahahahahaaha
Ah! Legível!!! Fazes os meus dias felizes!!!!
(tadinho, nem o café? aqui tive realment pena, eu, a viciada em café....)
Nem com a poça de sangue que havia no chão a população passou????
Uma Ave incrédula com tamanha indiferença
ainda falam eles dos toiros de morte c tao grave figura ja ai ao virar da esquina! sou solidaria com todo e qq grupo q queira organizar manifestação em roda de tal peça e gritar não à violência! ;)
fizeste-me lembrar um verso genial do vinicius de moraes: "de manhã tardo, de tarde anoiteço, à noite ardo e depois amanheço"
a citação não estará perfeita, mas a intenção é dar-te um abraço e desejar-te bom fim de semana
beijinho grande
alice
Quer dizer, o mauzão lá do alto correu tudo à cacetada!Provavelmente não gostou do paparazzi a fotografar cenas de brigas privadas e nem esteve para chamar a polícia como fazem os outros famosos. Resolveu o assunto com as armas que tinha.:)
Legível os seus textos são esplêndidos de ironia e graça. Imprescíndiveis.
Desta vez saí detrás do reposteiro para deixar este bilhete e assegurar que das outras vezes que cá vim, nunca me servi nem do martini, nem dos salgados.:))
Um bom fim-de-semana.
Passa a sair à noite... :)=
Bom texto.
A parte de "Sem ter provado o sabor do café" é muito triste!... :)))
a fotografia e o texto (e têm de ser os dois em simultâneo) são uma representação quase perfeita (porque só deus é perfeito e esse só deus sabe onde pára) de uma segunda-feira...
Bem poderia fazer uma ligação do teu post anterior e este. Que fui perseguido por dois gajos com dois cães mas não conseguiram apanhar-me. era bem tarde, era de noite e depois da correria refugiei-me num café, e acabei por vomitar o jantar.
por isso sair cedo ou sair tarde tanto faz, o que importa é sair sem receio
ele tem dias, que pequenos textos dizem muito.
Pena é que nem à tarde, nem de noite, nem de manhã novamente, vezes demasiadamente repetidas ninguém dê conta, do repeat, ds pedras.
'apressadas passavam e nem desviavam o olhar'
um beijo por esta.
e ouvi dizer que os pasteis de nata foram roubados.
mas tu és muito encherido! e depois queixas-te! olha eu não tenho pena nenhuma que é bom que vás aprendendo a deixar cada um viver em paz (!!) e isto digo eu, porque se fora eu mesma a escrever aqui diria que olha lá quem ele é o gajo fez foi essa cena para faltar ao emprego e ainda mais inventando uma história que nem lembra às criancinhas. Ora valha-me deus que ideia a tua de animares estátuas! e é de família!
mas pronto lá te vou desejando melhoras do braço(foi?) (da cabeça é desnecessário!)
Caro Legível
Não consigo vislumbrar o lugar exacto destas estátuas em Viena, o que é natural já que esta cidade nos presenteia, a cada passo e olhar, com recantos encantadores.
Gostei especialmente desta sua história. Os grãos na engrenagem que atrofiam a nossa vidinha quotidiana, stressante e vazia chegando ao ponto de "passamos a ferro", com o maior desplante, qualquer "graozito" que se nos depare.
Por isso...sairmos, de quando em vez, desta "engrenagem alienada" (como lhe chamaria Kafka),apesar das eventuais ou quase certas "nódoas negras", é um acto que humaniza o ser humano.
Tenha um bom fim de semana :)
Divino...sempre:))
Bom fim de semana.
p.s. é melhor não dar mais café à Caturra...
A indifrença que, na casa dos vinte anos, vi em Paris e pensei nunca chegar à minha terra de gentes boas, chegou.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe,
Acabará a indiferença a tempo de eu a ver partir?
Muito bem escrito.
:)
(não ligues ao comentário da Maria P. e dá cá o café)
Afinal tens um cão! Maior que o meu? Nada difícil e menos é que seja mais valente. O meu não sabe distinguir coisas como ataca! com a bife!. Em ambos os casos, abana a cauda em alegre expectativa, coloca um ar doce e se não houver reacção imediata, salta para cima a pedir festas.
por isso, na realidade não tenho um cão. Tenho algo semelhante a um cão mas não é. como diria o meu filho, ainda não leu o dicionário para saber o que está lá escrito sobre o que é ser cão.
Como só tem dois anos, temos esperança que um dia (quem sabe, numa outra encarnação) aprenda. Até lá estamos a pensar em arranjar um cão verdadeiro para defender este!
percebi!!!! o desporto urbano mais praticado por ti é fotografar cenas eventualmente chocantes no teu caminho casa-trabalho...
sonhando levar uma boa cacetada e ir parar ao posto médico
esforça-te bastante, com sorte talvez segunda feira consigas um desses emocionantes desvios
;))))
Tu gostavas de morar numa casa que contratou como segurança aquele energúmeno? Claro que as cenas de pancadaria ali são mais que muitas. E tu achas que já alguém para para olhar? E então àquela hora da manhã em que nos chamam os deveres que tão bem enunciaste. Só um pató que julga que está cá para defender os humilhados e ofendidos. Foi pr'ó hospital, claro. E não ter ido de cana...
Uma cacetada com esse "Pau" de pedra deve doer.
Será que foi a mitologia que saltou da pedra para te atormentar? ou simplesmente alucinações de quem anda em jejum sem salgado e sem doce?
foi falta de café e vingou-se na estátua! boa tarde
Olá Legivel...
Gostei de ler o texto, mas o titulo...fascinou-me!
Desportos urbanos é sem dúvida um titulo de mestre...ou talvez a legenda ideal para a foto, já por si mesma...um grande texto sem palavras!!!!!
Deixo-te um beijinho ao som de um mágico concerto de cigarras...
o que uma pessoa inventa..para não ir trabalhar.. ;)
A vítima, na minha perspectiva, foi várias vezes esmagado: pela desproporção do agressor e do fulgurante instrmento, pela insignifância da defesa, pela impunência do hematoma, presumo eu.
Concluo, portanto, estarmos na presença, não de uma choque pas na de uma turbilhão (a ausência da vítima é óbvia!)
Um grande abraço
(O relato do teu Grand Tour tem sido extraordinário.)
Há uma música na minha terra que diz o seguinte:
"Há certos dias que nem de manhã nem de tarde se pode sair à noite... está tudo mais marado que um chalavar de caranguejos mó!!"
pois... as lutas travadas e os cafés derramados...
nunca ouviu dizerque a cafeína e o sal fazem mal à saúde?
Ah pois é....
:)
Beijos
Os teus textos são sempre hilariantes!
bjs
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