Tuesday, September 21, 2010

PERIGO LATENTE NÃO DESCANSA A GENTE









Era reconhecido pelo exagero tão comum a alguns caçadores e pescadores. Não que se dedicasse a alguma destas lúdicas actividades. Pelo contrário, criticava com a veemência que lhe era própria, os que desatavam aos tiros em todas as direcções assim que abria a época venatória ou quem, não sabendo mais o que fazer, desassossegasse os desgraçados peixes engodados por traiçoeiros iscos. Os seus excessos não tinham demarcação visível, porque na abrangência do quotidiano se situavam . Antes de partir de férias, reuniu amigos e conhecidos dando a saber que desta vez viajaria não apenas para recarregar baterias de um ano de exaustivo labor profissional; iria ao encontro do perigo real, palpável e - quem sabe, mortal. Anunciada assim a coisa, onde não se conseguia distinguir no rosto fechado qualquer indício de teatralidade, conseguiu despertar na audiência-de-pé-atrás, a atenção que desejava. Quando se conseguiu fazer ouvir (depois do primeiro impacto-surpresa as perguntas sarcásticas de mãos dadas com questões hilariantes foram mais que muitas) declarou «Decerto que já tiveram notícia - fosse pelos jornais ou pelo Discovery Channel, daquela região na Europa Central onde os ursos famintos descem às cidades à procura de alimento. Pois bem, vou encontrar-me com eles.». Dito isto, sem mais delongas, partiu. Regressou quinze dias depois, ileso e de boas cores. Reuniu novamente amigos e conhecidos mas antes que usasse da palavra ouviu-se uma voz «Não digas nada; foste lá, fazer figura d´urso!»

2010. Texto e foto de Alberto Oliveira.