QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
«Tu achas bem o que fizeram ao Manuel Alegre?» perguntou-me sem aviso prévio o Silvino e num tom de voz agastado e uns decibeis acima do seu registo habitual. Apanhado de surpresa (tinha havido um longo hiato na conversa avulsa e calma que mantínhamos na esplanada "salsas ondas" da praia de Carcavelos...), o bordo do copo da imperial que levava à boca, bateu-me num dente que só não se partiu por acaso, por via do movimento inopinado que a mão descreveu, comandada pela mente que na altura se encontrava ocupada com a pauta musical das ondas que lambiam a areia para logo a seguir partirem pelo mesmo caminho que tinham vindo. Quase ia jurar que até o caniche-branco-sujo que a volumosa matrona de fato de banho escarlate estreitava ao peito -e que ocupava a mesa ao lado da nossa, levantou a orelhas em sinal de protesto por lhe terem interrompido o sono. Na vetusta-senhora-dona-do-dito, não vislumbrei qualquer sinal de mau-estar, quiçá por ter interpretado que tal figura citada, bem podia ser colega de repartição do meu amigo Silvino...
«Sim, porque o homem não merecia aquilo; disponibilizou-se para a candidatura e depois apareceu-lhe o outro!», voltou à carga o meu interlocutor. As ondas continuavam a ir e vir em acordes sinfónicos só cortados pelos mergulhos dos banhistas encalorados e um sujeito vestido "à civil" de branco, surgiu numa ponta do areal junto à água a apregoar alto e bom som "Ólháááá língua da sograaaa!" . Um casal jovem, enrolava-se literalmente nas toalhas beijando-se deseperadamente enquanto dois nadadores salvadores observavam um grupo multicor de biquinis e o seu conteúdo, que teimava em tardar a entrada na água desafiadora.
«Este é bem o retrato da política que se faz nos dias de hoje! Se fosse a ele, candidatava-me na mesma, só para não me fazerem de parvo!, não achas?!» inquiriu-me uma vez mais, face ao meu silêncio. «Talvez tenhas razão Silvino; mas tu já reparaste bem para este magnífico dia de verão em que estamos envolvidos? E a cor da água; azul-sem-fim, ahn?! E as pessoas bonitas que por aqui se passeiam? E a cerveja generosa e gelada que bebemos?. Mas tu estás a falar de Portugal ou de Carcavelos?!»
12 Comments:
Mais parece que o teu amigo falava de um país da América do Sul...
É por isso que o chocolate quente me assenta tão bem...ai e quanto mais quente melhor realmente!!! Com cenários aprazíveis as pessoas deveriam ser proibidas de falar e obrigadas a saborearos bons momentos!!! bxox
Carcavelos, pois estive lá há muito pouco tempo. Cerveja, claro! Gelada? Também. A fauna da praia ou o Manuel Alegre? Definitivamente a fauna da praia.
gostei do pormenor das ondas e adoro línguas de sogras. lol bj*
escreves mesmo bem...apeteceu-me elogiar :)
Para Maria Papoila:
Não confirmo nem desminto; que o meu amigo não é "uma pessoa comum"...
Para Fia@:
Pessoalmente, defendo a liberdade de expressão "em cenários aprazíveis" ou noutros; e o chocolate quente, também.
Beijos de boas férias!
Para Manhã:
Em termos de preferências, a fauna da praia "tem dias";
o M.Alegre, tem os anos suficientes para já ter dado lugar "aos mais novos";
a cerveja gelada, sempre!!
Para Rita:
As ondas são o cenário ideal de qualquer praia que se preze.
Eu também! Só espero que a minha sogra "não passe por aqui" e fique a imaginar coisas...
Beijos.
Para Gata:
Obrigado, felina; espero que a opinião não se modifique. Detesto arranhadelas...
Nada melhor que um cenário de veraneio para sentir o pulso ao estado da nação!
Eu se fosse ao "Happy Manecas" candidatava-me, atão: o Durão pode emigrar, o santana pode... o que lhe apetecer, e porque é que o nosso poeta não pode??...
Eu gosto mais de Bolacha Americana! ih ih ih :P
beijinhos!
Para Joana:
Deixa lá que quando encontrar o "Manecas" digo-lhe que pode contar com mais uma apoiante.
A "bolacha americana" não é mais antiga que a "lingua da sogra"?
Beijinhos.
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