MATINAL
Hoje acordei ao som da campainha da porta. Estremunhado, consegui com muita dificuldade situar os ponteiros do despertador; oito horas!! Por Minerva! Quem e a tão matinal e privada hora, teve o despudor de primir a tecla de acorde mais infernal?! Num momento, mil situações me passaram pela mente. Qual delas a mais dramática, que português que se preza imagina sempre o pior; um familiar hospitalizado, a mulher de um amigo a comunicar uma "triste notícia", a sogra a informar da necessidade de se mudar de armas e bagagens para o "nosso ninho" por via de uma reparação urgente da canalização, enfim , um cortejo interminavel de desgraças possíveis e previsíveis. Se por acaso, de um simples engano no andar pretendido, se tratar, já temos pretexto para convidar uns amigos mais íntimos para beber uns copos e celebrar o "que nada de grave nos aconteceu".
Enervado, abanei suavemente a minha-mais-que-tudo que dormia a sono solto e de olhos bem abertos que é uma coisa que me dana porque nunca sei quando dorme à séria ou me goza à valentona e num tom o menos alarmante possível lhe pedi «Querida: tocou a campainha. Não te importas de ir saber quem é, porque com a perna neste estado, vestir o roupão e procurar as canadianas, só chego à porta daqui a meia hora». Olhou para mim espantada e não se riu; sinal que estava mesmo a dormir. Levantou-se e dirigiu-se para a cozinha. «Querida! Não estão a tocar à cozinha; estão a tocar à porta da rua!», preveni antes que se metesse na casa de banho e fosse tomar um duche.
Passados uns cinco minutos voltou ao quarto e anunciou satisfeita: «É o Gustavo, o filho da porteira que pede delicadamente, se não te importas que te faça o desenho de um dragão no gesso da tua perna, antes de ir para a praia. Garante que assina o nome dele logo a seguir à sigla FCP...».
Enervado, abanei suavemente a minha-mais-que-tudo que dormia a sono solto e de olhos bem abertos que é uma coisa que me dana porque nunca sei quando dorme à séria ou me goza à valentona e num tom o menos alarmante possível lhe pedi «Querida: tocou a campainha. Não te importas de ir saber quem é, porque com a perna neste estado, vestir o roupão e procurar as canadianas, só chego à porta daqui a meia hora». Olhou para mim espantada e não se riu; sinal que estava mesmo a dormir. Levantou-se e dirigiu-se para a cozinha. «Querida! Não estão a tocar à cozinha; estão a tocar à porta da rua!», preveni antes que se metesse na casa de banho e fosse tomar um duche.
Passados uns cinco minutos voltou ao quarto e anunciou satisfeita: «É o Gustavo, o filho da porteira que pede delicadamente, se não te importas que te faça o desenho de um dragão no gesso da tua perna, antes de ir para a praia. Garante que assina o nome dele logo a seguir à sigla FCP...».
Uma núvem muito cinzenta toldou-me a visão e por segundos não consegui atirar cá para fora o que me ia na alma. Foi a sorte do puto. E a minha, que mantenho impoluto do português mais vernáculo, este espaço de estórias da minha história.
13 Comments:
hilariante!
Por acaso ja reparaste q quando sofremos verdadeiramente, é por causa das pessoas em quem nós confiamos mais?
No entanto, continuo a achar que a confiança é um dos sentimentos mais belos, disso não tenho dúvidas.
beijo :)
Realmente ser acordado às oita da madrugada, com o pedido de fazer o desenho de um Dragão no gesso, não lembra ao Diabo mas lembra a qualquer puto.
Um abraço e já agora um rápido restabelecimento.
Tenho um primo que, em jeito de saudação para os amigos, muitas vezes usava uma pergunta que se aplica aqui, literalmente, se me permites a confiança:
"Então? Estás melhor da perna?" :o)
Não está certo acordares a tua-mais-que-tudo num momento em que ela dormia a sono solto, bem podias respeitar os olhos abertos dela.
Já agora, faz uma ligação da porta à cama com uma corda, para amanhã poderes abrir tu ... não te esqueças que o dragão toca sempre duas vezes!!!
Para Rita:
Também me ri a escrever...
O que é "natural" pois criamos altas expectativas nessas mesmas pessoas.
E estás certa; a desconfiaça, torna-nos azedos e "bichos-do-mato".
Beijos.
Para Armando Esse:
Os putos são demais para "furar as normas" dos adultos.
Obrigado e um
abraço.
Para In finito:
É verdade que as minhas simpatias vão para o Olivais e Moscavide, mas isso não tem a ver com a ideia do puto; "um dragão a cuspir fogo" no gesso da minha perna?!
Com a perna partida, só posso estar de baixa...e logo nesta altura do Verão...
Para Pp:
Estás á vontade para tecer considerações "à volta da minha perna"...
"Estou melhor da perna", estou. Obrigado.
Para Segurademim:
Essa da "ligação da porta à cama com uma...corda" desmascarou-te: deves ser engenheira. Só podes!
Os CTT devem querer pôr os cabelos em pé à clientela; dragões a distribuirem correspondência?!
Excelêntissimo caro Legível, gostaria de agradecer o comentário ao "Tabaco roubado de comboios da CP" e isto já tem só a ver comigo dizer que o teu site está ESPECTACULAR. Continue assim e esteja à vontade para aparecer no nosso Blog: http://cresceiemultiplicaivos.blogspot.com/
Um Abraço
Para Luigi:
"Isto também só tem a ver comigo", que ás vezes a "minha-mais-que-tudo" quer dar-me uns palpites para eu escrever aqui, mas eu faço-me de desentendido. O teu/vosso sítio também tem humor que chegue para eu lá ir quando estiver triste como uma vaca-azul-em-dia-de-tempestade.
Opá...eu sei que este comentário não tem valor algum mas só consigo dizer:
Looooooooooooooooooooooooool :D
Para Mood:
Tem pois, pá!!
Beijinho.
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