Saturday, November 20, 2010

O NETO DO CÃO QUE DAVA À LÍNGUA












Bateu-me à porta e quis saber se eu lhe podia dar notícias do avô de quem tinha perdido o faro sendo que a última vez que lhe pôs a vista em cima tinha sido em Portimão numa animada coscuvelhice canina. Teve azar porque detesto animais alcoviteiros e as suas histórias passam-me ao lado. Mas porque é deprimente ver partir um cachorro de língua a abanar, dei-lhe uns ossos -- restos mortais de um frango de caril, e partiu sem me fazer mais perguntas e a lamber-se. Ciumento, Ramazzotti o meu papagaio baiano, ladrou duas vezes agitando as penas verdes de raiva. Era sinal que estava na hora de o levar à rua pela trela. Após dez voltas ao poste sinalizador da passadeira de peões falou com aquela desprezível voz de cana rachada «Passou-me a vontade, moço. Valeu um cafezinho no Starbucks ali da esquina?». Numa mesa bem longe da entrada, o neto do cão que dava à língua, fazia olhos de carneiro mal morto a Nancy Meneses uma gata madeirense, expulsa da Casa dos Segredos por miar demasiado e que trazia no rabo as marcas da polícia de intervenção que a tomou por uma manifestante anti-nato na avenida da Liberdade. Trombudo, atendeu-nos Bumbar Bué, um paquiderme africano refugiado e cansado de fugir aos que lhe queriam deitar mãos às presas «Além dos cafés o que vão querer mais?». Olhei para Ramazzotti , ele olhou para mim e respondemos a uma voz «Acabar esta história.»

2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.