Thursday, June 30, 2011

UM NAVIO DENTRO DA CIDADE











De facto não é um navio mas sim um barco, uma vez que, aquilo que a imagem mostra, é uma embarcação de pequeno porte em relação ao primeiro (o NAVIO do título) e assim ficaremos entendidos no que se refere a qualquer dúvida náutica. Embora com a quilha fora do seu elemento natural, este barco de modo algum pretende analogias de qualquer espécie, com "o navio dentro da cidade" de André Kedros que muitos tomam por grego de nascença mas que teve o seu berço na Roménia e aqui é chamado à colação apenas por ter navegado na escrita com um navio sulcando mares citadinos. Este barco (o da foto), foi desenhado, "construido" e pintado no "estaleiro" de uma estreita rua da alfacinha Alfama, distingue-se de qualquer outro: tem bico de albatroz e asas de condor. E se por acaso, alguma alma -- daquelas sempre prontas a contrariar a imaginação do escriba, vier com frases do género "ah como te enganas que esse é o bico de um bico de lacre." ou "quem chama asas a dois espanadores que sacudiram o pó dos mastros e do convés, deve confundir um rolo de papel de fantasia com um rolo de papel higiénico. " A cada um a sua verdade, ou o que os seus olhos mais desejam ver; digo eu que faço questão de ter todos os meus olhos bem assinalados no mapa do meu corpo.



2011. Foto e texto de Alberto Oliveira.

Monday, June 20, 2011

DESENHO À VISTA


Fotografo-te e os meus olhos só têm olhos para o que querem ver. Sem vontade própria, a câmara obedece-lhes cegamente. Não sei quem és nem porque razão te aplicas a fazer correr célere o bico do lápis sobre a folha do bloco de esquissos. Aposto que nunca a Rua do Carmo se sentiu tão despida na vida, quando repetidamente a observas numa perspectiva que é só tua. É assim que a coisa devia funcionar; num circuito aparentemente fechado, esta cena não devia acabar com este texto. A minha câmara bem poderia encontrar (por puro acaso) o teu desenho numa qualquer galeria de arte e iniciarem uma história de amor. Sem fim à vista.


2011. Texto e foto de Alberto Oliveira.


Sunday, June 19, 2011

A DUAS RODAS

Agradeço a gentileza da Isabel P. Duarte (trato-a assim acedendo ao seu pedido de semi-anonimato?!) que descobriu a motorizada, referida no texto anterior a este. Não perdeu tempo esta minha estimada amiga residente em Peniche que, por e-mail,se apressou a enviar-me a foto que reproduzo e informando-me que tem em seu poder TODOS os elementos do condutor do veículo, incluindo as suas predilecções sexuais.Termina, assegurando-me (e neste ponto não me pediu confidencialidade) que fará todos os possíveis para me fazer felizapesar de todas as minhas infelicidades...

2011. Texto e foto de Alberto Oliveira.

Friday, June 17, 2011

O CABARET DA COXA JÁ ERA.









Já merecia. Tantos anos a dar à perna e em reduzidas vestes não é tarefa fácil, argumentem lá o que quiserem. Tal como muita gentinha -- agora a gozar as delícias (?!) da reforma e que apanhou pelos intermédios de uma carreira trabalhosa e contributiva um instrumento demoníaco chamado computador, também a ela se deparou uma nova ferramenta de trabalho que dá pelo nome de varão. Para Amélia Lagarto o acanhado mas familiar cabaret nunca mais foi o mesmo. Passou mesmo por algumas acções de formação, depois de uma primeira apresentação em público não ter corrido da melhor maneira; num redopio mais ousado, as mãos escaparam-se do varão e aterrou no colo dum secretário de estado para as coisas da cultura. Fui encontrá-la em Alfama por altura dos Santos, atracada a um prato de sardinhas com pimentos e festas da cidade. A sua vida profissional dava um livro, garantiu-me com lágrimas nos olhos e a perna marota a dar-que-dar, saudosa.

2011. Texto e foto de Alberto Oliveira.

PS: No caótico trânsito da blogo-esfera, passou por esta via uma moto de grande cilindrada e em velocidade maior. Peço a quem a encontrar o favor de me informar; deu-me cabo da formatação dos textos deste sítio e nem água vai. Foi-se.







Friday, June 03, 2011

É SÓ PAISAGEM










Por vezes surpreendo-me a observar uma paisagem conhecida de há muito, como se fosse pela primeira vez. Quando tal acontece, faço uma foto ao assunto e depois confronto-a com outras fotos da mesma paisagem e feitas em iguais circunstâncias. Claro que, salvo as naturais incidências das estações que originam colorações diversas no solo e nos ares, a paisagem é a mesma de sempre que não sou assim tão velho que a erosão tenha dado a volta à cena, desde a primeira foto até à mais recente. Depois aproveito sábados de reflexão e, na posse de toda esta informação imagética ao longo do meu tempo disponível para as ciências da natureza, termino o processo com a construção de uma paisagem a meu gosto. Daquelas que me dizem ser das que não existem nem nunca existirão e que são fruto da minha mente retorcida. Pois sim, roam-se.




2011. Foto, texto e tríptico (óleo sobre tela) de Alberto Oliveira.