Monday, September 13, 2010

OS CAVALOS A CORRER, AS MENINAS...












Onde diabo meteram os cavalos na carripana? perguntou esbodegado Ismael Serôdio a um fantasioso interlocutor? Dia aziago este em que se tinha aventurado a fazer negócio com gente que nunca tinha visto mais gorda que lhe tinha prometido um número exagerado (ou teria ouvido mal?) de equídeos na compra da viatura e agora depois de tanto procurar nem um para amostra. Na escola em frente as raparigas em coro
Os cavalos a correr as meninas a aprender
e ele que nunca mais aprendia a não confiar no primeiro mânfio que lhe surgia pela frente a prometer-lhe mundos e fundos que se estava mesmo a ver não terem cavalos suficientes para percorrrem um míseros cinquenta quilómetros.
qual será a mais bonita que se há-de esconder?
quais cavalos qual quê?! burro, mil vezes burro, isso sim! arrepelava-se Ismael, dando voltas e revoltas aos olhos piscos no interior da viatura. E quanto mais se curvava mais os calções deixavam a descoberto um vertical rasgo carnal. «Ó pai! resguarde-se do sol que está tão forte, ou pelo menos, vista uma t-shirt mais comprida.» benzeu-se Maria do Rosário. «Mas filha, e o raio dos cavalos que não me aparecem?» teimou Ismael. «Ora. Deixe esses cavalos sossegados e vá ter com os outros. Que "... são aqueles que fazem sombra no mar"» aconselhou a jovem. Ele não resistiu mais. Na Caparica, mergulhou os pés na água ainda tépida do Atlântico. Num grupo de nuvens, desenhavam-se na perfeição meia dúzia de cavalos de corrida dos UHF, fazendo sombra aos do ALA. Com a água a cobrir-lhe a cabeça, Ismael Serôdio nunca chegou a saber qual deles lhe deu um valente coice no pescoço. Andou pelo menos cinco meses sem conseguir calçar peúgas.

2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.