O CANDIDATO AUTÁRQUICO
Era um modesto empregado bancário de quase quarenta anos e tinha a perfeita noção que na carreira profissional nem a gerente chegaria, daquela quase anónima filial para onde o tinham desterrado há muito.
Mas no partido, o percurso estava a ser fulgurante. Se apenas há meia-dúzia de anos se tinha oferecido para colar uns cartazes por altura de umas eleições legislativas, ei-lo, na actualidade, a dirigir uma reunião regional com a maior das naturalidades. Tinha boa presença, era fluente e o seu entusiasmo contagiante; porque fazia fé nas teses partidárias e nos seus dirigentes máximos. E isso era suficiente para o fazer esquecer das suas limitações em áreas do conhecimento e das competências.
As cúpulas já o tinham sondado antes. Mas com a aproximação das autárquicas a questão colocava-se de facto; ele era o homem certo para liderar a lista do partido naquela cidade. Nesse momento, as suas convicções sentiram-se ligeiramente abaladas. Embora contrariasse a política do partido oponente que detinha a gestão camarária -porque na política as coisas são mesmo assim... , a verdade é que ele próprio se sentia bem naquela cidade e que nada de essencial ou estruturante precisava de ser mudado ou... prometido; que são duas coisas totalmente diversas. Pela primeira vez (em matéria da sua actividade política... ) aconselhou-se com a sua mulher. E ela foi peremptória. «Querido, não hesites. Vai em frente, que tu tens cabeça até para cometimentos mais altos. Diria mais; tens uma grande cabeça!»
Veneza, 2006. Foto e texto de: Alberto Oliveira.
Clicar sobre a imagem para ver o... essencial.
28 Comments:
:D
quem fala do que sabe não diz asneira, comentaria eu a quem deu o conselho.
gostei, claro.
como na política, tinha a tal cabeça, não implicasse que a usasse!
Gostei!!!
Tudo isso porque o senhor se chama GLAND. Gente culta... Aqui ninguém daria por isso. Só os marranitos no montado. E esses na votam.
muito fixe!!! Sim senhor..Monsieur Gland à presidência..eu voto!!! ;)
És um malvado, Alberto Albertto!!!
Mas está do melhor.
Fina ironia, certeira.
Mas o que fará um partido, desgostar do seu candidato? È mesmo falta de obra? Ou é obra a mais?
(vim trazer um pacotinho de lenços de papel para as eventualidas....)
ah... e cobrar a dívida generosa
Caro Legível
Hoje só passei para lhe desejar uma boa noite. Volto amanhã para ler as suas histórias.
E agora diz-me tu Alberto: é verdade ou não que quem «GLANDE» SEMPRE ALCANÇARÁ?!
Acho divinal este texto.
Quanto a Veneza, voltaria lá mais duas ve(ne)z(a)es, as que desejasse!
Um abraço
E o essencial na imagem diz tudo!
Beijo-nesta-noite-fresca:)
mais um momento humoristico com cabeça. Belos passeios por itália
______e quando voltar volto a ler.
e quando voltar candidato-me à ternura.
_________
:)
have fun.
(obrigada pela companhia)
beijos.
glande hoemem que tu és para inventares estas coisas. glande mesmo glandíssimo!
Coitado do Monsieur Gland. Já de bengala e ainda no activo. É o que faz a política, sobe à cabeça e depois desce pelas ruas da amargura. Bom dia:)
querido legível,
estás autorizado a esticar-te em qualquer um dos meus posts ;)
do teu, depois do que já foi dito, e do que gostei ao ler, resta-me a vénia como melhor cumprimento
um beijinho daqueles
alice
... e quem disse que estamos no reino do conhecimento? as coisas são mesmo assim! na era dos candidatos empáticos
;)
Atravessou a Praça de S. Marcos em passo estugado. Diante da Catedral do mesmo nome, parou. Hesitava sempre nestas ocasiões.
Uma gota pingou-lhe da testa quando percebeu o olhar equino sobre si. Era mau sinal. Pressentiu que não conseguiria aguentar muito tempo. Recuou para o Doges. Um arrepio percorreu-lhe o corpo quando virou a cabeça na direcção do mar.
Aqua Alta. Receio. Não podia meter água.
Decidiu-se. Vestiu a gabardine e passou a grande porta.
Ali é que estava bem, diante da Pala d'Oro.
Caro Legível
Andei por aqui a ler as suas últimas histórias e confesso que em todas elas um sorriso ou mesmo uma gargalhada se soltaram inesperadamente.
Imagine que depois de ler esta história (que é igualmente magnífica) cliquei na imagem e ao ver o bicho verde lembrei-me do pinguim do Batman em pleno exercício da "actividade política" :)
Tenha uma boa noite
E a esposa estava a encorajá-lo a usar a cabeça para outros voos???
Mt compreensiva, a senhora, n? ;)
Um abraço.
Ó pá, tu não me digas que vão haver eleições!... :)
...para bater com ela... :D
um beijo
Vim ler-te, e mais uma vez gostei!!!
Agradeço-te o texto que me deixaste "debaixo da porta". Sem dúvida, muito bonito!!!!É verdade, há meses assim! Especiais!
Ficam alguns Beijinhos Mágicos entre as palavras!
ainda não foram???
Pois, é sempre o mesmo. Promessas, Sr. Legível! Chegou cheio de força, 3 post e cansou.
(eu sabia! eu sabia!)
Que isto de candidaturas tem de ter sempre um grupo de conspiradores ou inspiradores... depende da perspectiva!
:)
Obrigada por me mostrares Veneza! Já tinha saudades.
Acho que devemos ter feito um percurso muito parecido... quando eu fui à Hungria passei por uma serie de sitios por onde tu também passaste e Veneza foi um deles.
Veneza é a cidade para onde vou viver os meus últimos dias, porque tudo nela me inspira eternidade.
bjs
ah ah... bom dia:)
Na mouche! Ou deveria dizer , na glande?
E não sei se com conhecimento de causa ou não, esta tua cúpula de gozo é ilustrada por um panorama de uma das cidades mais burocráticas e corruptas de Itália, ao contrário do que muita gente pensa, que pensa que o "mal italiano" está todo para sul.
Divertidíssimo, com um "grand finale" rotundo e orgástico.:)
Fora o "essencial", devo dizer que encantei-me com a arquitetura.
E numa única foto, você conseguiu um misto de humor e beleza.
Beijos!
:))))
Mais um que anda a dormir com a ironia...humm...
Post a Comment
<< Home