Sunday, August 15, 2010

A SERPENTE (A) LADINA
















Este ano tirei-me dos meus cuidados e decidi dividir o período de férias entre Láfora (cosmopolita cidade de veraneio situada entre Ne Nhures e Al Gures) e Cádentro. Da primeira escolha limito-me à referência uma vez que vos sei viajantes de largo currículo externo e mal andaria eu em pretender ensinar a missa ao sacristão... Em abono da verdade, devo confessar que a selecção do segundo local nasceu de um acaso fortuito. Andava eu a vasculhar algumas prateleiras de uma livraria em Lisboa, na procura de um opúsculo sobre a vida social do lamantim, quando dou de caras com um sujeito de uma agência de viagens que em certa ocasião me vendeu umas férias nas Ilhas Pan D´Orcas. Conversa puxa conversa e eis que ele me me diz «você tem de ir a Vilamaninhos!» Pelo nome, imaginei uma coisa mais ou menos sul-americana. Mas ele tirou-me daí o sentido. «Vilamaninhos é uma aldeia na periferia de Cádentro.» Pensei que me estivesse a gozar. «Cá dentro? da livraria?!» Antes que se instalasse a confusão total, pedi um mapa e um café a uma empregada que de tão solícita me trouxe também meia-dose de frango de fricassé «é para entreter o palato durante a viagem.» esclareceu. Apontada a aldeia a dedo, anuí. Cheguei noite escura mas não passei despercebido. A aldeia esperava-me em peso e a pergunta de Manuel Gertrudes não tardou «viu a serpente voadora?». Sosseguei-o «Ontem, contra a Académica, nem a águia Vitória se viu no ar, no momento do costume... ». Uma moça desempoeirada que vim a saber depois chamar-se Carminha Rosa, arrimou-se-me «Esperava-te fardado, mas assim como assim, daqui a pedaço tiras a roupa... » . Avançou logo de seguida Jesuina Palha «É verdade que da próxima vez os militares chegam aqui de submarino?» E foi assim pela noite adentro. E por outras noites afora. Até sair das páginas do livro e regressar ao resto das minhas férias.
2010. Texto, desenho e foto de Alberto Oliveira.